Cristina subiu ao quarto em passo rápido para que quando Samu chegasse já estivesse pronta, para evitar que subisse, que precipitasse os acontecimentos, o que se previa e não lhe desse tempo de pensar de refazer de dentro de si as emoções que vivera nas últimas horas e resolver as dúvidas que se instalaram.
Tomou um banho rápido e trocou de indumentária. O vestido agora era de tom rosa claro. Colocou uma cor no rosto para afastar a nuvem negra que sentia junto aos olhos.
Tinha a plena convicção que iria haver sexo. Para Anastácio Bandarra não. Ele dizia que era possivel amar alguém intensamente, viver com esse alguém sem uma permuta de sexo. Amar só. Vitória achava essa ideia de Bandarra o máximo do seu pensamento extrovertido.
Olhou-se ao espelho grande da casa de banho e sorriu. Sentia-se tão eufóricamente decidida. Tudo apontava para dar certo.
O telefone. Era da recepção a anunciar Samu.
_Desço já.
Porque me tremeu a voz? Que desassossego é este que me torna um empecilho de mim própria? É como se me visse do lado de fora de mim e me achasse numa situação ridícula e vazia de significado na distância posterior do tempo. Como se me visse mais além, não já eu, ainda, mas uma outra de mim, em equilíbrio, serena e confiante, feliz.
Abraçaram-se e ele beijou-a levemente nos lábios trémulos que ele julgou de prazer. O abraço forte e ela frágil a deixar-se conduzir, a confiar-se naquele colosso do saber.
Jantaram no restaurante do hotel e falaram de projectos. O divórcio dela. o filho de 3 anos que adorava o pai, quase 3 anos. E se ele se obstinasse e litigasse a posse do filho?
Por ele, Samu, Cristina podia ver nele um pai terno e abnegado, porque era filho dela e ele amava-a. Amaria o seu filho, educá lo-ia como um bom pai.
Cristina sorria. Aos poucos ia ganhando confiança em si própria. Soltava gargalhadas do jeito burlesco como ele falava do mundo das palavras.
Estava decidida. Logo que ele Samu lhe propusera que casassem, que partilhassem o projecto comum do consultório de consulta e apoio matrimonial, lhe confessara que a amara sempre, que a amava como uma alma única em todo o Universo.
Fez-se um silêncio. Cristina não pôde deixar de pensar em Anastácio Bandarra e nas palavras proféticas, " ninguém te amou nunca como eu te amei" "amarte-ei sempre"..."amarte-ei sempre"... a martelar as frontes latejantes.
_Passa-se alguma coisa, Cristina, meu amor.
_ Não Samu, desculpa, foi uma nuvem de excesso de emoções do dia. Se houvesse um sitio para dançar, descontrair...
As mãos dele nas dela, como elos de uma cadeia que se iniciava.
O hotel tinha um espaço de dança que se situava no topo do edifício de 12 andares. A vista sobre a cidade, as luzes trémulas do vento fraco que fazia, ou do rumor dos carros que subiam e desciam incessantemente. Beijaram-se nos lábios, as línguas numa ânsia de procura, mas Cristina estava apática e não se conhecia. Rígida, inflexiva. A música era agradável, descontraía. Talvez ajudasse à descompressão que a comprimia de si em si e para si, do todo de si.
Fechou os olhos enquanto deambulavam ao ritmo da música, o rosto dela no peito de samu.E era o Bandarra, a figura patética de um homem encanecido que ousara acreditar numa nova oportunidade da vida, um amor de tipo novo que ela lhe induzira. Mas as palavras martelavam o cérebro e era como se espetasse pregos ou cavilhas. " O grande problema da tua vida, da tua inconstância, do teu desassossego, é o teu pai" Sentia lágrimas e não podia. Parou, disse que ia à casa de banho e adiantou a passada com elegância.
O pai, a figura terrifica que a atormentava desde a infância, bater na sua mami, no irmão e nela própria, violentamente e as palavras, Oh Deus!...o abandono. A coacção psicológica. A escolha a que se vira obrigada. O Bandarra disse-lhe que queria ajudá-la a vencer esse trauma e ela dissera que não era um problema, que o problema era amor, sentir-se amada de uma forma diferente. Mas era. Sentia que era e questionava-se se estaria a fazer, de algum modo, o mesmo com o seu filho. Bernardo!...
Voltou ao salão já refeita, os olhos brilhantes pareciam de emoção. E saíram. Samu acompanhou-a na subida ao quarto e ela estava disposta a deixar-se possuir. Mas já não era fogo o que sentia.
Ele beijou-a de novo à entrada do quarto, envolveu-a com os braços possantes. Os olhos dele, o sorriso, o cheiro. As mãos que a despiam peça a peça até que o corpo se viu como era, a alma adejando por sobre ela indefesa. Sentia-se indefesa e não era um príncipe aquela figura imensa que a cobria de bruma. Passou as mãos pelos olhos, suspirou suavemente enquanto ele, agora ávido do desejo à tanto contido se despia atabalhoadamente, enquanto a cobria de beijos.
Não...Sai... Perdoa tudo de mim, mas sai... e saltara da cama refugiando-se atrás do reposteiro sombrio da janela grande do quarto.
Ficou quieta, tremendo mas firme, até que Samu saiu, surpreendido e praguejando sobre o desfecho de todo imprevisto.
Cristina serenou e submeteu-se à água morna do jacuzzi. Chorou convulsivamente. Chorava e ria. Vencera em toda a linha. A sua alma vencera sobre a intempérie que lhe sobre vinha desde a infância. Bernardo, meu filho, meu príncipe.
Na rua deserta, hora tardia, um homem, uma figura desajeitada, mostrando alguma inquietação, em frente da porta do hotel, do lado de fora, dava passos timidos e descontrolados, como uma sentinela de quartel, de olhos atentos á entrada e saída de pessoas. Era Anastácio Bandarra. Fumava cigarro sobre cigarro e no cérebro apenas um ideia. "Não". O seu cérebro parou nessa palavra de três letras, como a palavra pai, ou a palavra mãe. Era um "Não" intransigente. Suficientemente forte para vencer todas as barreiras. A noite fria não o incomodava. Ficaria até de manhã. Mas era apenas "Não", a palavra incómoda que lhe afluía.
Olhou mais uma vez a porta luxuosa do hotel que se abria e viu a figura dobrada de Samu que saía bufando em meneios desesperados de todo o corpo. Um sorriso. Fechou o punho e gritou. Venceste Cristina! Venceste Cristina! E rodopiou numa dança exótica sem música nem ritmo e seguiu sem rumo, avenida abaixo, cantarolando uma canção de amor desconhecida...
continua...
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É o que me proponho. Escrever sobre vidas anónimas que valem as luzes da ribalta ou a fixação histórica e que traduzem a essência de um povo. Primeiro de uma família. Primeiro ainda, ou antes de tudo, a essência de um homem, de uma mulher.
Escreverei por encomenda, preços de acordo com extensão e pesquisa de documentação. Mas com a paixão que o percurso proposto me suscitar.
Aguardo a vossa proposta.
J.R.G.
Tomou um banho rápido e trocou de indumentária. O vestido agora era de tom rosa claro. Colocou uma cor no rosto para afastar a nuvem negra que sentia junto aos olhos.
Tinha a plena convicção que iria haver sexo. Para Anastácio Bandarra não. Ele dizia que era possivel amar alguém intensamente, viver com esse alguém sem uma permuta de sexo. Amar só. Vitória achava essa ideia de Bandarra o máximo do seu pensamento extrovertido.
Olhou-se ao espelho grande da casa de banho e sorriu. Sentia-se tão eufóricamente decidida. Tudo apontava para dar certo.
O telefone. Era da recepção a anunciar Samu.
_Desço já.
Porque me tremeu a voz? Que desassossego é este que me torna um empecilho de mim própria? É como se me visse do lado de fora de mim e me achasse numa situação ridícula e vazia de significado na distância posterior do tempo. Como se me visse mais além, não já eu, ainda, mas uma outra de mim, em equilíbrio, serena e confiante, feliz.
Abraçaram-se e ele beijou-a levemente nos lábios trémulos que ele julgou de prazer. O abraço forte e ela frágil a deixar-se conduzir, a confiar-se naquele colosso do saber.
Jantaram no restaurante do hotel e falaram de projectos. O divórcio dela. o filho de 3 anos que adorava o pai, quase 3 anos. E se ele se obstinasse e litigasse a posse do filho?
Por ele, Samu, Cristina podia ver nele um pai terno e abnegado, porque era filho dela e ele amava-a. Amaria o seu filho, educá lo-ia como um bom pai.
Cristina sorria. Aos poucos ia ganhando confiança em si própria. Soltava gargalhadas do jeito burlesco como ele falava do mundo das palavras.
Estava decidida. Logo que ele Samu lhe propusera que casassem, que partilhassem o projecto comum do consultório de consulta e apoio matrimonial, lhe confessara que a amara sempre, que a amava como uma alma única em todo o Universo.
Fez-se um silêncio. Cristina não pôde deixar de pensar em Anastácio Bandarra e nas palavras proféticas, " ninguém te amou nunca como eu te amei" "amarte-ei sempre"..."amarte-ei sempre"... a martelar as frontes latejantes.
_Passa-se alguma coisa, Cristina, meu amor.
_ Não Samu, desculpa, foi uma nuvem de excesso de emoções do dia. Se houvesse um sitio para dançar, descontrair...
As mãos dele nas dela, como elos de uma cadeia que se iniciava.
O hotel tinha um espaço de dança que se situava no topo do edifício de 12 andares. A vista sobre a cidade, as luzes trémulas do vento fraco que fazia, ou do rumor dos carros que subiam e desciam incessantemente. Beijaram-se nos lábios, as línguas numa ânsia de procura, mas Cristina estava apática e não se conhecia. Rígida, inflexiva. A música era agradável, descontraía. Talvez ajudasse à descompressão que a comprimia de si em si e para si, do todo de si.
Fechou os olhos enquanto deambulavam ao ritmo da música, o rosto dela no peito de samu.E era o Bandarra, a figura patética de um homem encanecido que ousara acreditar numa nova oportunidade da vida, um amor de tipo novo que ela lhe induzira. Mas as palavras martelavam o cérebro e era como se espetasse pregos ou cavilhas. " O grande problema da tua vida, da tua inconstância, do teu desassossego, é o teu pai" Sentia lágrimas e não podia. Parou, disse que ia à casa de banho e adiantou a passada com elegância.
O pai, a figura terrifica que a atormentava desde a infância, bater na sua mami, no irmão e nela própria, violentamente e as palavras, Oh Deus!...o abandono. A coacção psicológica. A escolha a que se vira obrigada. O Bandarra disse-lhe que queria ajudá-la a vencer esse trauma e ela dissera que não era um problema, que o problema era amor, sentir-se amada de uma forma diferente. Mas era. Sentia que era e questionava-se se estaria a fazer, de algum modo, o mesmo com o seu filho. Bernardo!...
Voltou ao salão já refeita, os olhos brilhantes pareciam de emoção. E saíram. Samu acompanhou-a na subida ao quarto e ela estava disposta a deixar-se possuir. Mas já não era fogo o que sentia.
Ele beijou-a de novo à entrada do quarto, envolveu-a com os braços possantes. Os olhos dele, o sorriso, o cheiro. As mãos que a despiam peça a peça até que o corpo se viu como era, a alma adejando por sobre ela indefesa. Sentia-se indefesa e não era um príncipe aquela figura imensa que a cobria de bruma. Passou as mãos pelos olhos, suspirou suavemente enquanto ele, agora ávido do desejo à tanto contido se despia atabalhoadamente, enquanto a cobria de beijos.
Não...Sai... Perdoa tudo de mim, mas sai... e saltara da cama refugiando-se atrás do reposteiro sombrio da janela grande do quarto.
Ficou quieta, tremendo mas firme, até que Samu saiu, surpreendido e praguejando sobre o desfecho de todo imprevisto.
Cristina serenou e submeteu-se à água morna do jacuzzi. Chorou convulsivamente. Chorava e ria. Vencera em toda a linha. A sua alma vencera sobre a intempérie que lhe sobre vinha desde a infância. Bernardo, meu filho, meu príncipe.
Na rua deserta, hora tardia, um homem, uma figura desajeitada, mostrando alguma inquietação, em frente da porta do hotel, do lado de fora, dava passos timidos e descontrolados, como uma sentinela de quartel, de olhos atentos á entrada e saída de pessoas. Era Anastácio Bandarra. Fumava cigarro sobre cigarro e no cérebro apenas um ideia. "Não". O seu cérebro parou nessa palavra de três letras, como a palavra pai, ou a palavra mãe. Era um "Não" intransigente. Suficientemente forte para vencer todas as barreiras. A noite fria não o incomodava. Ficaria até de manhã. Mas era apenas "Não", a palavra incómoda que lhe afluía.
Olhou mais uma vez a porta luxuosa do hotel que se abria e viu a figura dobrada de Samu que saía bufando em meneios desesperados de todo o corpo. Um sorriso. Fechou o punho e gritou. Venceste Cristina! Venceste Cristina! E rodopiou numa dança exótica sem música nem ritmo e seguiu sem rumo, avenida abaixo, cantarolando uma canção de amor desconhecida...
continua...
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É o que me proponho. Escrever sobre vidas anónimas que valem as luzes da ribalta ou a fixação histórica e que traduzem a essência de um povo. Primeiro de uma família. Primeiro ainda, ou antes de tudo, a essência de um homem, de uma mulher.
Escreverei por encomenda, preços de acordo com extensão e pesquisa de documentação. Mas com a paixão que o percurso proposto me suscitar.
Aguardo a vossa proposta.
J.R.G.
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