29/09/2011

TOQUE DE SILÊNCIO...


TOQUE DE SILÊNCIO

{#emotions_dlg.redflower}
hoje
porque me apetece
conhecer
no matraquear da memória
sobre os mortos
clamando esperança
ingénuos
que esperaram um toque 
de rebate
que os despertasse 
da insónia 
na letargia da espera
por um momento

um toque de silêncio

{#emotions_dlg.redflower}
hoje
porque me lembro
de ser jovem
no despertar desta aventura
de viver
das mulheres de xaile negro
do sangue vítreo
dos mortos
de olhos esbugalhados
acusadores inquiridores
ante a indiferença
ou a cobardia
por um momento

um toque de silêncio
{#emotions_dlg.redflower}

hoje
porque me sinto num turbilhão
de surdos rumores
que escorrem ilesos
por entre as camadas tectónicas
e me enchem a alma
no éter da existência
sobrecarregam neurónios
quase extintos
que ainda regurgitam amor
onde o sentimento
é aço gelo glaciar
por um momento

um toque de silêncio


autor: jrg
imagens do YouTube



27/09/2011

UM SÁBIO SENHOR DE FINANÇAS...ZÉ POVINHO...E O SAMURAI DO FEUDO...



UM SÁBIO SENHOR FINANÇAS...
ZÉ POVINHO...
E O SAMURAI DO FEUDO...
imagem pública: obra de Rafael Bordalo Pinheiro

*
1º acto (sábio senhor finanças)
**
um sábio senhor finanças
quer casar o Zé povinho
com forças de outras andanças
julgando o povo parvinho

um sábio que mima a pilhagem
com doses de dramatismo
quer casar a "malandragem"
à sombra do despesismo

um sábio que em palco alheio
se curva subserviente
quer casar o papo cheio
com povinho obediente

um sábio que corta na luz
sobe gás transportes salários
quer casar quem ele seduz
Zé povinho com usurários

um sábio senhor de magia
de aspecto mítico louco
quer sem dote a fantasia
 a casar com filantropo

um sábio assim tão de rico
não merece abstenção
por querer casar o onírico
com a sua maldição

um sábio senhor financeiro
das longas noites refém
não pode perder dinheiro
casando povo e desdém
***


imagem pública:obra de Rafael Bordalo Pinheiro
*
2º acto (zé povinho)
**
sai à rua indignado
Zé povinho de tanta suficiência
não quer ser à força mimado
nem casar por mera conveniência

porque há ainda mais
estagnaram salários pensões
confiscaram os natais
subiram medicamentos com menos comparticipações

gastaram-me as energias
puseram a nu o estafado segredo
quem corre por mordomias
esconde dos outros seu medo

afinal o outro é que era ladrão
mentiroso incompetente
perdeu por insidia vossa a razão
à custa do povo indiferente

o feudo está paralisado
desemprego nem rei nem roque de emoção
sujeito sem predicado
não faz do verbo oração

quem chamou o vento que colha a tempestade
sou Zé povinho à condição
um povo que se deixa casar com a insanidade
perde o seu lugar de livre cidadão

deste modo não me casam não
perdi a maré da vontade
por mais que me empolem de nação
quero a minha liberdade

***
imagem pública: obra de Rafael Bordalo Pinheiro
*
3º acto (samurai do feudo)
**

não te minto agora Zé povinho
são mais dois anos de abstémia financeira
sou eu quem te dá o pão e o vinho
mandei varrer o jardim mais a sua bandalheira

não escutes as vozes estranhas
que falam de novos intensos tornados
nem cuides que são patranhas
quando ameaço os mais indignados

é preciso trabalhar mais e melhor
ganhar menos por emprego
libertar o subsidio para o financeiro mor
que de dinheiro anda sôfrego

os ventos mandam mudar
do social a ventura
somos marinheiros temos mar
e terra de semeadura

não faz sentido ignorar
que conhecimento empanturra
por isso mandei mandar
que se despromova a cultura

nem dá saúde manter
cuidados e descontos exacerbados
melhor será ver morrer
os doentes mais acomodados

casa Zé com esta nova postura
talha a tua vida à maré da boa sorte
que os ventos são de rotura
com o estado previdência a monte sem norte

***
imagem pública: obra de Rafael Bordalo Pinheiro
*
4º acto (zé povinho)
**
indigna-me ser povo e Zé tido por ignorante
basta de insultos à minha inteligência
digam a essa corja que vos manda que sou eu o mandante
não caso com a usura nem com a emergência
sou povo e Zé da arte amante
trabalhador insigne pago com insuficiência

indigna-me ser povo e Zé amedrontado
alvo de arremessos e picardias
não pago mais a corruptos já sou casado
com os de humanidades mais sadias
nem quero ser dos meus direitos mais castrado
o que exijo dos eleitos são valores não cobardias

indigna-me saber que não dormem na voragem
de conjugar o verbo ter com a rapina
não caso a minha humilde sabedoria com a chantagem
sou povo e Zé mas já nem uso a barretina
exijo ser achado no emprego e na saúde não à margem
vou para a rua, já! de palavra e concertina

indigna-me ser povo e Zé na orgia global
onde se discute grão a grão o que cabe a cada um na partilha
a minha pátria é a alma humana Universal
não caso com quem a minha alma omina e não perfilha
antes a definha pelo terror transversal
se o barco vai ao fundo eu Zé não vou na quilha

indigna-me ser presa ingénua de agiotas
que chafurdam legalmente nas minhas frustradas ilusões
promovidas por pérfidos sábios patriotas
conjugados com os outros para encontrarem soluções
não caso basta! sou Zé dentro de portas
mas do mundo inteiro sou a alma cheia d'emoções

indigna-me ser povo e Zé no limiar da pobreza
catalogado de má fé e vadiagem
num feudo onde produzo e não se vê minha riqueza
especulada nas roletas da triagem
onde se definem os lucros maquilhados de esperteza
basta não caso com a bandidagem

indigna-me ser o Zé povinho sempre alegrete
rosto da opinião pública economicamente controlada
na realidade sou de fortuna até pobrete
mas de alma pura empunhando da esperança a alvorada
não caso com a perfídia nem a porrete
sou povo de paz e amor se saio à rua é pela liberdade ameaçada

fim
autor: jrg

25/09/2011

QUISERA EU VER...



foto pública da net
«««//»»»
*
quisera eu ver
no céu de luto estrelado
a constelação do amor
vi luz intensa a arder
me arrepiei abismado
da exuberância da cor

quisera eu ver
no céu de de negro doirado
a âncora do teu naufrágio
vislumbrei fogo a morrer
que assoprei desesperado
não fosse real o presságio

quisera eu ver
no céu de luz apagada
um sinal de outra gente
achei diáfana no seu prazer
a marca sofisticada
da humanidade doente

quisera eu ver
no céu de preto ofuscado
um asilo humanitário
mirei sonhos a derreter
silêncios dum povo calado
vagamente solitário

quisera eu ver
no céu escuro de tristeza
ténue que fosse a esperança
olhei mitos a sofrer
cansados de tanta certeza
no declínio que avança

quisera eu ver
no céu atro de tragédia
um sorriso aberto confiante
encontrei medos a tecer
no riso hilariante da comédia
ante o pasmo do mirante

quisera eu ver 
no céu lúgubre a consciência
tão de tanto olvidada
senti alma humana a crescer
traçando nova vivência
à humanidade humilhada

quisera eu ver
no céu então já amanhecido
uma evidência fantástica
o sol rompia a acontecer
rasgando as brumas refulgindo
quebrando a indolência apática

quisera eu ver
no céu de fogo o que então vi
um rasto de sangue em fuga
a usura a traficância ultra-poder
um mar de gente atrás que não se ri
varrendo de uma vez só a sanguessuga

quisera eu ver
no céu a serenar da tempestade
a cor azul suave majestosa
adejando sobre o homem a renascer
na paz no amor e na amizade
que brotam da alma calorosa

e vi!!!

autor: jrg

22/09/2011

QUE OUTRO PAÍS É ESTE?...



foto pública tirada da net
*
QUE OUTRO PAÍS É ESTE?...

«««//»»»

que outro país é este
que ouço tão perto a gritar
se há sondagens que dizem
que há quem confie nesta peste
de governo a governar
mentindo em tudo o que dizem?

olho o silêncio das ruas
leio apelos pungentes desesperados
jovens curvados sem alegria
discursos sem chama palavras nuas
velhos mendigos envergonhados
sem prosa sem amor nem poesia

que outro país é este
que naufraga sem tábua de salvação
se há sondagens que afiançam
que uma maioria celeste
verdade ou pérfida manipulação
aprova que nos empobreçam

procuro entre a bruma entender
dói-me a memória na luz da consciência
estava tudo tão fácil nem pensar havia
o crédito não parava de crescer
esconjuramos o medo sem prever a insolvência
dum sistema condenado à revelia

que outro país é este
sem deus sem pátria nem emoção
se há sondagens que o definem
como uma maioria agreste
que vê neste governo a salvação
para os males que a outros afligem

apetece-me um vómito
até que a bílis amarelada seque a excreção
a entender Pavese Pessoa
e tantos notáveis ou anónimos de fim insólito
enojados desta perversa encenação
que na milenar memória ainda ressoa

que outro país é este
que se deixou por mentes frias penetrar
se há sondagens que o mostram confiante
afogado nas medidas que reveste
a insensível condição de governar
para um abismo do absurdo mais adiante

autor: jrg

21/09/2011

VENDE-SE ILHA COM BARBECUE E JARDIM..NA ILHA ATLÂNTICA DO BANANAL...


imagem pública tirada da net
*

VENDE-SE ILHA COM BARBECUE E JARDIM

NA ILHA ATLÂNTICA DO BANANAL



A ilha é luxuriante

Fácil acesso mulheres carentes

Os vizinhos são manhosos

Protegem um qualquer tratante

Que manipule estas gentes

Com festejos de propulsão ruidosos



A ilha tem barbecue

Onde se espeta a mista grelhada

De Coelhos a Socráticos

Alimentado a Cavacos sem recuo

Servidos em esplanada

Pão de caco e sorrisos lunáticos



A ilha tem um Jardim

Entre outros deste avassalados

Espaçoso amplo Dantesco

Cores vinícolas carregadas de carmin

deleite dos enamorados

Em orgias sexuais de pendor picaresco



Vende-se por motivos óbvios

De onde avulta o custo da manutenção

O preço base é o do passivo

Sujeito à corrigenda isenta dos pacóvios

Que nela afundaram alma e coração

Por um sentimento afectivo



A ilha tem apêndices de sonho ilhotas

tem uma floresta de Laurissilva

Tem montes gelados prados vales profundos

Tem Elites convulsivas de agiotas

Tem pessoas indignadas da mentira à deriva

Mas é bela e merce outros mundos



Vende-se com todo o recheio

Salvaguardando a liberdade de partir

Acresce o mar o areal cinzento

O clima tropical os túneis que são o veio

Por onde passa o lucro a dividir

E tem um génio de luz opaca pardacento



A ilha é uma fragrância de odores sexuais

De poderes curativos milagrosos

Quem a comprar só tem um jeito d’a limpar

Isolamento dos vírus transversais

Contendo a praga dos elencos tenebrosos

Que a invadiram e não deixam respirar



Vende-se urgente ilha no bananal

Chamam-lhe a ilha governada sem vergonha

Por um príncipe sem decoro picaresco

Motivo à vista por demência absoluta colossal

E o perigo pandémico da peçonha

Que ali se instalou por compadrio e parentesco



Autor: Alberto Prados Verdes

20/09/2011

RES (PUBLICA) DO BANANAL ...

foto portugalfotografiaaerea.blogspot.com

*
RES (PUBLICA) DO BANANAL

«««//»»»

quando Zarco  Perestrelo e Vaz Teixeira
acharam na sua rota náutica
sobressaindo do mar altivo justo penedo
as ilhas desérticas da Madeira
ali vaticinaram no futuro a boa prática
tecendo em densa teia o enredo
que viria a dar  autónoma bandalheira
**
a origem já então omissa... dos povoadores
envolta em bruma não se conhece
nem porque trocaram a lavoura por turismo
havia escravos prisioneiros e tutores
a navegar à bolina na mercê que amanhece
amálgama promiscua do iluminismo
de onde surgiram os maiorais e os doutores
**
à ilha então chamada de pérola preciosa
aportaram vorazes oportunistas
numa mixórdia de interesses incontinentes
não chegava parecer maravilhosa
na exuberância dos recortes paisagistas
podiam ser d'insularidade utentes
criando um feudo autónomo de forma graciosa
**
não se conhece perdoem se os houve ou há
figuras de vulto da Lusitana cultura
nadas e criadas na surreal e vã autonomia
Herberto viveu fora dos genes era Judá
a ilha é tão brilhante que ofusca a partitura
nem no jardim floresce a flor da poesia
rola a bola o insulto jogados à mesa do Xá
**
mas tem uma livraria a fundação esperança
tida como das maiores do mundo
habilmente gerida de modo a lucro repartir
não por quem nela trabalha e afiança
serve os interesses laico-religiosos do feudo
poupa impostos vê os ganhos a subir
ali humilham os cultos até dói a uma criança
**
livros presos por alfinetes em cordas d'estendal
nos espaços palacianos displicentes
cruzam-se linhas nas salas e escadas nichos 
capas amarrotadas Pessoa Sthendal
a mesma megalomania dos luxos nascentes
Camões a um canto roído de bichos
Torga Cesário Eça Antero o Hino Nacional
**
de pérola natural resta-lhe a zona franca baluarte
do turismo finança e indústria de betão
é demasiado luxo para um país pobre endividado
a beleza desvirtuada nem mima a arte
nem há humanidade de gente com bom coração
mulheres tristes suspiram por namorado
seja do continente ou de uma qualquer outra parte
**
a ilha foi achada não custou vida a ninguém
teve custos foi pelo povo prendada
em suor privação usos costumes pitorescos
tanto mar mal se avista quem a tem
perdem-se os anos por um Jardim arrendada
gastos dívidas lucros principescos
mixórdia de sentimentos que a alta finança tem
**
caiu o pano a Jardim se pano ainda havia
é Zé do Telhado o mito continental
sacou aos ricos patronos até que empobrecidos
pediram contas à enclítica parceria
são bananas pá terá dito a Sócrates sobre a despesa brutal
agora paguem a factura e os juros já vencidos
que vou dançar o bailinho para outra freguesia
**
não colhe o preconceito de unidade nacional
nem um povo nem o outro o reconhecem
e ao mundo global só interessa a dinheirama
privatize-se a terra e o título RES-PUBLICA DO BANANAL
são gente que à sombra d'alguém crescem
enfeudados ao Jardim que lhes mitiga a derrama
que sonega com astúcia ao erário nacional
**
EPÍLOGO
*
na fábula só a ilha é verdadeira
tudo o resto é fantasia
de uma mente cansada e insana
que vê dotes de rameira
nas brumas de oculta maresia
onde a maldade humana
se branqueia na luxúria prazenteira
*
autor: jrg

18/09/2011

C O B A I A S !...


C O B A I A S !...

ESTE GOVERNO que hoje governa Portugal, pára...mas não anda...escuta...mas não ouve...olha...mas não vê...

USA A ESTRATÉGIA de amealhar em seu proveito, indiferente e insensível, à flacidez do tecido humano que procurava emergir da ancestral pobreza em que sucessivamente o têm mergulhado...para se precaver dos colossais desvios que sabe serem inevitáveis...porque a máquina do estado é complexa...os interesses de grupo e particulares se revestem duma carapaça quase inviolável...a corrupção é endémica...pandémica...e espalha-se como grãos de areia tocados da mais leve brisa

USA A TÁCTICA do cientista alucinado, eles são todos sábios...cientistas...manipulando as cobaias com propósitos,tantas vezes obscuros...manipulam as palavras com "o que eu disse...queria dizer...não é o que "abusivamente" é interpretado...o que nós dissemos é que ia haver uma mudança...de estilo..."

COMO COBAIAS, nós, os que não podemos decidir levianamente sobre a forma como queremos morrer, assistimos à nossa própria experimentação dos limites...de até quando e quanto mais, as medidas de contenção e austeridade, nos permitem respirar nesta atmosfera viciada em que nos enjaulam...

TECE A TEIA em que nos pretende envolver, usando a demagógica aferição do atestado de pobreza...quando muitos milhares de nós não sabem ler, já não ouvem...por cansaço...nem vêm..por cisma...envelhecidos, mal andam e ninguém mostra querer saber... sitiados, é o que estamos muitos de nós, vagabundos do tempo, humilhados ante o despotismo que nos fere de indignação, com este modelo de governo...

AS TAXAS de comparticipação do estado sobre os medicamentos, estão em revolução contínua e dinâmica, dizia há dias o director do INFARMED, como se fora a coisa mais natural do mundo...é uma revolução "dinâmica", logo, forçosamente célere, imprevisível e que nos apanha ao voltar da esquina, de surpresa, pela calada do sistema informático...

UM EXEMPLO REVOLTANTE: no dia 15/09/2011, fui aviar uma receita de 2 embalagens de losartam 100+12,5, genérico, do laboratório Alter.., para uma mulher de 67 anos, com o rendimento/pensão de 246 euros mês...no governo anterior era grátis...agora custou-lhe 2,84 euros...mas a farmácia só tinha uma embalagem disponível...voltei no dia 16, dia seguinte, para levantar a outra caixa...nesse espaço de 24
horas tudo se tinha alterado...a dinâmica autista penetrou no sistema e o mesmo medicamento, a mesma receita, a mesma pessoa de 246 euros de reforma, teve de pagar 7,05 euros...em 24 horas ...!!!???!!!

A FOME, o medo, a indignação, a idade, provocam alterações no sitema nervoso do indivíduo...eles, governo e lobies que o suportam, sabem a monstruosidade do que estão a fazer...como em outras situações na memória do tempo, há um silêncio estranho, uma paz de cemitério..mas já se ouve o cão a uivar...o gato assanha-se de olhos atentos e ouvidos à escuta...as galinhas inquietam-se na capoeira...o sistema cheira a
bosta putrefacta..."já se ouvem os rumores..." "já se ouvem os tambores.. " "já se ouvem os rumores..."

autor: jrg

17/09/2011

DA INSURREIÇÃO DAS PALAVRAS...


foto pública tirada da net
*
DA INSURREIÇÃO DAS PALAVRAS
«««//»»»
Portugal do tuga desenrascado
anoitece lentamente mais empobrecido
sob a indignação silenciosa dos protestos
como Sísifo pela pedra atropelado
sempre que sonha o paraíso apetecido
eis um retrato para memória dos meus netos
*
o presidente sem glória já sumiu
sentindo o povo estranhamente adormecido
ou estará algures surpreso sitiado
o certo é que nunca mais ninguém ouviu
o seu discurso de politico vencido
entre apelos à história do país endividado
*
o Jardim num desvario apopléctico
posto a nu seu império oculto e despesista
vocifera culpado ao continente
depois amplia o seu discurso tão patético
ataca o mundo financeiro de golpista
e estende mãos a Lisboa antes prepotente
*
há quem veja na mímica Gasparina
uma piada lúdica de estocada
onde outros vêem tão só a insolência
de corte em corte leva o povo à lamparina
ao silêncio da rua apacatada
às voltas no tempo que resta à insolvência
*
na cultura há um apagão colossal
já era escassa de há muito a riqueza criativa
o silêncio indicia novo obscurantismo
não há arte sem engenho nem este opera sem arte
saltimbancos criadores da vida activa
à rua em legitima defesa contra o feudalismo
que corrompe a alma e atinge o baluarte
deste país apagado que se chama Portugal
*
já sabíamos que a salada mista Macedónia
dá saúde e faz crescer renda estatal
a técnica é aumentar o saque para descer
digna dum barão da Patagónia
que vem para matar na cegueira este mal
que retarda a evidência de morrer
*
na economia do seu pedestal Alvarenga
cresce em valimento a paralela
promovida que foi a taxa de exportação
escasseia a frescura solarenga
o que sobra está podre ou nos arrepela
a alma nobre e pura da nação
*
vinha de Mota com a crise solidário
reinventou o atestado ou titulo de pobreza
cortou em toda a linha a tutoria
do estado social despesista e libertário
que cada um construa sua riqueza
deixando o estado recolher a mais valia
*
sobre Cristas de ondas maremóticas
propunha revolver a terra além da mole urbana
mas já não há cavadores de enxada
nem ceifeiras suarentas trigueiras bucólicas
a técnica custa dinheiro verdade insana
nem há alma Portuguesa de tal sorte apaixonada
*
prudente a cortar Relvas no jardim sombreado
sem achas na fogueira que o agitem
num parlamento atulhado em passos perdidos
não há brilho no porte já acomodado
nem os opositores sensatos tal lho permitem
que volte aos insultos antes desmedidos
*
de Cruz bem no alto alevantada
no sinuoso caminho que promove o julgamento
não se vislumbra faúlha de mudança
nem se pode ser intrusa na corporação inquinada
lá vai ministra por um momento
talvez num sonho adormecido de criança
*
ainda ferve na memória célebre o prior do Crato
não tão sábio como este catedrático
apanha a maré baixa dos doutos contestatários
sem descolar da mesa onde está o prato
mantém reduz aumenta sobre o pendor teórico
do ensino que na prática ofende os usuários
*
à coca das polícias anda atarefado o Miguelito
tão verborreico na liderança parlamentar
os outros deixaram as corporações num pântano
e ele sem dinheiro que valha expedito
a prometer que vale mais um ano a gatinhar
do que cair mais à frente sem tutano
*
sem defesa camaleão entre amarelo e Branco
dispara sobre os antes salafrários
de falas mansas numa pasta de intocáveis
cava trincheira na aba dum barranco
de onde avista rasteiro os movimentos contrários
capazes de inverter as ideias mais fiáveis
*
o que ele queria mesmo era espreitar às Portas
viajar à borla pelos continentes
longe dos apertos nas feiras demagógicas
actor de enredos entre linhas tortas
longe dos apelos populares mais pungentes
que usou como bandeiras platónicas
*
no reduto do medo Passos avisa os carbonários
que no feudo é ele só que incendeia
por mais que sejam sem vergonha acirrados
se lhes vão ao património aos salários
ressalvados os direitos "mínimos" dá cadeia
se forem além dos protestos animados
*
o clero divertido alinha na perseverança
bate palmas salva a deus
acha justa por justiça a rapinagem
"se não foste tu foi o teu pai" é a hora da vingança
drogados imbecis republicanos ateus
sem hóstia nem pílula nem dinheiro para portagem
*
perante uma tal prova de esforço
viciada tão torpe e sempre no mesmo sentido
ergo a voz de palavras insurrectas
às almas às almas convoco em alvoroço
acudam ao povo que o adormecem mentindo
à espera que resistam nas formas mais directas


autor: jrg