Sei que não sei, mas atiro pedras cruzadas, sem rumo certo, nem alvo fixo, como quem pergunta, na salada de respostas que me interiorizam, se há um lado certo, ou se apenas um momento certo, uma conveniência de grupo, para determinar a justeza dos acontecimentos.
Hoje sei, saberei?..., que nenhum homem é suficientemente importante, ou capaz em si próprio, para se afirmar como a evidência de todos os outros, como a esperança, como o condutor das vontades de um universo maior que aquele que ele é na realidade, como o salvador ou o guia da desesperança, nem para ser aceite como tal.
A análise das leis do Universo Humano pode ser feita através de um único ser, mas ele,ou isso, não determina que ele seja mais superior que qualquer outro, enquanto individualidade. Porque será sempre uma análise subjectiva, de ele enquanto potência de si próprio e ou ao serviço de outros interesses, manipulado ou engajado ou principescamente pago para direccionar o seu discurso na direcção pretendida pela entidade ou grupo de entidades, que detém o poder real da matéria sobre o espirito.
Poderei dizer, igualmente, o mesmo pressuposto em relação aos que pretendem direccionar o rumo do espirito sobre a matéria, com mais probabilidades, até, de acertar, porque esses devem o seu sucesso comprovado, hoje decadente, à custa da afirmação dos outros, dos da matéria, na esperança de nos submeter pela espiritualidade.
Teremos de começar pelo homem e o circulo amplo da amizade,ou da empatia psíquica e ou hormonal, ou pela força dos músculos ou da violência congénita, ainda no banco da escola, quando ele se destaca pela facilidade da aprendizagem e a sua transposição para a realidade, exteriorização de sentimentos que captam a empatia geral, ou de um número considerável de condiscípulos e mestres.
A sua luminosidade exposta granjeia antipatias em outros grupos. E aí, ou ele se rodeia de um grupo forte que o adula e protege, que se serve da sua mais valia intelectual e o condiciona na sua liberdade total, ou se reduz, progressivamente, a uma anónima progressão subjectiva da sua totalidade. Seduzido por si próprio, muitas vezes é ele que se deixa enredar nas teias complexas das relações entre pessoas e grupos, porque cada pessoa é um Universo, e um conjunto não forma forçosamente uma unidade, mas um agrupamento de individualidades em disputa por cada afirmação de si próprio, ainda que pareçam concordar com a ideia geral, ou com o elemento que lidera o projecto ou ideia. Há uma aparente unidade de contrários, quando o fim em vista é o poder real, ou a parte dele que interessa em determinado momento de tempo.
O líder é apenas um personagem que, mercê das suas qualidades estéticas, da sua maleabilidade face aos poderes de facto, se propõe ser o cabeça de cartaz de uma fantasia de poder. Ele destaca-se pelo que diz e a forma como o diz, não pelo que faz, porque efectivamente ele não pode fazer muito do que se propõe em propaganda. O líder é um tipo de homem flexível na sua aparente inflexibilidade. A máscara do carácter cai quando a rigidez dos conceitos se abate sobre si próprio.
Quando eramos crianças, há uns anos atrás, quando nos cerceavam a vontade da descoberta com a palavra e a imagem de Deus. Quando nos amordaçavam com os castigos corporais e psicológicos, nos impunham a austeridade dum chefe implacável ante os nossos erros, tínhamos medo de tantas pequenas coisas que nos habituámos a engrandecer, como um papão a evitar. Um dirigente do estado era como que o dono de todos nós e ele era-o por vontade de Deus, logo , devíamos-lhe obediência cega. E eles acreditavam no seu poder sobre nós quando nos viam curvar ás suas ordens e decretos. E abusavam de nós, da nossa credulidade até um limite que só eles julgavam saber, o da nossa resistência ao fim da passividade das almas ordenadas em obediência a Deus.
Poderemos dizer hoje que o mito de Deus acabou, que toda a trama dos poderes, dos medos, se desmoronou e o homem se vê, como há milénios, de novo só, mas mais sábio,mais só e sem conhecer o seu rumo , nem a razão de ser da sua sobrevivência enquanto animal de "inteligência superior".
Hoje sabemos que o homem de inteligência superior, que aproveita as experiências acumuladas para as transformar, criar ou recriar em favor do nosso pretenso bem estar, não é um imediatista, nem lidera qualquer causa humanitária, que é a essência dele próprio enquanto sábio.
O poder é de lobies, desde logo no cimo da pirâmide do poder, mas igualmente em todos os campos da nossa existência, mesmo no trabalho, os sindicatos, mesmo no local de emprego, o grupo dos que adulam o chefe, mesmo na amizade, os intriguistas, mesmo no amor, os convencidos da sua materialidade, mesmo em cada um de nós, o conjunto das bactérias que num dado momento, nos anulam a imunidade adquirida.
Isto para dizer que a vitória de uma qualquer individualidade numa eleição Nacional ou mundial, não é a vitória dum preceito, mas apenas de um conceito. Ele obedece a regras estanques que o cerceiam na sua acção. Ele é um produto do marketing criado para promover produtos e o homem enquanto produto a consumir por outros homens. Tem qualidades a prazo, desde logo o de comunicação. Mas as palavras esgotam-se em discursos perante a paralisia da acção e o desencadear das crises do conjunto.
As crises mundiais, podem ser vistas um pouco como as pragas de Deus aos egípcios, deixaram apenas de ser sete. E são criadas para movimentação cíclica dos grupos de poder, para que possam aparecer os seus produtos de nova geração, como a solução salvadora das nossas inquietudes. E para que nos aquietemos na nossa sede de mudança, de querermos ser tidos em conta.
Insisto numa direcção, não tão rígida que se queira impor, mas reflexiva ela própria, de dentro e de fora da ideia: com a queda do mito de Deus e do papão, o comum dos homens despertou, procurou saber mais da sua história, rebuscou na essência do seu ser reminiscências das origens, abdicou do seguidismo de lideres e procurou assumir-se como líder de si mesmo, é uma procura que persiste, em cujo centro evolutivo estamos a viver os momentos da mudança. Extinguem-se os resquícios da submissão, tanto se chama ladrão ao que nos rouba presencialmente, como ao que nos encurta o orçamento no silêncio dos gabinetes. Perdemos o medo. Aceitámos a emancipação da mulher, como um dado adquirido, uma evidência tão afirmativa que pasmamos de a ter permitido. Ainda há quem apelide de traição quando apenas assumimos uma expressão sentida do nosso amor a uma causa. Mas isso é o desespero da desesperança.
O homem aprende-se de si próprio e ergue-se majestoso na sua humanidade de novo tipo, a requerer a formação de um novo lóbie Universal, o lóbie dos sábios, não dos catedráticos emplumados em conceitos estereotipados da realidade , que não o têm como fim, a ele homem,. Dos sábios mesmo, os humildes que não querem ser tidos como superiores, que legam as suas ideias sem recolha de fundos, para que sejam moldadas ás conveniências dos que se julgam hoje imortais e tudo detroem, a fauna e a floresta, o ambiente e a paz salutar entre tudo o que respira.
Esse lóbie dos sábios, que terá em conta o homem em si mesmo e o que de fora dele o sustém enquanto membro de um Universo complexo, despretensioso de poder, utilizando a sabedoria como arma única de pacificação explosiva está na crista da onda da mutação que se desenha no horizonte do tempo.
4 comentários:
Mais uma vez...palavras para quê?
Um abraço de um admirador
...e cá ando eu no fimal do dia a ler direito de resposta :)
Para fazer pensar o que escreveste...
Lembrei me de um poema de Álvaro de Campos...onde ele diz: "Que sei eu do que serei eu que não sei o que sou"
Para o caso de veres ainda este comentário...uma boa semana *
Rui.
Desculpa-me, só agora dei pelas palavras. Agradeço a tua estima, o teu dizer que estás aí.
Um abraço forte amigo
Maria Lobos.
O aviso do teu comentário foi parar à caixa de spam!...logo,só dei pelas tuas sempre belas e queridas palavras neste momento.
Fernando Pessoa é um exímio intérpetre do ser Português, do ser pessoa Universal e dixou-nos este legado de pensamento, pesquisar o que somos, para que somos, que raio isto de estar aqui se não nos sabemos, se nos limitamos a inventar o que somos.
Um beijinho para ti doce amiga
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