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minha ambição é toda a alma humana
por ela vou eterno confiante
levo a memória milenar das origens
sonho que do pensamento emana
levo o amor que me fez fiel amante
fantasia que me traz vertigens
*
há um sonho secreto para desvendar
que desde criança me acompanha
faz parte do meu ser mais original
um sonho talvez de olhar o mar
de sentir no vento a alma estranha
ardências do meu fogo visceral
*
ou este pesadelo da alta madrugada
que me acorda em suores frios
entalado entre a mentira a verdade
ante a lei de não ser ou nada
navegante sem rumo por entre rios
à beira de abismos da vontade
*
quem me prende o livre pensamento
a pausa a dúvida a sensaboria
a barbárie que destruiu testemunha
voltar atrás por um só momento
montar de novo tragédia e alegoria
colher do riso e da caramunha
*
sendo alma o instinto humanitário
plena de sensores biocósmicos
agindo no nosso corpo intermitente
em interligações e sem horário
secreto sistema de canais iónicos
que propagam na emoção a mente
*
respiro fundo num olhar alucinado
dentro do sonho outro sopesar
a Terra gira em torno de si mesma
arrasta Lua e Sol apaixonado
e em volta dele majestosa a girar
mantém expectativa do sistema
*
meio século rotação e translação
à roda do eixo belo feminino
a cada movimento avulta descoberta
do novo sentir amor o coração
o sonho revela segredos de menino
na minha alma inculta de poeta
*
conto os anos que passam a correr
nesta avidez de ganhar à morte
desdenho hiatos contemporizadores
filtro luz na esperança querer
procuro o rumo que devolva o norte
traço de união dos meus amores
jrg