28/07/2010

FLOR

sou jardineiro
de regador em punho
rego minhas flores
meus amores
o dia inteiro
flores do meu sonho

rego aquela especial
de pétalas caídas
inclinada ao vento
plena na tempestade
afago a terra em volta
fortaleço o caule

e fico horas esquecido
apenas eu e ela
a água a vida a energia
que procuro transmitir
às pétalas cheias de vida
que ela procura esconder

sou jardineiro sem jardim
olho-a quando a brisa agita
flor da minha devoção
gotículas de água
deslizam das pétalas
sorrisos dela que me tocam

atravessou planetas
mares desertos abismos
e está ali quieta à espera
que um perfume um toque
uma palavra vertida
a libertem da agonia


autor:JRG

26/07/2010

A NOITE PASSADA

a noite passada
por entre sombras de duendes
a lua possante de magia
a brisa mansa fresca
tive-te nos meus braços

impregnei-me dos odores
da alma incandescente
as mãos entrelaçadas
dedos dentro dos dedos suadas
os teus olhos confiantes

tomei-te em versos alucinantes
que construíam estrofes
de estultos poemas amantes
que te correm nas veias onde sofres
poemas meus dançantes

a noite passada meu amor
noite esplendorosa de lua cheia
nos meus braços o teu corpo
a alma apoquentada
que transformo de esperança

entro e saio pela janela o sonho
risos e toques sensuais
sou teu és minha de sermos
soam as horas na torre da Sé
apenas Nós... somos



autor:JRG

18/07/2010

DA MEMÓRIA

no ano bom de sessenta e nove
Outubro agreste e seco uma aura de esperança
o Lauri tinha vindo são ileso
da guerra fratricida que abominava-mos
de onde eu já chegara um outro tempo
e outros haviam de partir ainda
"barcas novas tem Lisboa"triste agonia

houve festa rija e maldicência
do regime e seus lacaios
entre petiscos e doces o vinho ia vencendo
a juventude ardente o remoinho
confiada na mudança a unidade dos sentidos
ventos de Maio 68 a liberdade
a vila pitoresca onde crescemos

era preciso levar a Gina a minha amada
três quilómetros de distância
na rua já deserta dissemos vivas
em jeito de desafio confrontação positiva
a Salazar à Nação aos piedosos
Angola é nossa!...e riamos... Angola é nossa!...
o que importava era o ruído

veio o policia o gordo olhar mortiço
mais bêbado que qualquer de nós
que estávamos a violar a ordem pública
que eramos muitos... e contava-nos pastoso
gritámos que eramos patriotas
festejavamos o regresso de amigos
vindos da guerra a intocável toda poderosa

estava na hora da última carreira
levar a Gina a casa como se fosse o último gesto
entrámos num tropel grunhido
e recusámos pagar bilhete porque viemos da guerra
o cobrador que não..que era preciso pagar
ou iamos parar à esquadra e seguiu
na direcção da dita ante a nossa intransigência

na esquadra o gordo mais o chefe
que perturbávamos a ordem pública insurreição
mais que três... eramos doze melhor ir descansar
e nós que não... somos patriotas 
gritamos vivas à Nação aos agiotas...
os vivas de vocês conheço bem disse o chefe
são pejorativos à luz de toda  a lei

e lá fomos mandados em paz condescendência
levar a Gina a casa madrugada a pé
a estrada solitária entre áleas de arvoredo
o cheiro dos pinheiros... eucaliptos...acácias
a Nela cantava fado o Vieira o Mustafá aos bravos
a Irene ria-se tão bela...porque morreste amiga?
que guerra a Leucemia te travou a vida

autor: JRG

17/07/2010

NA RAIA DA RUPTURA...

XXIII


Ouço
a sentir-te
quero entender
quero sofrer o que tu és
tens sofres
tão bom que vens
fico

a música que me mandas
amor de dentro
cigana raiana
imagino-te as ancas
a balançares-te
para mim
entre sorrisos

insegura...
desinquietas-me
tão bela e pura
porque nos queres de verdade
porque as palavras
estarmos sermos
nos te me desassossegam

as palavras tocam-se
num limite difícil de localizar
e tocam-nos como se pele
como se sangue e nervo
elas as palavras
levam beijos e caricias
amam-se

ambos o sabíamos
pensa-me
deixo que me penses
e sei que talvez quisesses
antes certezas de mim de ti
ouço a tua música
tocar-te... eu...a tua voz

e beijo-te
onde te guardo
bela
pura
tão perto
onde te sinto
amor


autor:JRG

10/07/2010

PRESSÁGIO DA PERDA...

IV


não não não te penso
se penso que me interpretas mal
culpa minha a linguagem
imagino que outros te olharam ...és linda
e partiram sem te ver
porque há olhares que apenas se fixam
numa evidência do ser

não te imagino
sinto-te não quero que me penses
como te soou apressei-me a dizer-to
és tão dúctil...minha Cris...
imperdoável magoar-te... macular-te
quando te respiro pura
em teus amores

em mim tão doce
olho o horizonte a bruma ou uma névoa
que fiz ou deixei que de mim se fizesse
quem ordenou às palavras
que te instigassem a uma interpretação fora do contexto
vou perder-te
e não me perdoo

autor: JRG

07/07/2010

UM HOMEM NÃO CHORA...

XVI

um homem não chora...
diziam-me tantas vezes a minha angústia
porque senti neste momento
medos antigos de perder o imperdivel
tanto que amo as palavras
as que te digo levam-te de mim
amor e sais adocicados

sou libertino
respondo às emoções com novas emoções
"o libertino passeia por Braga..a idólatra..."
é um titulo de livro que li...apenas o titulo
e subo a ladeira onde a porta
entreaberta em cima a janela

bato para ouvir a tua voz
quero tanto ouvi-la... estremecer na emoção
as sardinheiras que a envolvem de cheiros
desde baixo trepando a janela
e ouço
entra se és quem espero...entra
suave e terna quente apaixonada

a prima-melodia onde te banhas me banho
à direita quando entro o leito
alvo de linho
 
o som da água sob a sinfonia de nós mar
no açude que estanca a corrente do ribeiro

quero-te tanto de onde?
pé ante pé sob a penumbra ao fundo a luz
partículas de pó que a rua traz nos raios do sol
como miríades de estrelas a coroarem o teu rosto
imponente e dócil o teu corpo
de pé as mãos estendidas para mim teu
tão forte o teu abraço

a mesa um fausto
sobre as frutas em cachos saídos de poemas
saboreamos as palavras
ganhamos a euforia de tantos silêncios
bebemos do néctar verde nacarado
celebra-mo-nos encadeados nos olhos
e à sobremesa trocamos cerejas dos lábios

quero ouvir-te quero tanto ouvir-te
que quase te ouço o meu nome
saindo dos lábios os teus na brisa que me corre
mordo os teus lábios a língua o queixo
colo beijos nos teus olhos
nos teus sorrisos de amor..amar
porque te amo tanto..nos amamos

respiro-te
tu meu ar
quero-te

e
 
beijo-te
e
beijo-te
e
 
beijo-te

sobre os lençóis de alvo linho

05/07/2010

NINHO DE SEGREDOS

XIII


saber-te um ninho de segredos
ser um que acarinhas
e a cada desvendado haver outro
numa esquina que nos te espreita
a enriquecer o património
substância do ser
de onde nos erguemos

fazer amor contigo
não os sexos isso pode não ser amor
amor nas nervuras onde
 
dentro das palavras que nos dizemos
nos cheiros de que nos gostamos
nos sabores de que nos cheiramos
lamber-te dentro do sentir-te

os teus beijos
ser teu muito querido
ouvir-te dizer tão doce... amor
e num simultâneo de toques que apetece
como me és querida...amor
me apetece
deleito-me contigo de ti

cheiro-te de amor



autor:JRG

03/07/2010

SABORES DE SAL E MEL...

XII


tão belas as palavras
os gestos
o acordar enroscados na memória
da noite das estrelas
que nos iluminaram o sono o sonho
entre salivas de beijos
e fogos de audácia

as mãos deslizam pelos corpos
as pernas entre coxas
despertam os orgãos palpitantes
de nós...Nós...NÓS...
beijo-te já dentro de mim
porque me acordaste sem querer
também tu marota

e ficamos de olhos dados
 
a desvendar segredos
que nos ocupam os espaços de ausência
os teus olhos portas da alma
castanhos como os meus
sabores de mar e tu  de frutos
talvez vermelhos melados

despidos os corpos e a alma
nem mais segredos do que os
 
aqueles que a alma e o sentido alcançam
para alimentar eterno o sonho de viver
acolhida em mim
teu ninho de mulher
agora livre porque te permitiste ser

beijo-te
 onde de te
quero-te tanto
és-me sim ser em ti
beijo-te pela manhã
os lábios frescos brisas do rio
o mar aqui perto
onde te saibo
 

autor: JRG