Estar encurralado entre as quatro paredes e o tecto obscuro do sotão da casa. Estou só no meu silêncio de mim. Por vezes vejo os fantasmas especados nas paredes sujas de branco, porque deveriam ser negras, as paredes do sotão.
Em baixo, no outro pleno da casa, a mulher mexe e remexe no que resta na tentativa de lhe dar uma harmonia impossivel, na lembrança dos tempos que ainda a habitam
Também ela está só na sua solidão de si. E ainda somos como um só na solidão de nós ambos.
Fora, na quietude do tempo, a sugadora de cereais mata o doce muralhar das águas que, vindas de Espanha, aqui se espraiam, comprimindo-se contra o mar, adocicando-o.
Estar na penumbra do homem, sem saída consistente E sentir que tudo o que posso é remediar, nada de definitivo, de absoluto.
-"Vamos tentar o absoluto. Viver o absoluto.
Diziamos entre nós, tu e eu, no pleno daqueles anos que nos arrebataram. E foi assim que, apaixonados de nós e por nós, deixámos que o sistema nos envolvesse na sua teia pretensamente irreversível e nos fosse quebrando.
Quebrando sem partir. Cacos que fomos consolidando numa ânsia de nos termos, encurralados mas livres e possuídos de nós.
Ganhámos na essência da vida, porque ninguém amou como nós amámos e sobreviveu.
Tristão e Isolda...Romeu e Julieta...Pedro e Inês....Nós, em absoluto de amor.
E veio a guerra. A sério. Com tiros e rebentamentos de minas, com crianças mortas e mães destroçadas. E macacos desesperados em gritos aflitos. Mas isso foi antes de nos fundirmos como um só. Ainda nos prometiamos na ilusão do amor e da cabana. Virgens de nós em absoluto.
Amámo-nos num desvario de loucura arrebatadora. Amámo-nos para além de nós, porque já era algo que nos ultrapassava em sentir.
O teu sorriso, o teu olhar refulgindo de esperança.
Meu amor absoluto.
Agora, no momento em que te penso e sentindo que te mexes em baixo de mim de onde eu estou e te sinto, compreendo que posso amar o infinito de ti.
Porque eu e tu somos um só, em nós.
Sem comentários:
Enviar um comentário