26/06/2009

TODA A TEMPESTADE TRAZ BONANÇA

DIA INTERNACIONAL DO COMBATE ÀS DROGAS-Blogagem Colectiva ( I )
a minha participação: neo- jrg ( I )
in
CD - Lado B blogagem colectiva

Que bom ver-te, meu menino! E como estás bonito!
Há quanto tempo não te via, os olhos brilhantes e o rosto cheio de carne sadia. O falar fluente, a alegria, o abraço forte, o beijo.
Fico a olhar os teus gestos decididos a desfazer a mala. A arrumar tudo meticulosamente.
Há vinte anos que te não via e só guardava a tua imagem de menino. Lindo, de olhos grandes, castanho-escuro, os caracóis em revolta na cabeça de sonhos. E o sorriso. O brilho do teu olhar sobre o sonho.
Voltaste a sorrir, como quando jogávamos à bola na mata em frente, tão perto do mar, e te fazia perder para ouvir os teus protestos, porque só querias ganhar. Ganhar sempre, ser o primeiro e pergunto-me porquê? porque de deixei ir?, porque te deixaste ir?, que forças te arrastaram na enxurrada da indignidade.
Que bom ver-te meu amor. Sentir que não te levaram de todo. Que ainda resistes e estás mais determinado do que nunca em vencer.
Bem podias ter vindo mais cedo. A minha mão esteve sempre estendida do lado de fora do mundo em que caíste. Em frente de ti. E sempre que te via, acenava-te. Gritava o teu nome. Filhoooo !!!...no silêncio que me doía, na angústia da tua ausência, tu, ali tão perto e longe, longe...
As novidades? Estamos bem, como vês. Chegou uma menina encantadora que cresce plena de felicidade. A neta, tua sobrinha. O pai está desempregado A mãe, continua batalhadora. Estamos bem, como vês. Endividados, nas mãos de agiotas legalizados, mas havemos de chegar a porto seguro, estamos bem, como vês, porque tu és vivo e estás de novo do lado em que estamos.
Que bom ver-te com a esperança embandeirada. O hino de confiança. A paz que regressou ao teu coração desfeito em rotura com o mundo. O fulgor rutilante dos teus olhos, de novo.
Que bom ver-te, fruto de um grande amor , quando já desesperava de te ver.
Bem-vindo a casa e fica, se vieste para ficar.

( palavras de pai para filho acabado de chegar da comunidade terapêutica, para se fazer à vida) neo-jrg

A matemática, esse quebra-cabeças dos Portugueses em geral, não é uma ciência mítica só ao alcance de alguns iluminados, mas porque é manipulada ao sabor de interesses que ainda persistem e consideram que "em terra de cegos quem tem olho é rei", continuamos a navegar em teorias de combate ao insucesso , condenadas a manter os níveis aceitáveis de cegueira colectiva.
Actualmente a proliferação do consumo de drogas por amplas camadas de juventude de todo o mundo, tornou-se num flagelo que nenhum governo tem conseguido estancar.
Desde sempre houve consumo de drogas, que não eram proibidas, nem atingiam os preços a que são vendidas nas ruas, nem geravam fabulosos lucros. Em consequência, quem sofria de stress por drogas comprava-as onde era possível ou optava pelo vinho. Era uma minoria, contestatária, talvez, das regras de convivência que se iam alterando. Sinais de rebeldia que prenunciavam mudanças radicais.
Eu penso que a partir da eclosão do Maio de 68, se espalha a ideia reivindicativa de que vale tudo. É proibido proibir tudo. Amor livre. Abaixo os poderes instituídos . A inalação de drogas pelo fumo avança em todas as direcções. As democracias tentam resistir, mas rapidamente os senhores da finança vêm ali um filão inesgotável, e são eles que financiam o estado e que o controlam. É para eles que as leis são manipuláveis, no esgrimir de interpretações por magistrados e advogados que as leis permitem. O legislador pondera os riscos da descapitalização e no meio dos artigos que condenam, há sempre uma alínea que descriminaliza. Não há crimes de colarinho branco nem lavagens criminosas de dinheiro derivado de produtos considerados ilícitos, porque o dinheiro é muito e compra tudo o que se apresente como obstáculo, é uma teia sem aranhas. O povo diz:"quem cabritos tem e cabras não cria de algum lado lhe vem..."
Aqui, em Portugal ,o consumo de drogas disparou com o advento da Democracia, não por culpa da Democracia, antes por uma coincidência de tempo, porque estamos sempre atrasados na ventura e na desgraça.
O consumo e o tráfico são proibidos e condenados com pena de prisão.
Milhares de famílias são assoladas por esta praga, Adolescentes instigados ao consumo sobre os mais variados pretextos de afirmação pessoal, de desinibição. de ser mais forte. Jovens, meninas, lindas que foram, agora enrugadas, prostituídas, devassadas.
Os pequenos cartéis de tráfico organizam-se. No interior das prisões superlotadas continuam a traficar e a consumir. Nas ruas os chamados pequenos delitos. A saga da moedinha para o arrumador que surge, do nada quando já tínhamos quase arrumado o carro.
Roubam os pais, a família, os amigos. Vendem tudo o que tem comprador e há quem compre É um negócio de lucros fabulosos, onde se vende tudo até a dignidade.
O estado, nós todos, financiamos as medidas ditas profiláticas que o governo implementa, de apoio financeiro às comunidades terapêuticas de reinserção, aos tratamentos em ambulatório, com resultados deficitários de recuperação efectiva e duradoira, nascem novas clínicas especializadas , criadas por psiquiatras e outros técnicos terapeutas, algumas possivelmente financiadas por dinheiro proveniente da venda de drogas e destinadas a uma camada da população financeiramente desafogada.
As polícias investem na formação especializada no combate ao tráfico. Os criminosos detidos em resultado das investigações são postos em liberdade. Presos são os consumidores, por consumirem e por roubarem. A droga e dinheiro apreendido nas operações, desaparece em circunstâncias misteriosas.
Os verdadeiros agiotas do tráfico continuam impunes. Participam, até, na discussão. Influenciam politicas. Corrompem influências. E seguem na matança intelectual e física do que melhor tem um povo, uma nação.
Surgiu o HIV, as hepatites B e C proliferam.
As famílias a lutar contra a insolvência absoluta. Sem ajudas oficiais, dependentes da força que os catapulta para a frente, da ajuda de uns poucos amigos e familiares que a dinâmica vai gastando, a ganharem tempo.
Condenadas, até, por não terem sido capazes de evitar a desgraça.
Alguns países adoptam medidas para liberalizar o consumo de drogas, que passa a ser disponível em farmácias e locais apropriados criados para o efeito. As noticias sobre a eficácia: se aumentou-reduziu-estagnou, não são distribuídas na mesma dimensão.
Por cá, e não só, os arautos tentam explicar-nos em equações algébricas e outras engenharias matemáticas, que a liberalização não é possível. Iria criar mais dependências, facilitar a transacção entre estados!?...aumentar o consumo, etc.
E nós a percebermos que dois e dois são quatro em qualquer circunstância e que somados sucessivamente, chegamos aos milhões da ganância, que matam e morrem pela ganância de viverem na abastança erguida sobre o sofrimento, a dor e a desdita de quem vê um adolescente primoroso ser arrastado impunemente nas águas sórdidas da mentira.
Toda a gente com bom senso sabe que a solução é só uma: liberalização. Tratamento eficaz com disponibilização de todos os meios, clínicos, ambulatórios, psiquiátricos, de entreajuda e acompanhamento de proximidade. Informação desde os primeiros anos de escola, a consciencialização de professores e auxiliares de educação. Todos, de uma forma organizada, que UTOPIA, nem o facto de alguns dos filhos dos poderosos da droga serem atingidos pelo problema os desarma, em todas as frentes.Tanto os que são contra como os que são a favor, os que só tem a perder com os negócios das drogas, sabem que a liberalização, a venda livre dos produtos em farmácia, acabaria com o tráfico. A determinação dos estados, onde a droga é produzida, para reconverter as culturas, é outra Utopia, sabendo como há estados totalmente dependentes do comércio de drogas.O problema está no que está em jogo: dinheiro, poder, ganância. A vida e a morte. O filão é imenso e corre a favor das máfias que controlam e dinamizam o comérico de todas as drogas. Há uma crise mundial de valores. O Planeta debilitado pela poluição e pelas atrocidades cometidas ao longo dos dois últimos séculos. A falência dos sistemas financeiros. O desemprego generalizado e a falta de alternativas.É só imaginarem a quantidade de gente que beneficia com a proibição e crime sobre o consumo. A corrupção das consciências, a coacção sobre as vitimas e as famílias. O tráfico de influências.Os argumentos dos que são contra a liberalização do comércio das drogas: Paraíso para os traficantes. Mentira, tudo palavras de conveniênciaE quanto aos traficados? Crianças, jovens, famílias!.. engajadas neste esgrimir de posições, tratados em subserviência, com listas de espera nos espaços de reinserção, sem um programa consequente que os insira no mercado de trabalho, deixados à sua sorte num mercado à míngua. Estigmatizados. Frágil é a esperança que alimenta a auto-estima em reconstrução.
Consciencializar, difundir pelo mundo a palavra de ordem de não às drogas, ser cada um um transmissor de esperança, não aproveitando-se, por exemplo, duma menina que se oferece para a prática de fantasias sexuais para satisfazer à ressaca, mas estender a mão à esperança com esperança.

13/06/2009

EU FAÇO SEXO COM AS PALAVRAS

atenção que eu faço sexo com as palavras ditas
e do sexo entre as palavras nasce palavra nova
que sendo muitas e irrequietas podem ser malditas
interditadas numa relação quando postas à prova

atenção que eu faço sexo com palavras compostas
afogo em orgias desassossegos vindos da genética
não se iludam as virgens as inconstantes de amostras
ligações fortuitas ou devaneios de forma frenética

atenção que eu faço sexo com as palavras abjectas
mergulho na sordidez da falsa esperança
esconjuro da ética as boas práticas indiscretas
enganosas damas que perjuram n'aliança

atenção que eu faço sexo com as palavras obscenas
soltam risadas atrevidas captam afectos
movem-se ousadas entre castas meninas serenas
seguem incólumes sob os olhares circunspectos

atenção que eu faço sexo com as palavras sublimes
escorrem discretas pelas almas carentes
exaltam fervores em amantes que oprimes
desenganadas de amores ausentes

atenção que eu faço sexo com as palavras urgentes
quando no limite desesperadas se me confiam
abraço causas esconjuro amantes inconsequentes
e deixo que me amem na alegria de saberem o que já sabiam

porque sou amante do vento forte tempestade
e da água que corre com força na torrente
exulto perante o fogo que arde na cidade
e é tudo amor o que sinto na terra quente

jrg

07/06/2009

AMORES VADIOS

sabia que era um absurdo eu querer acreditar
que era possível tão jovem amares um ser envelhecido
sabia que tudo o que dizias iria ter em breve que findar
mas deixei que o meu pensar fosse por ti conduzido

eram palavras exaltantes que me penetraram
como numa tortura foste induzindo subliminares ilusões
aromas fortes consentidos que me perfumaram
e fui sendo cativo de ti das tuas tentações

inventei desculpas sem qualquer sentido para continuar
conversas ardentes libidinosas pelas noites adentro
no quarto ao lado uma mulher inquietava-se por me amar
imagino o teu quarto e a angústia de um homem sedento

amantes à distância em maratonas de contentamento
soltos infantes de dia e de noite arrufos gargalhadas
palavras vadias há muito amarradas no pensamento
ânsias de aventura correntes desfeitas desenfreadas

segredos da alma intimidades as palavras obscena
sorgasmos sentidos na solidão dos corpos em polvorosa
amar-te-ei sempre como só eu sei amar-te e tu fizeste cenas
se me despedia e te deixava assim despida enganosa

dei por mim a viver intensamente duas vidas de amante
a sentir-me traído eu próprio nas minhas convicções
mas cativo de ti incapaz de um gesto menos galante
a arrastar-me apercebendo-me do desfecho das tuas intenções

era como um garrote em volta do pescoço que me sufocava
um sufoco de perder-te porque te julguei bela apaixonada
e perdi-te de uma forma acintosa sem brilho nada mais restava
porque não havia nada apenas um devaneio de mente insanada

inventaste perfídias que te desnudara em público a intimidade
seguiu-se o silêncio a alma possessa o debate do ser as consciências
espasmos contradições a revolta do sendo em sua saudade
vendo-te rir sem emoções como se apagasses reminiscências

há imenso tempo que me dóis desde quando éramos namorados
e me sorrias deleitada com o que te encantava a minha sensualidade
dóis-me de ti descontinuadamente atormentas os meus neurónios esgotados
fiquei sem tesão com medos e um medo tremendo da realidade

perdi eu sei sou um perdedor e fiquei mais uma vez engajado
a um projecto de amor absurdo e sem via que não tinha saída
soltam-se risos em volta dos meus desabafos de mim ocado
não sei ao que vou se regenerarei um dia a alma esvaída

j.r.g.