Laura, sentada na secretária, no pequeno escritório da oficina que mantinha em sociedade com o marido, os olhos castanhos claros, raiados de tons de verde, avelãs. Os cabelos negros, a pele morena, mordendo os lábios carnudos,descorados pelo frio que sentia, apesar do verão seco e quente, os olhos fixos na imagem de Zé Maria, seu marido, que conversava com uma cliente soltando alegres gargalhadas em momentos de descontracção de pausa no trabalho.
A outra era loura e bem mais jovem que Laura. Bem produzida quer na vestimenta quer nos adornos em brincos.colares e pinturas. Teria perto de 30 anos e Laura perto dos 40, sentia ciúmes de todas as mulheres com quem Zé Maria gastava pausas de serviço, ou em serviço de relações públicas, explicando porque pensava ser o motivo da avaria, o que ele apontava como mais provável e não outro, que à cliente lhe parecia mais plausível.
Laura pensava que o que ele pretendia ao demorar as explicações era medir a estrutura física das tipas e apanha um ponto fraco, algo que o impelisse a avançar com uma proposta de almoço, ou simples encontro para práticas sexuais lesivas da sua qualidade de esposa.
Lúcia, a loura que falava com Zé Maria, tinha uns olhos claros de amêndoa, um corpo saliente de formas harmoniosas com destaque para as nádegas, ou o rabo, ovalizado e saído , empinado, que ela agitava com o andar ou os meneios do corpo enquanto falava
Era o que se podia chamar de cu obsceno. E obsceno porque todo ele induzia sensualidade, sexo, devaneios, apelativo aos desejos, ostensivo de voluptuosidade.. Quando Lúcia passeava no passeio o seu cão caniche, não havia olhar de homem e de mulher que resistisse e ela sabia e sorria disfarçadamente ou em evidente ostentação , para mulheres despeitadas que a sabiam cobiçada dos maridos.
Laura também sabia da reputação de Lúcia.
Um dia dissera-lhe, a ele, Zé Maria, perguntara-lhe o que encontrava nas outras mulheres que ela lhe sonegasse, E ele, que esposa era diferente. A casa, as crianças o sexo clássico para satisfação pontual. Ele amava-a, estivesse certa disso.
E ela, que não concordava, também tinha desejos, fantasias que a inquietavam, também gostava de sexo anal e oral e gostava que antes das penetrações a excitasse no clitóris, que lhe descobrisse as zonas do seu corpo mais sensíveis à excitação da libido, que não lhe machucasse as mamas e mordesse os mamilos, se não sabia que isso podia provocar cancro ou outra afecções das glândulas mamárias.
E ele, Zé Maria, erguera da mão e dera-lhe duas estaladas violentas. Desde aí andavam amuados e agora, ostensivamente, gargalhava com aquela desavergonhada.
Laura estava possessa de raiva. Os olhos chispavam de ódio, rebarbativa, mexia-se na cadeira que quase a tombava.
Pensava nas filhas, uma do falecido, o seu primeiro marido e outra deste Javardo
que aceitara tomar por marido e em má hora o fizera.
Vi-os sair no carro dela. Zé Maria disse que o ia experimentar. Se fosse um cliente, mandava-o ir sozinho ver se estava tudo bem, mas ali havia tramóia. ela sentia isso.
Ir embora, deixá-lo. E coragem para isso? Onde iria viver sem dar glórias a ninguém?
E como iria subsistir? Sim, o marido por certo não a queria na oficina. E ele é homem, mais forte , abrutalhado.
Traí-lo!
Mas Laura tinha do casamento uma ideia de respeito absoluto, de angélica submissão ao poder marital. Só de sonhar com outro homem, um amante de verdade, indispunha-a contra si própria. Era uma ideia que caminhava a par com os desejos ardentes que sentia em todo o corpo e na alma que a atormentava. Sentir-se amada, querida, desejada e devidamente reconhecida como mulher plena de tudo e o tudo era, boa mulher, boa mãe, boa amante.
O toque rotineiro do telefone, interrompeu-lhe a meditação.
-Sou a Sónia. Era para te dizer que fazes muito bem em continuar com esse safardanas mulherengo do teu marido, que te maltrata...Blá...blá...blá...
-Sim, mas o que se passa? Porque me telefonas para repetires o que já me disseste vezes sem conta.
-Ele,o teu Zé Maria, acaba de entrar na casa da Lúcia e ia todo sorridente, com a mão sobre o cu dela. Imagina a cena, no interior da casa!...
E desligou. Era a irmã, Sónia solteirona que dizia dos homens as mais hediondas barbaridades. Que só viam sexo nas mulheres.Que se serviam das mulheres. Que as usavam até que, gastas, deitavam-nas fora como imprestáveis.
Laura ficou para morrer. Se pudesse fechava a oficina e apanhava-os em flagrante. discutiriam. Pelo menos desta vez , se ela ousasse, não satisfaziam o prazer das suas fantasias. Os olhos raiados de vermelho de os esfregar, húmidos de raiva, de se sentir humilhada no silêncio dos amantes, nos risos soeses, nos olhares enviesados. Rejeitada.
2 comentários:
...E por incrivel que seja..ainda existem tantas e tantas mulheres como Laura...
Maria Lobos, olá amiga. É verdade que existem e que quando ousam ligar-se à descoberta, encontram pontos de encontro capazes de ser a solução, partilham-se e recebem a partilha. Sem se darem conta crescem e exultam, quando se dão conta, que era tudo uma brincadeira de meninas que a serenidadde da razão ajuda a resolver .
Um beijinho
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