23/08/2009

N A N Y - Parte II

A minha alma passeou a sua inquietude nos sonhos da noite mal dormida, o corpo dorido, ante o alvor que corria célere e se mostrava na sua evidência de luz a meus olhos povoados de imagens sombrias, a aclarearem-se.
É um encontro de estranhos, de mim em mim, surpreso de me ver cativo duma mulher. Há quanto tempo o meu coração, a mente, o corpo estável, habituado a amar a única mulher que me amou sentidamente. Era assim, mesmo após a morte, sentia-me desligado de um qualquer enlace que se sobrepusesse ao único e grande amor de toda uma vida.
A imagem de Anamar impunha-se-me insistente, toda ela luz, sabores, cheiros, toda ela uma melodia única nos sons da voz, candidamente doce, pegajosa, a imiscuir-se nos poros da pele, a apelar um entendimento subtil.
Avisto o infinito do mar, de onde me encontro sobre a cama, a planta Tropical tombada sobre a parte direita da janela a toda a largura do terraço, com as portas ao meio, de correr. Há uma bruma à flor da água, flocos níveos como fumo de fogueira mal apagada.
O sol ainda por detrás da falésia, apenas o vislumbre dos seus raios uniformes que cortam a neblina, as flores que rejubilam amanhecidas, orvalhadas dos néctares nocturnos.
Foi uma noite de inquietação da alma, sem descanso, a mente febril dilacerando-se entre a memória e a realidade a procurar impor-se como uma evidência, a a afirmação de que o ser é sendo, o que ontem era um principio inabalável, hoje aparece em contornos de dúvidas instaladas porque houve uma emoção nos sentidos.
Visto o calção azul escuro que há muito jazia na gaveta e isso é um sinal que o meu ego se prepara para cultivar a aparência, a camisa de xadrez azul claro sobre fundo branco, os chinelos de cabedal abertos ao joanete sobressaindo dos meus pés que me parecem enormes.
A praia ainda semi deserta, esplanadas fechadas, o sol já sobre a falésia, rutilante de luz, caminho ao longo do paredão na direcção do Norte, à minha esquerda o mar de um azul fascinante, as ondas mansas, pessoas que se passeiam cortando a água com os pés, chapinhando-se e penso inevitavelmente nela, esbelta, os olhos doces sobre o meu corpo, o gesticular das mãos que compõem o explanar do seu ponto de vista.
À minha direita o que resta da mata de acácias, os parques de campismo, será que ela vem? Que impressão lhe terei causado? A suficiente para que se dê ao trabalho de vir de novo, na incógnita do que poderá acontecer, no aprofundar de questões da intimidade que aproximam ou afastam, que inibem ou despoletam emoções.
O meu olhar fixa-se, de súbito na silhueta de mulher sentada sobre a pedra grande , à entrada do esporão, o vestido tipo roupão avermelhado, os óculos escuros, os braços exímios descaídos sobre o corpo e o livro preso na axila do lado esquerdo dela. Sinto toda a harmonia do ser que ela é, ou que se me evidencia como sendo. Aproximo-me , o coração em palpitações de adolescente ante o seu primeiro namoro e penso que é assim sempre que há uma verdade nos sentimentos, um click de sedução consentida, a voz presa na garganta ressequida.
_ Anamar!...
Ela vira-se e deixa-me abismado sobre mim, tirou os óculos e toda a luminosidade dos olhos estavam patentes, como se tivessem estado a chorar, ou uma memória, um sentir que se tivesse soltado de dentro de si e o sorriso, aberto, agradado, agradável.
_João Maria!...
Abraçámo-nos, os seios dela de novo no meu peito, os nossos rostos encostados, tão próximos, perfumes alucinantes vindos dos lábios abertos, apelantes e eu arfante, a sentir o coração dela, a ouvir as batidas aceleradas do meu, tão próximos os lábios carnudos, flores vermelhas humedecidas e afundo-me neles, os meus lábios nos dela, dois toques, frescura e fogo de dentro e embrenho-me e ela embrenha-se, as línguas percorrem-se e ladeiam o interior da boca, as laterais, o céu da boca, salivas entrelaçadas de uma doçura quase extravagante, lábios com lábios, as línguas num devaneio possessivo, os nossos corpos colados, roçando-se, o meu sexo levantado, saltitante e julgo perceber o concavo desenhado do sexo dela sob o vestido, onde o meu sexo se acoita prazenteiro, despudorado, as minhas e as mãos dela percorrendo a costas em movimentos circulares, respiração contida, arfante e contida a espaços. Loucos.
_Perdoa-me!...o teu poder foi mais forte...
Os olhos dela tremelicaram, ainda mal refeita, passando a língua pelos lábios, voluptuosa, trémula a voz, entre sumida e grave, quase patética se vista de um outro angulo.
_Teria de ser um perdão mútuo porque eu também não me contive, foi um impulso...
Demos as mãos e caminhámos no sentido da esplanada. No areal os gritos agudos das crianças soltando as energias acomodadas desde a cidade. Atiram-se areia uns aos outros e chapinham na água que vem beijar-lhes os pés puros de meninos.
_Digo-te que eu própria me surpreendo. Venho de uma separação conflituosa, como te disse, um homem que se alterou a dado passo da relação, que se assumiu como se tivesse tomado posse de mim, exibia-me, a sua mulher, prendia-me até os pensamentos, o gosto de andar despida dentro da casa, ejacular-se dentro de mim e soltar-se, sem se importar com a minha própria satisfação, alhear-se dos meus anseios, dos meus projectos, possuir-me... _ Deixa-me possuir-te!..._ era como ele me dizia, ter-me para ele, dócil, submissa.
Aperto-lhe a mão pequenina entre a minha, macia a pele, os dedos esguios, os seios dela batem no meu braço de vez em quando com a oscilação dos corpos no andar e digo-lhe que gostava de ser dentro dela e de a sentir ser dentro de mim
Anamar volta-se e beija-me de leve os lábios.
_És um ser muito querido.
_Acabaste o livro?
_É um livro intenso, de culto pela personagem da mulher, das mulheres todas embutidas na Nany da sua paixão, saída do virtual, deixando-se tomar da paixão dela, ele, um homem velho saudoso da sua juvenilidade, ou da juvenilidade da mulher que é o seu amor de sempre, surpreendido de ser o alvo, o objecto do amor confesso de uma mulher muito mais jovem, bonita, com uma vida confortável, a questionar-se do porquê e do que fazer ao senti-la frágil, ansiosa de o ter como amante.
Anamar fala efusivamente do livro, da substância do livro, percorre os personagens, a entende-los à luz da sua própria imagem.
_E as cenas de sexo, alta madrugada toquei-me ...estou toda molhada...são cenas que saltam do livro e nos colocam dentro da cena, vivenciando-a, depois, toda a teia perversa que ela engendra para acabar a relação, a intriga em volta dele, fazendo-o acreditar que fora um devaneio da sua própria inconstância, o desprezo com que o foi destruindo até que não representasse mais um perigo para a manutenção do seu estatuto de mulher de bem.
E ele, louco, gritando na cidade, julgando que estava à beira do mar: " Nany, Nany!!!..."
Tomámos o café na esplanada, Anamar de costas para o mar, em frente dos meus olhos, o recorte do tom laranja avermelhado do vestido ou túnica de tecido leve sobre o azul forte do mar e digo-lhe que nos está a acontecer algo de imprevisto, que a estou a sentir como uma célula que brota de mim para fora e que se inclina para reentrar, num ir e vir diáfano que me atordoa que me faz sorrir.
_Estou como que numa euforia em que me apetece gritar, soltar gargalhadas intempestivas sem nada que as justifique, adejar sobre nós os dois, os nossos corpos revolvendo-se, como se te conhecesse há séculos, fazer loucuras, beijar-te, mostrar-te o meu corpo...
Ouço a sua voz melodiosa, o brilho cativante dos olhos, os lábios que se mexem, se mordem a sentir sensações dela, do interior dela, as mãos num rodopio de gestos que procuram completar as palavras, as pernas que se abrem e fecham, o corpo todo em movimento, um movimento que vem de dentro e de súbito, aquele cheiro antigo, há quanto tempo? o cheiro do interior do sexo, absorvente e digo-lhe.
_Podiamos fazer um almoço para nós em minha casa...
Anamar sorri, toda ela, o rosto, o corpo esbelto, um sorriso franco, abrangente, a inteirar-se do meu convite, a sentir que é o momento que secretamente ansiava, secretamente dela própria e faz uma cara preocupada.
_Aceito, mas quero dizer-te que estou no terceiro dia da menstruação.
Dito isto levou os dedos aos lábios e encolheu-se toda na cadeira, como se se desse conta que dissera um disparate, se predispusera a ter sexo comigo, se adiantara em ralação ao momento.
_Se não te incomoda eu adoro ser dentro de ti, menstruada, o meu sexo envolto no teu sangue que se purifica, o teu cheiro activo nascido do mais intimo. É isso, a menstruação altera o efeito sedutor de mistura com os cheiros da apetência sexual. Torna-os exaltantes a nos sublimarem num absoluto de amor.
Ela ri-se de novo, a alma em redor, a praia "deserta" num repente. Pego na mão dela e vamos...

autor:j.r.g.

N A N Y

Verão de novo, o sol quente a meio da manhã, espalhando raios sobre o mar manso de vento e de maré. Brisa ainda fresca. Água límpida junto à praia, vejo as conchas, a areia de cor acastanhada, os corpos luzidios de mulheres e de crianças que se banham próximo de onde me encontro e vejo os meus pés horrendos que se movem imersos, o dedo do meio sobreposto, os joanetes de cada um dos lados de cada um dos pés, a areia macia, sussurro de vozes em alarido abafado pelos ecos do mar. as minhas pernas cortando as águas como quilha de barco impelido por remos.
Gosto das esplanadas junto ao mar, mirar os corpos, adivinhar as almas em volta de cada um, de como se conluiam manhosamente na alegria dos dias de descanso, ou de como se provocam. Os ardis das conquistas, os beijos e os olhos que se espraiam em volta, os sorrisos encantadores e os de circunstância, sorrisos tímidos, desconfiados, ou cínicos, ordinários, de gente que se mascara para se misturar com os de pureza da alma, descontraídos.
Gosto das transparências, vestidos soltos ou saias de mulheres que usam a praia não para banhos, mas como um local de lazer momentâneo, ou de encontro consigo, ou algo diferente que as faça sobressair por momentos da apatia em que mergulharam o ser, ou ainda uma procura de encontros fortuitos, uma exposição de si, do que acham belo de si, do que sentem e ambicionam ser possível surgir por entre tanta beleza de sol, gente e mar.
Procuro um lugar sombrio na esplanada cheia. Um casal que se levanta, mesmo a tempo, pouso o livro que ando a ler "NANY" de um autor ainda desconhecido mas promissor que relata uma história sórdida de amor através da net, sórdida porque esbarra em concepções de baixo nível para ter um desfecho abrupto que deixa um dos personagens em estado de choque emocional.
Estou absorto neste e outros pensamentos que se entrecruzam ,rebeldes, com os olhares que lanço aos corpos estendidos sobre toalhas garridas, e outros que regressam do banho, gotículas de água escorregando pelos braços, os cabelos colados, os olhos, os biquínis metidos nas cavidades pudicas, demoro os olhos no volume das vulvas a adivinhar se é inchaço dos lábios internos ou um penso higiénico por motivo de arreliador período menstrual.
E de repente os nossos olhos cruzam-se e fixam-se, como se um poderoso íman os traísse, eu e ela, uma imagem muito linda, doentiamente linda na simplicidade que a envolvia, nas características do rosto oval, os lábios carnudos, levemente rosados, os olhos negros, a pele acetinada, os cabelos de um negro profundo e exaltante de sedução, os seios sobressaindo da blusa vermelha, livres, proporcionais ao corpo de estatura média, nem muito magra nem cheia,, a saia curta , branca de tecido transparente, as cuecas de renda, provocantemente explicitas quando o tecido se colava ao corpo, por acção da brisa ou dos movimentos que ela fazia com o corpo e a luz do sol esbatia nela e na sua evidência.
Estremeci, ela desviou os olhos por momentos e pude apreciá-la com mais ousadia, doía-me a alma, de dentro do peito, as frontes latejantes, de tanta beleza natural, como uma paisagem idílica e depois voltou, agora de soslaio, olhar obliquo, estranheza no rosto ou dúvida. Inquieta de mim, pensei, ou de me sentir a indecisão, a prisão da voz que queria dizer-lhe uma trivialidade, talvez. E disse-lhe, soerguendo-me da cadeira:
_Bom dia..procura uma mesa, ou espera alguém...
_Bom dia, sim, mas isto está tudo muito cheio, eu espero, não se incomode...obrigado
Disse as palavras sorrindo, todo o rosto iluminado num sorriso absoluto de evidente naturalidade, a voz suave e quente, docemente quente, aveludada. Insisti:
_Podemos partilhar a mesa onde estou, pode voltar-me as costas como se estivesse longe, não a olharei menos do que se estivesse num lugar longe, ou podemos conversar porque a sinto tão rica de conhecimentos...
O sorriso dela abriu-se numa gargalhada cristalina, os dentes perfeitos e sãos, pude sentir-lhe aromas que vinham de dentro, frutos maduros, aglutinantes.
_Está bem, aceito, até porque estou aflita para ir a um WC.
E toda ela era um sorriso de empatia envolvente. Deixou sobre a mesa um livro que trazia, de rosto voltado sobre o tampo e foi, fresca e sedutora no andar.
Reparei então, estupefacto, que se tratava do mesmo livro que ando a ler, "NANY" e senti um ardor estranho em todo o interior do meu corpo.
Lembrei-me de Ana Maria e na doçura quase lasciva em que me envolveu a sua amizade. Ana, há quanto tempo tão longe, sem uma palavra, sem um roteiro de encontro, porquê, terás sentido que te queria ter como fêmea luxuriante? Mas eu contei-te a minha história, sabias que amo a minha mulher acima de qualquer devaneio, sabias que me interesso por mulheres pensantes, mulheres que me permitam ir mais além no conhecimento de mim, testar-me nos vários limites a que me proponho, desde logo, o da amizade, até que ponto a amizade é um amor de grande profundidade, até que ponto me engano quando digo que não quero sexo, apenas palavras e gestos de ternura amiga, desmistificar os problemas ditos insolúveis. Conhecer o meu lado feminino, numa tentativa de absoluto do homem agora sem Deus, livre mas só, entregue a si próprio. Ela voltou, graciosa e simples na sua naturalidade exuberante.
_Anamar...
Estendeu-me a mão, os olhos, que eram verdes, um verde escuro quase negro e não pretos como me pareceram, a luz de dentro do rosto e em volta, descendo suave pelas faces coradas, que beleza de nome, pensei e devo ter tido uma expressão significativa que a fez voltar sobre o meu silêncio.
_Não acredita? Eu gosto do meu nome.
_É um nome fora do vulgar, belo, como tudo o que me acontece ver de em si, perdoe, mas é meu hábito expressar tudo o que sinto quando me parece que é reciproco, eu João Maria.
_Andamos a ler o mesmo livro!
_ E que lhe parece, indaguei.
_É uma história possível, absurda na assunção da minha normalidade, mas possível e está muito bem escrita e sentida, as cenas de sexo virtual são um clímax, sinto que as viveram de facto emotivamente, como se estivessem na realidade colados os corpos e se olhassem de dentro de si.
Digo-lhe que o que me fascina é a interiorização dos personagens, como figuras reais, que assumem as mutações próprias, que as antecipam, como quando ele responde às afirmações de amor eterno dela, dizendo que o tempo é a única peça do jogo que condiciona a intemporalidade das palavras, das intenções e que o desfecho será cruel para com ele, por ser a parte mais tendencialmente absurda do romance.
Anamar sorriu, lindo tudo nela.
_Eu venho de um casamento falhado, onde tudo era maravilha e etereamente vivido até ao momento em que senti que era mentira, que já nada tinha o fogo sequer da esperança tardia.
É como se um élan que nos prende à pessoa, a algo da pessoa, se evaporasse e tudo o que ela diga, ou aparente, nos soa a falso.
_ É um dos aspectos que me fascina, digo, o olhar ausente sobre o mar, por vezes os corpos que se movem na areia fina da praia, pensar que as pessoas acreditam na imutabilidade da relação, como se tivessem sido feitos um para o outro, a cara metade, a alma gémea e não houvesse o tempo, o envelhecimento e a morte de células e o renascimento ou proliferação de outras, ou a mutação de genes, ou uma alteração substancial da energia cósmica que acredito nos influencia a vida.
Há um casal em frente que se beija, depois abraçam-se, ainda novos, e reparo nos olhos dele sobre a minha companheira fortuita, olhos malandros, cobiçosos, a medi-la, a tentá-la no sorriso.
_ O João Maria é de que signo .
_ Sou de Capricórnio. Estuda ou é aficionada de Astrologia?
_Não, sou apenas curiosa, não desdenho nada do que pode ser útil na definição do meu carácter, da minha ancestralidade posso tratar-te por tu? Eu sou de Escorpião.
_Sim, claro, sinto que estamos integrados numa semelhante perspectiva do pensamento. Eu creio que existe um influência cósmica que facilita ou incita à união de um homem e uma mulher, que os determina e que isso nem sempre é tido em conta. É mais fácil, aparentemente mudar de parceiro, infinitamente mudar, numa busca desesperada de encontrar o fio condutor. Ao invés, eu penso que devemos ater-nos ao tempo, e ao nosso conhecimento, aceitar as mudanças, discutir sem pressas que a mudança ocorra na pessoa, mas há algo que não depende só de nós, por isso devemos estar atentos em volta.
_Ao ouvir-te, João Maria, penso que te identificas bastante com o autor do livro, há nele um diálogo constante, do lado de fora dos personagens, sobre a procura de uma justificação para o seu envolvimento amoroso, se o que fazem é considerado uma traição aos seus companheiros ou se, pelo contrário, são apenas um conjunto de palavras que constroem um facto e que pode, por ventura, redimensionar as relações em rotura.
_Mas não sou o autor, podes acreditar, discordo, por exemplo, quando o personagem quer fazer-nos acreditar que aceitou o desafio de amante, apenas com o intuito de viver um romance, como um personagem de facto, porque o que eu sinto é que ele se envolveu todo, perdeu a noção da racionalidade e o desfecho só podia ser aquele, a loucura. E tu, queres falar da tua relação, de como tudo aconteceu?
De repente, ao olhá-la nos olhos, sinto que estou confortável na sua companhia, que me apetece prolongá-la sem tempo limite, preso nos seus lábios que são o sorriso, nos seus olhos rutilantes, nos gestos que traduzem encanto e sobe-me o perfume dela, um perfume que me absorve e não eu a ele, ou não só eu já pelas narinas, mas por todos os poros do meu corpo.
_Talvez amanhã, ou outro dia, hoje ainda tenho os meus pais , vou almoçar com eles, vens amanhã?
_Venho, podíamos vir mais cedo...almoçar por aí...que dizes?
_Veremos a nossa disposição amanhã, o tempo que faz e nos condiciona.
Despedimo-nos com um beijo nas faces, senti o ardor da pele na minha pele e o sorriso provocador ao citar o tempo como condicionante do que fazer amnhã.

autor: j.r.g.

22/08/2009

AO MAR O QUE É DO MAR

Ao mar o que é do mar
e eu que sou do mar um pecador
roubei-lhe vidas fi-lo meu companheiro de pensar
construi barreiras contive-o nos limites predador
.....
também finquei os pés na areia aveludada
branca espuma ondas mansas nos enchios da maré grada
deliciei-me sentindo o mar que vinha e areia me levava
aprendi que os castelos ruíam por acção da água brava
.....
fiz do mar meu protector e confidente dele fui e sou amante
gritei-lhe na euforia dos lamentos em sintonia com o rugir dos ventos
fiz dele mulher das ondas seios e na corrente corpo elegante
deixei escrito que quero ser dado a ele em alimentos
autor: j.r.g.

15/08/2009

MULHER DENTRO DO SONHO

cai mel dos teus olhos verdes
...
vens doce na madrugada
tens o dom de poetar
de tal sorte que a palavra usada
parece dirigida a quem te olhar
xxx
"gosto de ti assim..."
...
digo-te eu também gosto
e percorro os teus versos
ansioso de achar o mosto
em que te apuras de poemas excelsos
xxx
"emerges num silêncio cúmplice"
...
é o que sinto na tua ausência
suores de pânico talvez exagerado
pensar que tenhas perdido a paciência
impulsiva menina de mim tão desastrado
xxx
"toque,cheiro,desejo..."
...
quero chegar aonde só a alma existe
quebrar segredos que toda mulher tem
cheirar tocar e desejar como te sentiste
naquele sonho informe que eu sonhei também
xxx

autor:j.r.g

10/08/2009

SER SENDO

sou um ser anónimo com rosto que não conta
sou números que entram na estatística
servi a dita pátria com desperdício de monta
enriqueci algozes alimentei da fé a mística
*****
escrevi palavras em pedras de gelo na memória
tive pai e mãe tive esposa filhos e amantes
sou um tal cujo nome não consta na história
mas não reneguei do homem ideias fascinantes
*****
desde sempre a liberdade que é na alma inerente
não a liberdade do ter do parecer limitada a sul e a norte
tudo o que fiz aonde fui ou sei foi de aderente
escolhi pessoas locais momentos nada e tive sorte
*****
resolvi o mistério que é o de saber quem manda
sondei o homem nas suas profundezas
e vi que é tudo circunstante hoje assim amanhã desanda
tomei a via do ser antigo que assume suas tristezas
*****
aprendi que nada resolve a tempo o desespero
seguir vivendo sendo sem ódio nem rancor
libertino às vezes riso e choro com tempero
amante amigo de tudo o que respira e sente dor
*****
sou um tipo com rosto um tanto homem outro mulher
anónimo que consta e desconta sem remédio
sou sendo e destemido enfrento a um qualquer
já fui criança embora em vão vitima de assédio
*****
excomunguei de mim a Deus e ao Diabo
sou homem só na minha extensa solidão
de em tudo o que vivi sempre soube onde começo e onde acabo
mesmo quando sem norte segurei algures a tua mão.
autor:j.r.g....ser...sendo, sou...sendo...

09/08/2009

A M O - T E

leio a tua mensagem flor preciosa
deixo florir nos focos de luz o meu sorriso
de encontro ao teu de ti bela e graciosa
lembrar que amigo é um bem preciso
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leio nos teus olhos a mensagem de fogo
o teu coração tão perto do meu
perfumado o ar que expiras e me envolve no jogo
sou gente a quem a vida nunca prometeu
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canto amizade amor do mundo expectante
vagueio por entre mares de gente perturbada
ser vagabundo é ser livre e de mim amante
e é dar-me inteiro numa criança iluminada
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vivo do cheiro e do sabor das palavras ditas
que envolvo e recheio em doces de amor
sou gente do mar da terra e do fogo onde me habitas
sou ainda dos ventos que domo ou que excito com fervor
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e tu que me vês e sentes no ar quem és?
porque me atiras a água em fortes torrentes?
porque me revolves a terra onde enterro os pés?
porque me queimas na chama da paixão que sentes?
autor:j.r.g.

08/08/2009

POLITICOS, ÉTICA, EDUCAÇÃO SEXUAL POR DECRETO, OS MALEFÍCIOS DO PRESERVATIVO, O HOMEM DAS CAVERNAS

Todos os políticos dizem em público que o povo é inteligente, que não esquece, que é soberano...eu diria que para os políticos, no âmago da sua consciência, a inteligência do povo é suficiente no estádio onde se encontra, que o povo tem a memória curta e separada da realidade por blocos ancestrais de religiosidade, que é soberano dentro de sua casa, quando a tem e sobre a sua esposa, quando ela deixa, sem dúvida sobre os filhos até à adolescência...

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Enfim, o governo accionou para valer desde já, a inclusão da disciplina de educação sexual na escola. Falta formar docentes, falta saber quem ministra a disciplina aos alunos, e se será o mesmo para os dois sexos. Eu defendo que deveriam ser professores homens a reger a disciplina às meninas e mulher aos meninos, mas isso sou eu do tempo em que as jaulas da instrução estavam separadas por barras de preconceitos, confio em que chegarão a consensos para o bem de uma sexualidade sem taras e desmistificada de tabus.

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Um estudo cientifico, em Português, alerta para problemas psíquicos provocados pelo uso de preservativos; há outras atoardas na noticia que foram posteriormente desmentidas, como a improbabilidade de infecção de hiv por relação sexual no âmbito da vagina; bem me parecia que deveria haver algo de errado com o preservativo, por isso nunca o usei, preferi sujeitar-me a uma só mulher, um só sexo e partilhar todas as fantasias que os mais inconstantes não encontram numa só relação.

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Ficamos a saber, pelos jornais, que o presidente da república perdeu a confiança no primeiro ministro, em Portugal, porque não reconduziu o cirurgião Lobo Antunes numa existente comissão de ética, conforme tinha ficado apalavrado entre os dois. Ao povo isto pode cheirar a tráfico de influências, compadrio entre órgãos muito soberanos muito acima destas suspeitas, permuta de favores, ficando por saber qual a medida usada em troca pelo presidente e que este não terá respeitado ou não irá respeitar num futuro breve.

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O homem das cavernas, ou o "perigoso foragido" que trocou a vida sã e reabilitadora na penitenciaria, pelas cavernas das montanhas, onde sobreviveu durante cerca de 16 anos, o dobro, talvez, da pena que lhe restava, condenado sem apelo, nem recursos (Veja-se Vale de Azevedo) por ter empurrado uma mulher que lhe fazia a vida negra e causado a morte. Uma odisseia que só um Português poderia ter vivido, merece pelo feito um lugar na história.