09/10/2010

TEMPESTADES

foto de Carla Sofia Ferreira
o Planeta gira à deriva
contrário à lei cósmica global
seis biliões de gente
que da morte não se priva
nem do medo visceral
que os arrasta na torrente

são deuses agnósticos
sementes de amor e ódio
todos iguais todos diferentes
sejam tratantes ou médicos
sábios fora do pódio
cientistas prepotentes

acontece tudo ou nada
tão de repente
visto da praia suada
dentro da gente

o mar ainda sereno
o sol memória
a meio da trajectória
o vento ameno

a maré enche os esporões
já não há abrigos
nem cardos nem chorões
sobre os médos antigos

lentamente a brisa
vira a sudoeste
engrossa a água frisa
torna-se agreste

traz o cheiro da maresia
nuvens carregadas
escuras encurtam o dia
vagas encapeladas

cresce o mar impetuoso
nas ondas irrequietas
sem tréguas do tempo ventoso
alegres assustam profetas

uma rajada de vento forte
o areal estremece
altera os médos a sul a norte
uivam os cães se anoitece

formam-se cristais
em volta de estranhos objectos
solta a sinfonia de sons abissais
raios trovões despertos

abana o corpo frágil
na ousadia se fosse mulher
o rugido no vento táctil
a fazer sentir o seu poder

ribombam ondas imponentes
que rebentam com fragor
voam gaivotas imprudentes
renasce a emoção do amor

não sou um intruso
ensopado  na chuva
de todos os continentes
estou alegre e confuso
sou o homem à beira da curva
colhendo as sementes

não sou um intruso
antes um elemento nefasto
que a tempestade acolheu
rosca sem parafuso
rês tresmalhada sem pasto
sem medo da noite de breu

autor: jrg

Sem comentários: