Olhou demoradamente a sua cara reflectida no espelho e pensou que era um gesto recorrente de todos os que se atribuem importância.
Afastou essa ideia com um gesto, uma palmada na testa e outra, como que a despertar dessa imagem que não se consentia, porque o que ele procurava não era a imagem reflectida no espelho mas uma outra imagem de si, que atravessando os olhos lhe permitia entrar no ser profundo onde tudo se mistura numa azáfama impressionante.
Sorrir-se para si. E gritar, de dentro, como eco dos tempos, que é um homem pleno. Velho mas pleno. Os olhos muito abertos de louco, admirado por se encontrar naquele espaço curto tão profundo. Vou ver o que me quer, ou o que quer de mim.
Sentou-se na velha cadeira rangente do peso súbito que sobre ela se deteve, por momentos absorto, enquanto a máquina se iniciava.
Digitou cautelosamente o email da diva sedutora. Sorrio-se: mariterra@... E escreveu as palavras como se de um poema.
"Não pensei que quisesses que te escrevesse directamente. Apesar do bilhete. Tenho a certeza que és outra pessoa por quem me apaixonei perdidamente, desde o momento em que os nossos olhos se prenderam como amarras. Sou velho, viste-me, e fiquei preso de ti desde o momento em que me apareceste. Fiquei furioso. Não creio que me pudesse apaixonar assim , se eu amo a mulher que viste e que é como se fora eu e eu em ela, apaixonar-me desta maneira por duas pessoas ao mesmo tempo, da mesma forma, com a mesma intensidade!....E à primeira vista.!...Tem sido bonito e muito estimulante, a minha vida . Porque vieste? O que pretendes de mim? Estou confuso e nem sei se fui eu que escrevi o que para trás deixei
Tocou na palavra enviar e encostou-se na cadeira. A velha cadeira. A solidão da cadeira que era ele. A solidão de si, do seu ego em si.
Acendeu um cigarro e aspirou deleitosamente o fumo azulado que se espraiou em nuvem densa e disforme pelo espaço curto do quarto.
A resposta dela não tardou:."Tenho uma carência de amor verdadeiro do tamanho do mundo, tenho falta de estímulos do género que adivinhei no teu olhar, agarro-me a qualquer coisa que mexa, que pulse, é esse o problema, estou a encontrar-me com 35 anos, estou no meio do turbilhão, não tem volta, não sei o que está para vir, mas não vai ser fácil. Também amo o meu marido,."
Foi assim que começaram uma espécie de namoro virtual, na distância das vidas que viviam. Quis acreditar que não estava velho. Mas interrogava-se sobre o porquê de uma mulher ainda jovem se interessar, dizer-se apaixonada pela sua figura de homem. A dúvida se estaria a ser usado em algum artimanha das que ouvia dizer acontecia na Internet.
Que tinha a temer. Não era rico. Não tinha bens. Em frente, até ao limite da razão.
Escreveram email que cresciam em profundidade de paixão. Prometiam-se amor eterno, ainda que virtual. Transcenderam-se de palavras que apelavam à sua interioridade e ao sublime de si enquanto amantes de uma ideia de si. Tiveram arrufos de namorados. Reiniciaram.
Ambos falavam de traição se consumassem ao vivo o fogo que inapelável mente os tomava nas raias da razão. Mas o que diziam, porque na distância, eram apenas flirts de ocasião.
Divertiam-se apenas. Mas era já fogo o que ele sentia com as palavras quentes que lhe iam chegando ânsia que sentia pela chegada dos e-mail. E combinaram amar-se a instantes de email. Ao lado dos corpos dos amores que juraram amar. Separados por uma ínfima parede, do lado de fora dos corpos. Separados do espírito dos corpos. Imersos em absoluta solidão, e tão densos de si.
Não conseguia tirá-la do pensamento, aquela imagem bela, sedutora de mulher jovem que encontrara numa tarde na esplanada onde se espraiava em absurdos de silêncio, e que nos
intervalos dos curtos diálogos com a companheira, mirava ostensivamente, porque se
sentira, também ele, fixado insistentemente por aqueles doces olhos castanhos.
Iniciou o movimento para um novo email, que pretendia libertador da pressão que sentia.
"amo-te tanto querida, queres mesmo que entre em ti pela primeira vez, nós e eu na minha timidez dizendo cona tão boa que me enlevas ao infinito de mim e os meus dedos nas maminhas ferventes os meus lábios nos teus as mãos no teu cuzinho delicioso em afagos excitantes que de ti e de mim nos apagam o ser agora um em um ou um outro. Nós, amor, abraçados e o meu sexo na tua coninha ardente de desejo e eu e tu arfantes possessos, a mente a libertar-se quase, sinto uma força um jacto de esperma e contracções, espasmos que me sugam todo o caralho fremente, o teu útero. é isto o orgasmo, o pleno o absoluto e ficamos exaustos um no outro em êxtase, os meus dedos percorrendo todo o teu corpo. a tua cabeça sobre o meu peito, terna."
E a resposta dela , na volta, no imediato como se houvesse um ponto, uma marcação de tempo a difundir de um e de outro as palavras de excitação, alucinantes de que sensações, que prazeres. Que ampla solidão.
" os olhos brilhantes, sorriso quente, lindo, meu amor agora estou mesmo louca, já não estou em mim, cada vez que leio o que escreveste o meu corpo estremece, é sublime, tu és sublime, meu amante delicioso apetece-me engolir-te, lamber-te, chupar-te o caralho, os tomates, tudo, beber o teu esperma, sentir os espasmos dentro de mim porque enquanto te chupava, roçava a minha cona na tua perna. O Sublime!E beijo-te de seguida, olho para ti meu amor mais sublime e repouso sobre ti até me arreliares outra vez, nem preciso de dizer que te amo tanto , mas digo na mesma...Amo-te muito ". O coração a bater descompassada mente. A mente transbordante da imagem das palavras.Eram as palavras que assumiam o papel onírico da produção de imagens eróticas. Que os alucinava para além da razão, do ser de si, raiando o irracional, o
fantástico absoluto. E os outros de si que dormiam. Alheios a esta euforia megalómana
da existência. Impúdicos. Dolorosamente solitários. Solidão. O que és?
No ecrã, um outro email. Abre o conteúdo, fremente de emoções. Em desvario:
"Estou completamente louca. Diz-me, já te tocaste, tiveste algum orgasmo? Diz-me como estás agora. O que te provoca na prática toda esta nossa troca. Eu estou com a cona a arder, estou completamente encharcada, já me vim tantas vezes. Fala-me de ti. Beijos no meu/teu caralho sublime"
Apenas as breves palavras dos orgasmos. A importância de saber se os tinham tido em simultâneo. Se houvera absoluto, ou se tinham de tentar uma outra vez, ou recorrer à
ajuda de webcams.
Os olhos velhos de ver de tão perto as letras miúdas no ecrã da máquina, esbugalhados de espanto, ou maravilhados com o êxtase possível advindo das palavras. A escrever:
"Imagino que estejas. Foste tão intensa e ardente nos desejos que não podia ser de outro modo meu caralho esteve firme até há bem pouco e estou ensopado em esperma tão docemente por ti provocado. Digo-te que te senti plena em mim, majestosa e criativa nos gestos e nas palavras. Sobretudo quente, eléctrica, a tua cona meu amor, ardente de desejo não só em ela, mas no todo que a satisfaz, como eu queria tê-la. As maminhas, a pele veludo, as tuas nádegas tão formosas, toda tu amor tão belo. Senti intensamente este enlace de cio ardente, as teclas premidas com ansiedade, a mente célere, escrevendo em atropelos. É de loucos, mas denso de sublime amor profundo. Beijo-te a cona ardente para que se acalme e prepare para novo evento e os mamilos que adivinho infinitos de prazer, num absoluto de nós.
Amo-te perdidamente."
Enviou. Estava exausto.
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