27/06/2012

A TAVERNA LITERÁRIA...


imagem pública tirada da net
*
A TAVERNA LITERÁRIA
*
foi trespassada
com todos os activos
e passivos
feitas as contas de exercício
pela nova administração
sobrava apenas lixo e pouco mais
de poemas e palavras
e de gente sem valor em demasia
que punha em perigo de rotura
intelectual
uma Taverna que nascera
para ser vínica
e de alforria à sede mundial
*
descobri por acaso
o edital
que se propunha interditar
o acesso a mais despejos
de lixo poético indocumentado
*
como fui eu parar a tal taberna
se sou abstémio
alguém me convidou
bebi cachaça
por vergonha ou boa educação
comi doces e salgados
pareceu-me que era asseadinha
*
tem gente o mundo
que cria espaços para ser loado
e se deixa embevecer
pelo comentário mais banal
eu não
se edito as palavras que a alma tem
são como pedras atiradas ao lago
penso positivo a reacção
se as comentam com lisura aprendo
mas se não há coisa nenhuma
aprendo a atirar noutra direcção
agora lixo...Não
são pedras!..senhor Elias Pacheco

autor: jrg

25/06/2012

MAIS POVO E MENOS LIXO...



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MAIS POVO E MENOS LIXO
***
nada mais é de verdade
depois de tanta mentira
vivemos da caridade
daquele que mais nos tira

alguém pode acreditar
que um povo faça riqueza
sabendo que lha vão roubar
com insensível dureza?

somos um povo bastardo
perdido da nossa origem
varremos os bons a petardo
a ver se os maus nos corrigem

corre pelo mundo uma história
de portugas amansados
por astutos sem memória
que escondem verdade aos roubados

passados novecentos anos
de revoltas sobram mitos
Maria da Fonte fez danos
e Bordalo criou manguitos

saem ufanos atrás da tropa
ou quando nada mais resta
iniciativa própria puf! que droga...
se a tomam é para a festa

não penso que seja o fado
a melancólica canção
que traz um povo cansado
sem alma nem dimensão

fomos celtas árabes marranos
galegos de religião e touradas
futebol e outros enredos humanos
com nervuras adulteradas

à força quase empurrados
passam a sábios doutores
corrompidos pelo ter aprisionados
voltaram a ser pastores

pelo meio ficam protestos
gritos de indignação
roubos de estado grotescos
a soldo da constituição

um povo assim tão rude obsoleto
já não se usa em sociedade
ainda que encapado em douto lhe falta o repto
que todo o ser livre faz à liberdade

se ao menos o tempo parasse
a tempo de tudo inverter
dando tempo a que surgisse
uma ideia a defender

fica a fama ultra-liberal
de ser povo gastador
quem construiu Portugal
foi coelho o caçador

somos um povo castrado
por anos de servidão
a procurar sempre do lado
contrário ao coração

querem-nos normalizados
aptos para exportação
achamos graça coitados
haja quem nos dê a mão

que fazer perante tal tragédia
sem alma não há movimento
triste drama o da comédia
que nos corta o pensamento

não há tempo para a glória
de sermos um povo amestrado
que evita o confronto da história
por impotência sagrado

há gente que pensa diferente
até pelo mundo inteiro
ser Português é ser gente
ouçam quem sente primeiro

de palavra na lapela
razão ao peito por entendimento
nem pátria nem capela
livre luz ao puro pensamento

se para tal for preciso
façamos sem rodeios a revolução
paramos Portugal com um sorriso
de corpo e alma livres da prisão

libertemos as crianças do marasmo
de serem o oásis no deserto
um povo que não ri morre de pasmo
um novo humanismo está por perto

deste povo nem posso não ser
por isso me inquieto
planto flores na esperança de nascer
a alma feminina que poeto

autor: jrg

23/06/2012

DO OUTRO LADO DA VIDA - Convite Lançamento Colectânea "CORDA BAMBA"



imagem de Pastelaria Estúdios Editora
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DO OUTRO LADO DA VIDA…
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Era tão de noite, alta madrugada e vieste, silenciosa como um felino, de manso caminhar por entre escombros, ruínas, da velha cidade adormecida. Tu e eu, num recanto da rua mal iluminada.
Os teus olhos ainda grandes, mal me olham, assustados. A pele do rosto descuidada e manchada pelo cisco das poeiras adejantes, sobre os antros onde te arrastas. Magra, diria escanzelada, enferma de carinhos e de ambição.
O sistema traiu-te e tu trais o sistema. Pagar na mesma moeda. Dente por dente. Sem olhar atrás nem para a frente nebulosa do caminho. Para ti, chegaste ao termo da etapa que para outros ainda é tão curta
Amparas-te no meu braço enquanto caminhamos lado a lado como dois amantes estranhos que tivessem combinado encontrar-se a esta hora, no momento estremo em que deambulavas na ânsia de encontrar algo, alguém que te bastasse o consumo da tragédia que já és.
Penso-te...que faço eu a teu lado? Do lado de fora de ti mulher…apenas te olhando no íntimo da tua ansiedade.
Deixo-te sentada no carro e volto à porta do bar. Não ao Bar. Apenas a porta, onde um tipo de assobio saltitante, a barba indigente, puxa fumaças agressivas de uma espécie de cigarro.
Compro três tomas do produto que me indicaste e regresso ao carro em passos decididos. Tenho pressa.
Estás inclinada para a frente e uma humidade indecisa a bailar-te, escorrendo dos lábios entreabertos. Caíste sobre o banco. Tremes de alucinações. Balbucias palavras inteligíveis. Arranco com o carro, tenho pressa, enquanto preparas o produto e o injectas numa das veias disponíveis, sob o meu olhar de soslaio.


...jrg

Nota: excerto do texto de minha autoria, uma pitada do recheio que envolve esta iguaria de emoções...reservem já o vosso exemplar...com a dinâmica da editora...a edição esgota-se num ápice...jrg

13/06/2012

PENSAR...


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PENSAR...
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penso à antigamente
de pensar não tenho pressa
tão lento alma sente
pensamento que atravessa

penso de forma antiga
sentado sobre mar pensar
o pensamento me diga
quando à terra vou voltar

penso nos pensadores
que pensam pensando dor
que dói perder amores
quando a liberdade se for

penso nas crianças
meninos meninas travessos
crescendo nas andanças
para não serem inversos

penso hoje o não ser
o nada absurdo e absoluto
sou alma de mulher
cansada de carregar luto

penso sórdido atroz
que haja gente mesquinha
homem que corre veloz
se vale a riqueza que apinha

penso sentir o penar
de quem se pensa ambição
raivoso de não sonhar
sendo estranho à solidão

penso ser em de tudo
e nada entre tanto de meu ter
nem o corpo que se queda mudo
se a alma adormecer

penso na avareza fútil
nas mentalidades obscuras
na esperteza soez subtil
com que alguém se ufana nas alturas

penso no sentimento
da amizade pura e do amor
onde reside o meu alento
dum mundo novo cheio de cor

jrg

07/06/2012

TENHO SETE BILIÕES DE AMIGOS...




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TENHO SETE BILIÕES D'AMIGOS
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tenho sete biliões d'amigos
entre os humanóides
e muitos mais de espécies tão diversas
às vezes espreito as estrelas
do lado de fora a ver se vejo outra gente
numa órbita de amor
livre da sordidez apática financeira
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tenho sete biliões de amigos
tantos tão diferentes
à deriva no celeste firmamento
uns têm pão e água
outros à mingua de alimentos
temos de comum ser na alma
uma criança que ainda não se achou
*
tenho sete biliões de amigos
cada um à procura de motivo para viver
uns são poetas pensadores ou seus contrários
outros são algozes de si mesmos
enredados nas teias de divinos medos
todos vivemos suspensos
da lei gravitacional e da memória
*
tenho sete biliões de amigos
encarcerados no degredo da humana história
divididos por mesquinhas uniões
que potenciam o ascenso de aldravões
destruindo muitos reinos naturais
em nome da mítica inteligência racional
que encobre
*
tenho sete biliões de amigos
à procura de resposta à sua identidade
uns sabem muito de tudo outros de nada
equilibrados por ligações fantasmagóricas
elegemos o ouro como riqueza metafórica
uns esbanjam o ar a água a terra fértil
outros ardem no fogo dos desertos
*
tenho sete biliões de amigos
ah se todos acorressem por um só de tantos sete
e num mítico apelo da razão
uma forma nova de viver reinventassem
onde cada um do outro seria irmão
onde todos acatassem a ordem natural das coisas
plantas mares animais ventos
*
tenho sete biliões de amigos
todos gerados num ventre duma mulher
todos nasceram nus
todos gritaram por comer por protecção e por afectos
que racionalidade os dividiu
em pobre e ricos? que deus ou por que lei?
se todos nasceram tão frágeis
*
tenho sete biliões de amigos
em toda a parte quero que sintam o meu amor
também pelos elefantes leões golfinhos
pelos cães gatos macacos tigres e tubarões
pelos rios mares serras e montados
florestas glaciares plantas e cidades entre as flores
o único poder que reconheço é o da força de viver
*
autor: jrg