27/09/2011

UM SÁBIO SENHOR DE FINANÇAS...ZÉ POVINHO...E O SAMURAI DO FEUDO...



UM SÁBIO SENHOR FINANÇAS...
ZÉ POVINHO...
E O SAMURAI DO FEUDO...
imagem pública: obra de Rafael Bordalo Pinheiro

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1º acto (sábio senhor finanças)
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um sábio senhor finanças
quer casar o Zé povinho
com forças de outras andanças
julgando o povo parvinho

um sábio que mima a pilhagem
com doses de dramatismo
quer casar a "malandragem"
à sombra do despesismo

um sábio que em palco alheio
se curva subserviente
quer casar o papo cheio
com povinho obediente

um sábio que corta na luz
sobe gás transportes salários
quer casar quem ele seduz
Zé povinho com usurários

um sábio senhor de magia
de aspecto mítico louco
quer sem dote a fantasia
 a casar com filantropo

um sábio assim tão de rico
não merece abstenção
por querer casar o onírico
com a sua maldição

um sábio senhor financeiro
das longas noites refém
não pode perder dinheiro
casando povo e desdém
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imagem pública:obra de Rafael Bordalo Pinheiro
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2º acto (zé povinho)
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sai à rua indignado
Zé povinho de tanta suficiência
não quer ser à força mimado
nem casar por mera conveniência

porque há ainda mais
estagnaram salários pensões
confiscaram os natais
subiram medicamentos com menos comparticipações

gastaram-me as energias
puseram a nu o estafado segredo
quem corre por mordomias
esconde dos outros seu medo

afinal o outro é que era ladrão
mentiroso incompetente
perdeu por insidia vossa a razão
à custa do povo indiferente

o feudo está paralisado
desemprego nem rei nem roque de emoção
sujeito sem predicado
não faz do verbo oração

quem chamou o vento que colha a tempestade
sou Zé povinho à condição
um povo que se deixa casar com a insanidade
perde o seu lugar de livre cidadão

deste modo não me casam não
perdi a maré da vontade
por mais que me empolem de nação
quero a minha liberdade

***
imagem pública: obra de Rafael Bordalo Pinheiro
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3º acto (samurai do feudo)
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não te minto agora Zé povinho
são mais dois anos de abstémia financeira
sou eu quem te dá o pão e o vinho
mandei varrer o jardim mais a sua bandalheira

não escutes as vozes estranhas
que falam de novos intensos tornados
nem cuides que são patranhas
quando ameaço os mais indignados

é preciso trabalhar mais e melhor
ganhar menos por emprego
libertar o subsidio para o financeiro mor
que de dinheiro anda sôfrego

os ventos mandam mudar
do social a ventura
somos marinheiros temos mar
e terra de semeadura

não faz sentido ignorar
que conhecimento empanturra
por isso mandei mandar
que se despromova a cultura

nem dá saúde manter
cuidados e descontos exacerbados
melhor será ver morrer
os doentes mais acomodados

casa Zé com esta nova postura
talha a tua vida à maré da boa sorte
que os ventos são de rotura
com o estado previdência a monte sem norte

***
imagem pública: obra de Rafael Bordalo Pinheiro
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4º acto (zé povinho)
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indigna-me ser povo e Zé tido por ignorante
basta de insultos à minha inteligência
digam a essa corja que vos manda que sou eu o mandante
não caso com a usura nem com a emergência
sou povo e Zé da arte amante
trabalhador insigne pago com insuficiência

indigna-me ser povo e Zé amedrontado
alvo de arremessos e picardias
não pago mais a corruptos já sou casado
com os de humanidades mais sadias
nem quero ser dos meus direitos mais castrado
o que exijo dos eleitos são valores não cobardias

indigna-me saber que não dormem na voragem
de conjugar o verbo ter com a rapina
não caso a minha humilde sabedoria com a chantagem
sou povo e Zé mas já nem uso a barretina
exijo ser achado no emprego e na saúde não à margem
vou para a rua, já! de palavra e concertina

indigna-me ser povo e Zé na orgia global
onde se discute grão a grão o que cabe a cada um na partilha
a minha pátria é a alma humana Universal
não caso com quem a minha alma omina e não perfilha
antes a definha pelo terror transversal
se o barco vai ao fundo eu Zé não vou na quilha

indigna-me ser presa ingénua de agiotas
que chafurdam legalmente nas minhas frustradas ilusões
promovidas por pérfidos sábios patriotas
conjugados com os outros para encontrarem soluções
não caso basta! sou Zé dentro de portas
mas do mundo inteiro sou a alma cheia d'emoções

indigna-me ser povo e Zé no limiar da pobreza
catalogado de má fé e vadiagem
num feudo onde produzo e não se vê minha riqueza
especulada nas roletas da triagem
onde se definem os lucros maquilhados de esperteza
basta não caso com a bandidagem

indigna-me ser o Zé povinho sempre alegrete
rosto da opinião pública economicamente controlada
na realidade sou de fortuna até pobrete
mas de alma pura empunhando da esperança a alvorada
não caso com a perfídia nem a porrete
sou povo de paz e amor se saio à rua é pela liberdade ameaçada

fim
autor: jrg

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