17/07/2011

DECÁSTICOS DA ALMA ...I (verso livre)

 DECÁSTICOS DA ALMA (verso livre)
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I
EU

o homem a nu
o corpo a alma
sem deus 
sem pátria
sem amo
faminto de amor
a  despertar
dum sonho longo
há tantos milénios
acorrentado é o que sou

autor: jrg

II
MEDO

quanto de mim de ti
é segredo oculto
por mais que 
me e te aprofundes
me e te arrojes
me e te exponhas ao risco
que grite  me grites
somos o resultado agreste
de mutações paranormais
paz e guerra palavras é o que sou...és

autor: jrg

III
AGUARELA!...

pinto o teu retrato
a tinta desmaiada d'aguarela
fixo os olhos
a sensualidade dos lábios
o sorriso de mil cores
e pinto a sombra da alma
que adeja algo perdida
sobre um feixe de luz
a tua sombra
emboscada no eclipse lunar

autor jrg 

 IV
A DANÇA...

ao toque de Ravel
imponente e mágico
o teu corpo se cola no meu
e juntos num rodopio 
fantástico dentro do bolero
lançados ao desafio
fazemos amor...
na subida retumbante
dos sons afrodisíacos
que nos ateiam o desejo

autor:jrg

V
JOGADOR

vou a jogo 
porque te amo
e o amor se joga
em cada vasa
quando te percorro
 o corpo e subo ao pico 
no cimo dos mamilos
ardilosos
e nos lábios acendo o fogo
da tua acha

autor:jrg

VI
SURPRESA

hoje trago-te flores
e a lembrança do mar
visto do alto 
de onde tantas vezes
nascemos 
no ocaso do sol
de lábios colados
à esperança...
e subimos às estrelas
por onde a lua se esgueira

auto:jrg

VII
CANGACEIRO

vivo na mata
vagabundo desnaturado
trago na veia o fardo
de criança sem amor
amo o fusil a faca
presto serviço fatal
não me peçam consciência
nem o cangaço é meu mal
tenho amor à natureza
sou nela um homem normal

autor: jrg

VIII
ASSALTO

a bolsa ou a vida
se dou a bolsa
me matam
se não dou
matam também
mais vale que a morte
se vingue
lutando p'ela vida de alguém
se tiver sorte
não morrerei por nada

autor: jrg

IX
METAMORFOSE

borboleta de cores garridas
pousada em pétala sagrada
trazes sonhos coloridos
levas nossos pesadelos
dúctil tão leve escondes segredos
leva a minha alma alada
no silêncio de alaridos
em que escondo os meus medos
ao ver-te assim destemida
nas arestas dos penedos

autor: jrg

X
AMAR

amo o doce dos teus olhos
todo eu me estremeço
quando os teus lábios beijo
e sinto que te aconteço
no amarinhar do desejo
não sei de nada enlouqueço
no fogo ardente que vejo
e me volta do avesso
quando já sinto o cortejo
das fantasias que teço

autor: jrg

XI
LIBERTINO

sulco a noite
na madrugada orvalhada
de bar em bar sem palavras
vapores de alucinação
corpos suados de fêmeas
na invenção de prazeres
bebo copos fumo cigarros
na boémia faço sexo 
nos recantos sombreados
sob gemidos possessos


autor: jrg


XII
SEXO

há um coração
dentro do teu sexo
de lábios húmidos excitados
em excitantes apelos
que partem do corpo para a alma
e se agitam nos toques
fermentados na libido
por fantasias desejos almejos
de explosivos prazeres
breves absolutos

autor: jrg

XIII
TRABALHO

não sendo um fardo
que oprima a dignidade
nem a alegria mórbida tapa luzes
trabalho é o lazer da consciência
o orgulho de vencer
socalcos de desenvolvimento
sem aturar a diferenças
espartilhos de enlouquecer
que cultivam o medo
e cortam no crescimento

autor: jrg

XIV
NOVA HUMANIDADE

podia ser
a extorsão do medo
a decadência do ódio
o fim do preconceito
entre flores
negras de fuligem
que anunciam
o fim do machismo
a idade cósmica
a explosão feminina do amor
jrg

XV
A SABEDORIA

a intensidade luz
sobre a evidência feroz da treva
o olho vivo 
a prostração meditativa
a serenidade do consciente
o olhar cósmico
o todo em tons de sonhos ávidos
que assaltam a inquietude
da alma humana
mulher ciência idade nova

jrg

XVI
PÁTRIA OU MÁTRIA

a alma humana de mulher
é mãe de toda a criatura
porque havia de ser ao homem concedido
por quem com que propósito
o direito de humilhar
traçando a rota o rumo sem destino
trazendo agrilhoada na mentira
aquela que é maior
que está para além da vida eterna
Mátria mãe da humanidade

jrg

XVII
O CAPITAL

foi sempre fruto da pilhagem
da dádiva por conquista
da força que vence o medo quando ataca
nasceu do nada ter e por cobiça
quando o ser não era tido em conta
usurpou terras as mais ricas
amealhou ouro tornado metal raro precioso
confiscou por livre arbítrio
o homem e a natureza
inventou um novo deus para sua protecção

jrg

XVIII
A RELIGIÃO

o homem é o ser mais fraco
em toda a natureza
se o abandonarem quando nasce
morre de frio de fome ou medo
desde cedo que elege mitos protectores
com ligações ao vento e às estrelas
inventou deuses por ramo de actividade
até que alguém mais erudito
lhe ofereceu a protecção real e a divina
a troco de os servir sem resistência

jrg



XIX
POLITICA


hoje que o homem se libertou do medo
que em amplas partes do mundo
se travam combates 
contra oligarquias obsoletas
hoje que a ideia de deus 
já não protege as politicas arbitrárias
e se desmistificam heranças messiânicas
está aberto o caminho da luz
hoje em cada canto do mundo
mulheres despertam para a sua consciência


jrg

XX
DA FILOSOFIA

se o homem em si mesmo
é um produto orgânico da natureza
que gira como um pião
e rodopia à volta de estrela maior
suspensa entre gazes em fusão
memórias cósmicas que não usa
e vilipendia a sua origem
usando estratagemas de linhagem
então o homem não existe

autor: jrg

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