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SOMOS POVO MAIOR
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quero dizer-vos
que ainda há esperança
se unirmos a luz
que em cada um de nós em sonho brilha
para romper o terror das trevas
se formar-mos uma cadeia de vontades
em que os elos são as nossas mãos
de gente cansada de ciclos e eras torpes
corações e almas livres
*
quero dizer-vos
que mais vale ser pastor da Lusitânia
que vitimas desta tirania
voltemos ao campo à serra aos baldios
e partilhemos as nossas almas
deixando a banditagem de mãos vazias
retornemos à vida
porque esta morte em que vivemos
assusta até a natureza
*
quero dizer-vos
que uma a uma as empresas vão fechando
e que em breve não haverá mais
um sítio onde trocar trabalho por rendimento
ninguém será poupado ao caos
que se instala a coberto do marasmo
tracemos o nosso rumo
onde houver terra ar fogo e mar
lancemos a semente
*
quero dizer-vos
que estamos mal acompanhados
mais valia orgulhosos
de nem sós nem cheios de amargura
a florir em cada vida um gosto
de braços dados com os olhos no norte
lançando alvíssaras
a cada criança que passasse
e nos sorrisse
*
quero dizer-vos
desafiando os limites das palavras
o terror veste-se de fatalidade
arrasa tudo à sua volta e vem carpir
que gastaram tudo
não há mais nada a repartir
num dilema absurdo
ou pagamos mais ou o barco vai ao fundo
choram flores sem rega
*
quero dizer-vos
porque me arrepia a evidência histórica
de ter errado ou não sabido
que ciclicamente há uma mudança estratégica
nas leis que regulam a vida
mas porque calhou no nosso tempo
não viremos as costas
enfrentemos determinados a besta da tirania
temos sabedoria para vencer
*
quero dizer-vos
que tenho esperança no meu povo
de quem sinto o sangue
nos corredores confrontado com a desgraça
sinto-lhe a força galvanizada
pela vergonha humilhante do flagelo
não tarda o seu grito ecoará
e sete vagas de mar pleno de maresia
inundarão a toca do tirano
*
jrg
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