Na pequena vila onde eu moro, frente ao rio quase mar, eu diria que é metade do espaço visível desde a minha janela, esverdeado, a forte corrente, as gaivotas e os velhos que olham de frente, para a cidade grande da outra margem. E fazem gestos como se vissem tágides emersas, saltando atrevidas de onda em onda e lançando bolhas de espuma branca e dócil.
É uma Vila pacata, onde não acontece absolutamente nada e a partir da nove da noite já são raros os passantes ou erradios. Os cafés fecham cerca das dez Depois, é o silêncio. Deitar cedo para cedo erguer E voltar ao mesmo, observar, fazer conjecturas sobre o tempo.
Ao fim de semana, o passeio público de candeeiros SEC. XIX e palmeiras de difícil crescimento, enche-se do alarido das crianças, correndo, de bicicleta, em inconstantes desvarios, por vezes choros, enquanto outros, sossegados em casa, à espera que seja noite.
O relógio toca na igreja, as horas com avé Marias, as meias, as quartas, com badaladas gritantes. E ao meio dia, a sirene apita a anunciar a hora do almoço, como desde sempre, quando havia as fábricas do peixe, hoje em ruínas à espera do comprador ideal, do anúncio de uma ligação mais directa à outra margem, ou que o vento as vá reduzindo a pó e as solidifique para a posteridade.
A tapar a visão sobre a foz, sobre o mar imenso, sobre a outra margem mais à esquerda, Estoril, Cascais, A construção cinzenta, enorme, agigantada pela ganância de lucros elevados, os altaneiro silos de cereais que produzem eco nos ouvidos das pessoas e transpiram poeiras asfixiantes em tempo de ventos de feição direito à vila.
Na Vila onde eu moro, para saber noticias do que se passa, só a televisão, a rádio ou o computador quando ligado à Internet. E ás vezes as noticias falam de acontecimentos que aconteceram na Vila onde eu moro. E ninguém deu por nada.
autor: joão raimundo
1 comentário:
Maravilhosa escrita! Arrebatadora. Luz de Estrelas
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