04/09/2008

ENTRE O SONHO E A REALIDADE

Os teus cabelos ondulam ao vento, uma brisa amena, mas suficiente para os fazer mover , como as ondas serenas que beijam a areia da praia, indolentes, tímidas, num deleite luxuriante.
É Setembro, um mês que elegeste, que elegeram à revelia da tua vontade, mas que aceitaste eleger, como se foras tu, o mês "D", o mês do sonho que sonhaste envolto em brumas espessas, inevitavelmente espessas, para que se escondesse de ti o sabor mágico, enigmático da realidade. Uma realidade que sempre quiseste sonho, alimentando de dentro do teu ser, da essência do que és e não te deixa aperceber , o doce sabor e o sentir do sonho que veio do outro lado do sonho.
Está no seu lugar de encanto, o sorriso indizível. As palavras que foram, que são um monumento diáfano erigido ao amor, que despertaram em ti e de ti o sentimento de uma nova paixão..
Fizeste um balanço exaustivo, consultaste os deuses reunidos em assembleia interplanetária, bebeste da sua sabedoria, desenraizaste do sonho a realidade, como um tumor arrancado a frio, choraste a dor.
As tuas mãos finas, delicadas, brincam com os grãos de areia fina que saturam a praia. Grãos que se esgueiram , como sonhos. Que se tornam em pó, que nos cegam, cortam a pele quando o vento se ufana da sua valentia.
Pelo caminho caíram outras realidades que faziam parte do sonho. Ou que se colaram sem querer, sem quereres, porque a ansiedade de ser verdade te fez acreditar que eram a realidade do sonho. Não foi da tua vontade, colaram-se. Enganaram-te nas entrelinhas das palavras que indiciavam príncipes e castelos rodeados de espaços verde de evasão.
A vontade é tua, o sonho é teu, não viessem, não se atravessassem no teu caminho de fantasia que buscava uma realidade concreta. O amor.
Encontrar o amor por quem sempre foste apaixonada e que é a razão maior de todo o teu viver. O amor que tu amas é uma alma imensa sem corpo, advinda de sonho em sonho, inconstante na forma e no ser que contróis, ou que se contrói na tua poderosa imaginação. Sentes que os corpos que te amam, que te amaram , não têm, nunca tiveram alma. São voláteis à volta do teu corpo, porque te moves acima, estás por fora deles que rodopiam nas brumas da névoa que cobre o mar e te impede de ver e impede que te vejam.
Quando o teu corpo dorme a alma desperta sonha. Sonhas sempre .Quando o teu corpo relaxa e pensas, devaneias no ideal que que almejas, é um outro sonho que se pretende afirmar, que arreda outros, e assim até ao infinito de ti enquanto vida.
Conheci alguém que fez de viver um romance. Sonhou que a vida era um livro imenso, desordenado, de páginas em branco, a que haveria de acrescer imagens escritas ou pictóricas, à medida do tempo. Foi um tudo e um nada em constante desarmonia na busca de verdades inexistentes e a cada descoberta do embuste, refazia-se no ideal que um dia, se persistisse na senda da procura, terminaria o livro com sucesso.
É um tudo ou nada
Queres amar, queres ser amada de uma forma que só tu sabes, sem cedências, sem limar arestas, porque tudo é perfeito. Está tudo idealizado em ti. Os tempos certos. O perfil. A definição dos espaços. A partilha de ambições. A conquista antes do sexo. O namoro eterno. As festas, os amigos. Estás apaixonada. Plena de evasões alucinantes. Os teus olhos brilham, o teu corpo inquieta-se, estás no meio so sonho e tudo se encaixa como previste. Agora é a sério, real, definitivamente real. Os teus pés movem-se em movimentos dúctis, graciosos, as mãos como asas e os olhos elevados, rompendo as brumas que insistem numa última tentativa para te ocultar, mas o sol brilha no seu lugar ainda eterno, desanuvia os flocos da névoa marítima. Firmas-te ansiosa, o coração em palpitações arritmicas, uma sufocação na garganta que procura soltar sons, os sons que se aglomeram da parte da alma aprisionada, num outro espaço de ti que ainda não visitaras.
É um som cavo que te sai da garganta ressequida pelo sal que aspiras e porque julgas ver um barco que se aproxima da costa, que não viras antes, que surgiu de súbito por entre as farripas de nevoeiro que se esfumavam por acção do sol. E de dentro do barco, imponente, o sorriso brando, enigmático, uma figura estranha que sempre amaste de antes do dia que elegeste como " D ". E viste que do mar tão manso uma onda sem nexo. De onde esta onda? se preparava para cobrir o barco, afundando-o . E pensaste que afundando-se se afundava o sonho e a realidade.
E gritaste. Correste em pânico por água adentro, numa tentativa vã de evitares o desastre que se sentia . O barco lentamente submergindo e a figura estática do teu príncipe, inalterável na postura. O sorriso. Gritaste mais forte. Não!!!... Sim ouviste o teu grito...
E acordaste no sonho, ainda sonho, um outro que se sobrepusera, a perguntares se era verdade, se tu própria eras de verdade, se eras sonho se eras realidade.
E acordaste!...

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