MEMÓRIAS DO TEMPO DAS FESTAS DE NATAL
NA VILA ONDE CRESCI...A COSTA DA CAPARICA
***
Na vila da Costa da Caparica onde eu cresci, todos os anos pelo natal toda a gente estreava uma roupa nova...todos menos os filhos da Aldigundes porque eram duma pobreza extrema...havia arroz doce na mesa, filhós e rabanadas caseiras...e um brinquedo, nem que fosse de de madeira grosseira ou de lata com pintura esborratada...
*
Matava-se o Perú que todo ano se alimentara de minhocas e grãos no juncal...às vezes de restos de hortaliças...porque era o dia de comer carne em terra de peixe farto...
*
Lembro aquele natal em que, como habitualmente, não esperava ter os presentes dos meus sonhos de menino...noite dentro ouvi as vozes da mãe e do pai num sussurro de mistério...a noite era fria mas a curiosidade aquecia-me o corpo e a alma impacientes...
*
Foi no ano em que descobri que não havia pai natal...que afinal era o meu pai quem preenchia o sapatinho à meia noite com a prenda que podia comprar...acordei o meu irmão após o silêncio que indiciava que os pais se foram deitar e fomos junto à
árvore de natal onde tínhamos colocado as botas de cardas... vimos que as botas tinham presentes...e quando nos preparávamos para os desembrulhar, ouvimos a voz do pai a mandar-nos deitar...
*
A noite passou tão lentamente que doía de tanto imaginar o que estaria dentro daqueles embrulhos compridos que não se pareciam com nada...sonhos e pesadelos alimentaram o pensamento adormecido...voltas e mais voltas na cama de folhelho .*
Enfim era manhã...já o sol entrava pela janela e ouviam-se vozes vindas da cozinha...corremos para a árvore...cada qual à sua bota...rasgámos o embrulho...e... a nossos olhos deslumbrados, um revólver que parecia de verdade, grande, de cano
comprido, com o tambor cheio de balas e que rodava...um gatilho que ao disparar fazia um estalido seco...tal qual como os dos filmes americanos que, à socapa, já começáramos a ver...com coldres e tudo...o cinturão...não...não era sonho...
*
Só muito mais tarde é que aprendi o verdadeiro significado do natal e de como havia muitos mais filhos de Aldigundes que não estreavam roupa nem recebiam presentes...
NA VILA ONDE CRESCI...A COSTA DA CAPARICA
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Na vila da Costa da Caparica onde eu cresci, todos os anos pelo natal toda a gente estreava uma roupa nova...todos menos os filhos da Aldigundes porque eram duma pobreza extrema...havia arroz doce na mesa, filhós e rabanadas caseiras...e um brinquedo, nem que fosse de de madeira grosseira ou de lata com pintura esborratada...
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Matava-se o Perú que todo ano se alimentara de minhocas e grãos no juncal...às vezes de restos de hortaliças...porque era o dia de comer carne em terra de peixe farto...
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Lembro aquele natal em que, como habitualmente, não esperava ter os presentes dos meus sonhos de menino...noite dentro ouvi as vozes da mãe e do pai num sussurro de mistério...a noite era fria mas a curiosidade aquecia-me o corpo e a alma impacientes...
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Foi no ano em que descobri que não havia pai natal...que afinal era o meu pai quem preenchia o sapatinho à meia noite com a prenda que podia comprar...acordei o meu irmão após o silêncio que indiciava que os pais se foram deitar e fomos junto à
árvore de natal onde tínhamos colocado as botas de cardas... vimos que as botas tinham presentes...e quando nos preparávamos para os desembrulhar, ouvimos a voz do pai a mandar-nos deitar...
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A noite passou tão lentamente que doía de tanto imaginar o que estaria dentro daqueles embrulhos compridos que não se pareciam com nada...sonhos e pesadelos alimentaram o pensamento adormecido...voltas e mais voltas na cama de folhelho .*
Enfim era manhã...já o sol entrava pela janela e ouviam-se vozes vindas da cozinha...corremos para a árvore...cada qual à sua bota...rasgámos o embrulho...e... a nossos olhos deslumbrados, um revólver que parecia de verdade, grande, de cano
comprido, com o tambor cheio de balas e que rodava...um gatilho que ao disparar fazia um estalido seco...tal qual como os dos filmes americanos que, à socapa, já começáramos a ver...com coldres e tudo...o cinturão...não...não era sonho...
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Só muito mais tarde é que aprendi o verdadeiro significado do natal e de como havia muitos mais filhos de Aldigundes que não estreavam roupa nem recebiam presentes...
Mas pronto...é uma tradição festiva...trocam-se presentes e comem-se iguarias...juntam-se famílias...algumas desavindas aceitam as tréguas e no calor do álcool até trocam abraços e sorrisos...por um dia descobrem a paz e o amor que trazem
escondidos o ano todo...
*
Amanhã é já outro dia e uma semana depois um ano novo...renova-se a esperança...acicata-se o ódio...a indiferença...mas há sempre alguém que se passa
para o lado do amor...um dia seremos humanidade a sério...acérrimos defensores da nossa dignidade humana e da dos doutros...para que ninguém fique do lado de fora da
festa...de todas as festas...um dia em que não haja guerra nem terror sobre os inocentes...
*
Boas festas para todos e activem a consciência...por um novo Humanismo!...
jrg
escondidos o ano todo...
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Amanhã é já outro dia e uma semana depois um ano novo...renova-se a esperança...acicata-se o ódio...a indiferença...mas há sempre alguém que se passa
para o lado do amor...um dia seremos humanidade a sério...acérrimos defensores da nossa dignidade humana e da dos doutros...para que ninguém fique do lado de fora da
festa...de todas as festas...um dia em que não haja guerra nem terror sobre os inocentes...
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Boas festas para todos e activem a consciência...por um novo Humanismo!...
jrg
minha mãe natal
meu pai natal
PS:
Obrigado meus pais Natal por me incentivarem a sonhar!...jrg
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