02/03/2013

NÃO ME CORTAM MAIS NADA!



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NÃO ME CORTAM MAIS NADA
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se me cortam as guias
ao pensamento
se me levam o tempo expedito
o que me resta são dias
famintos de ideias em movimento
em que eu acredito
*
se me cortam a esperança
de sonhar
se me levam presa a liberdade
o que me resta de criança
fica imerso do outro lado do mar
a asfixiar-me d'ansiedade
*
se me cortam a alma corrente
ao corpo ancião
se me levam cedo o amanhecer
o que me resta não mente
são horas desertas em depressão
o inverso e reverso do ser
*
se me cortam a dignidade
de viver em paz
se me levam humilhada a memória
o que me resta de humildade
é embrulhar-me de tristeza tanto faz
ser ou não ser parte da história
*
se me cortam a alegria
de aprender
se me levam a vontade indómita
o que me resta é poesia
armar-me de palavras para vencer
o que ninguém mais acredita
*
se me cortam a consciência
resvalo no abismo
se me levam a razão da dignitude
o que me resta é a decência
embrulho e atiro tudo ao fatalismo
sou pessoa alguém me ajude
*
se me cortam rente as pernas
para não mais andar
se me levam do corpo o movimento
o que me resta é apenas
abrir brechas no poder e respirar
pelo fim do meu tormento

autor:jrg

1 comentário:

Zélia Chamusca disse...

Maravilhoso poema que comento com a célebre frase do imortal, Eça de Queiroz:
" sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia".

Parabéns Grande Poeta João Raimundo Gonçalves!
ZCH