I
quando a loiça era areada
com a terra do chão
eis que a estrada asfaltada
nos deixa sem solução
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é comprar máquina equipada
não custa um dinheirão
a prestações não dói quase nada
e poupas no coração
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quando o comer era comprado
na medida da refeição
eis que o tempo ficou parado
sem hora para confecção
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é comprar máquina de refrigerar
aumenta o espaço de lazer
não cansa uma vida por pagar
e amplia o total prazer
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quando a roupa era bem lavada
n'água da chuva do juncal
enxuga e ao sol ser branqueada
secaram o pantanal
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é comprar lava e seca numa só
pouco a pouco fica paga
não esfrega não apanha tanto pó
dura mais e não se estraga
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II
quando o banho era em água aquecida
à semana que o tempo permitia
incutiram a limpeza diária apetecida
a pele tomou odores de apatia
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é comprar apenas um clic no esquentador
num ano fica pago sem dar conta
se algo correr mal recorreremos ao fiador
mas Deus é grande compra e monta
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quando andar a pé era exercício saudável
o piquenique o arco a peladinha
criaram a ambição de ter um automóvel
encheram cidades desta mesinha
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é comprar está ao alcance da tua bolsa
não gasta aos cem a dinheirama
a vida são três dias que a morte acossa
mais vale abastança por derrama
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quando ter sexo era de natureza virginal
e o casamento eterna fidelidade
incentivaram mudança mundano bacanal
sem ética ou critério de lealdade
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é comprar amor à revelia mono parental
a fantasia a ilusão assim vendida
valem bem a submissão ao poder do capital
nesta ambição de viver desmedida
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III
quando a liberdade era condição humana
inventaram direitos de propriedade
para uns o todo material riqueza insana
para os demais o céu é a felicidade
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quando a ideia de deus no mundo morreu
abalados pela fúria da multidão
enclausurados na riqueza já apodrecida
inventam usura prendem Prometeu
cessa a abastança exigem a paga da ilusão
sob pena do caos na terra vencida
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quando no Planeta inteiro se ouve o clamor
contra insídia do poder descricionário
contra a nova escravatura eleger do amor
a real sabedoria ou era do visionário
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quando promíscuos os cinco continentes
geridos por secretas sociedades
destruem de consenso florestas e animais
mudam fronteiras elegem tenentes
impõem regras geram tétricas calamidades
lançam desespero sobre os demais
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é tempo do povo humano civil desobedecer
falar na hora a mesma linguagem
juntar o pensamento e de mãos dadas vencer
a letargia que ocultou sua coragem
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por toda a parte onde a palavra se respira
um ramo de flores ou de floresta
uma miragem oceânica uma partícula de ar
pela mão de uma criança que aspira
em ser nesse mundo novo alguém que presta
e não podemos injustamente melindrar
autor: jrg
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