À Teresa no dia do seu 40º aniversário.
Soprava um vento forte com rajadas consideradas de tempestade, que encapelavam as águas quietas do mar.horas antes e agora alteradas, em cristas branqueadas de espuma que enchiam a alma de esperança.
Teresa tinha pelo mar uma paixão especial, desde criança, quando pela mão do pai e da mãe, passeavam nas tardes mornas do Estio ou nas manhãs ainda frias do começo do Inverno. O para lá do horizonte adensado em mistérios na sua imaginação infantil.
Cresceu feliz e sã e tinha sonhos que a acordavam de madrugada em sobressaltos de ser verdade ou impossíveis de acontecer..
Fez-se mulher no seio de uma família unida por laços indestrutiveis de amor. É uma sensação estranha, ser mimada a vida toda. Saber que ali, naquela casa onde dera os primeiros passos, onde fora concebida num acto de amor pleno de duas almas que se amavam como uma só, encontraria sempre abrigo, fosse qual fosse a tormenta da sua alma que se fazia à vida turbulenta como sempre ouvira dizer.
Era uma mulher bonita, esbelta de corpo, alegre e divertida, inteligente e decidida. Era uma mulher apaixonada pela vida, sem medos e agora, debatia-se com a paixão de ser mãe.
Casar ou não casar, como sempre acontecera na família, ou fazer uma experiência e outra, até achar o seu príncipe, o que ela considerasse o melhor pai para um seu filho. Ser mãe!...
Casou e teve um vida atribulada. A vida a dois, sem a proximidade da protecção a que fora habituada. A profissão de professora que escolheu, para ser ela a fonte que formaria novas energias, inocente de saber que lobies importantes não tinham os seus sonhos em consideração. Em cada ano uma colocação diferente, e longe. sempre tão longe de quem amava.
A vida de casada não foi um sucesso. Fazemos sempre ideia diferente do que vemos acontecer ao lado de nós. Viver o acontecimento é completamente diferente. Exige de nós uma adaptação a um outro e do outro igual, mas se não houver essa vontade do outro, os nossos esforços esfumam-se em violentas desilusões.
A paixão não deu lugar a amor. Uma ténue amizade e dor. Problemas complicados sobreviveram e instalaram-se não permitindo a continuidade da relação. A separação provocou agitação em todas as entidades que a animavam. Ela própria sentiu que algo se alterara em si. Sentia iras súbitas e alegrias incontidas, num turbilhão sem sentido que a fragilizava face ao todo que construíra, ou que almejara construir. ser mãe!...
Teresa queria acreditar que a felicidade era possivel, ser mãe e encontrar um homem, o seu príncipe que ela desencantaria ou que a desencantaria a ela, agora que descobrira o seu corpo, que o procurava destrinçar do aglomerado de conceitos que sempre a consideraram perfeita e exímia de sedução.
Casou de novo, com um amor que pensou consolidado em ampla amizade. Um homem que carregava um desenlace de frustrações amorosas, como ela própria e que sonhava uma família para a eternidade.
Teresa sabia agora que as ilusões se desfazem com o correr dos dias, a aproximação de dificuldades, ou a desconexão de pensamentos sobre determinadas matérias.
O ser é feito de conhecimento, de cedências e de absorções estranhas que visam complementar o ser mais. A aceitação do ser, por nós e ou por um outro que queremos de nós, carece de vontades e respeito, de amizade e amor sinceros, gratificantes, livres.
E teve um filho. Uma criança linda e cheia de carácter que expandia luz e amor. Um momento alto de grande felicidade.
Há seres para quem a felicidade parece ser um íman de atracção continuado de parcelas fatídicas da vida. Com a consumação de um sonho, ser mãe, como se a mente ciosa de ter perdido alguma supremacia sobre o corpo, a quisesse desligar da alma que a engrandecia como mulher, sobreveio-lhe um problema , talvez antigo, talvez adormecido, que lhe provocou descontinuações constantes da sua forma de viver feliz.
Teresa vacilou. Deixou que alastrasse, que se evidenciasse toda a extensão e solidez do problema. Questionou. Questionou-se. Procurou mais informação nas mais diversas instância do saber. Desceu ao fundo do corpo, da mente. Agarrou-se à alma que sempre a alentava, a sustinha na deriva que parecia tomar conta dela, por momentos.
Olhou o filho rabino, traquinas que crescia desenvolvido, como o amava!!!...Olhou-se de novo, como se fosse a primeira vez ,para que não a influenciassem olhares antigos de que se sentia traída. Para que não subsistissem dúvidas de si sobre si e agarrou-se à alma, definitivamente, e fez com ela um pacto secreto, para sempre...para ser...sendo...
3 comentários:
Depois do primeiro contacto fiquei como embriagado pela leitura das suas palavras.
parabens pelos blogs
SeaRuka.
Fico grato pelas palavras de agrado que são sempre um incentivo a quem procura ficcionar a realidade, na busca da evidênia do ser.
E vindas de quem escreve maravilhosamente bem!
Um abraço e obrigado
Um belop poema e que fala de uma coisa importante que é a nossa alma e que temos de estar bem com ela. Obrigado pelos comentarios ao meu blog. Um abraço
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