31/12/2009

O MEU SEGREDO

Ah se me encontrasse
a sós com o meu segredo
enquanto a chuva meu rosto golpeasse
e eu perdesse dele o medo

mas não...quando estou só
ele recolhe-se dentro de mim num enredo
revolve-me dentro dele levanta o pó
que me encobre de mim em meu segredo

amei um homem maravilhoso
casei e tive um filho mulher ditosa
mas já não sinto aquele fogo fulguroso
e amo outra paixão libidinosa

ah se eu soubesse que não há amor eterno
quando ao ver-me um dia nua descobri
ser por aventura ou gozo condenada ao inferno
talvez ousasse outro caminho que então vi

sou linda bela esbelta mulher airosa
tenho na alma um segredo desde criança
ser na paixão leviana de fogo em fogo esplendorosa
não ser fiel a um conceito absurdo sem esperança

enquanto no corpo a chama aviva e arde
e a alma se pavoneia alegre na provocação
quero encontrar-me a sós com meu segredo embora tarde
viver de novo intenso amor em fogo de paixão

se me encontrasse a sós com o meu segredo
e fosse da coragem o ícone um baluarte
limpasse o preconceito afugentasse o medo
e fosse mulher de novo que no amor reparte...

autor JRG

26/12/2009

A P I A N I S T A

é uma entrada súbita majestosa e bela
a imponência dos contornos da sala pouco iluminada
o brilho da cornija dos camarotes irrompem aplausos
retumbante a emoção que ecoa dentro dela
arfando o coração nos seios sustidos ruborizada
esguia alta o vestido branco medidos os passos


um halo de luz sobre o piano castanho
faz a vénia a pianista ante a poderosa ovação
senta o corpo dócil na cadeira nobre
faz-se um silêncio leve absurdo estranho
as mãos dispõem os dedos acalma o coração
e ouve-se a melodia das notas que o silêncio encobre

afaga as teclas negras e as brancas com volúpia
pára estremece inclina o corpo airoso esbelto
balanceia-se ao ritmo que a alma sente
os dedos esguios longos numa cadeia de som que rodopia
numa simbiose da pianista com o piano solto
como que levitam nas ondas que inundam a mente

no frenesim das notas que se entrecruzam
com subtil mestria dos dedos que a pianista anima
há momentos de acalmia a ideia voa outros delirantes
doce a melodiosa música de sons que inebriam
arrebatadora imagem a pianista e o piano em sintonia
envoltos na partitura que os exubera e torna amantes

quando termina volta-se dá a cara ao público fascinado
como pena flutuando as mãos o corpo os olhos emoção
toda ela ternura beleza encanto sedutora faz a vénia
delega no piano toda a grandeza por não ter desafinado
o publico aplaude de pé com bravos estrondosa ovação
o piano estático cala a pianista deslumbra-se em sincronia

autor JRG

23/12/2009

MISTÉRIOS DA VIDA

tantas pessoas que passam e nos olham indiferentes
gente mais nova que de soslaio pergunta
como será o futuro que mistérios que sementes
e seguem sem resposta no silêncio que as junta
*****
se ouvissem talvez um velho dissesse
olhem os cães vadios que bebem da água da rua
vencem distâncias a pé disputam o alimento
são capazes de ternura quando algum envelhece
dóceis meigos cada dia neles se encrua
nem frio calor ou neve no cio seguem o vento
*****
tantas pessoas que passam de caras altivas ou tombadas
umas tristes amarguradas outras risonhas
gente que obliquamente fazem perguntas caladas
como será o futuro seremos do presente suas vergonhas?
*****
ah se eles ouvissem talvez um velho alertasse
que uma formiga sozinha faz tanto pelo ambiente
nem sempre no mesmo carreiro não assalta o do vizinho
constrói castelos de enredos não esconde a outra face
faça sol chuva ou vento segue em frente
diverte-se na natureza onde vive e faz o ninho
*****
tantas pessoas que passam só elas contam ausentes
não reparam nos meninos e meninas
nem nos velhos que viveram e pensam sapientes
são memórias adormecidas em suas rotinas
*****
autor: JRG

19/12/2009

QUERER OU NÃO QUERER É A QUESTÃO...

o que eu não quero é ser olhado como tirano
nem quero ser sentido indiferente
dói-me a alma de ver decair o ser humano
e a terra à mercê do lucro indigente

o que eu não quero é ser temido como predador
nem quero ser amante amado da vil hipocrisia
dói-me a alma de ver a agonia do amor
de ver fugir a tanta gente a estrela que os guia

o que eu não quero é ser do medo aprisionado
nem quero ser da vontade a cobardia
dói-me a alma de ver o homem acomodado
perdido do belo que premeia a ousadia

querer ou não querer não há meio termo
se sou agente da acção se calo permito o desvario
não posso queixar--me quando estiver enfermo
na derrocada do meu falso poderio

quero ser luz que da lúgubre treva se irradia
e fulgurosa inunda a alva nascitura
servindo o verso que no poema é poesia
e ser do tempo que rege toda a natura

quero ser amor primeiro que ouro poder ou louco
em cada homem mulher criança amar de amigo
em cada jardim floresta na paz descansar um pouco
e sorrir no desencanto de olhar apenas meu umbigo

quero ser além dos quatro o quinto elemento a vida
entre o ar despoluído e o fogo que acalenta
na água que descedenta o corpo e a alma ávida
e ser na terra o deus profano que em tudo atenta

autor: JRG

16/12/2009

COMO SE FORA O SEU DEUS

num hiato do tempo estava o poeta sentado
o dia gélido quase nevava árido
os olhos em volta do silêncio calado
o papel a caneta a tábua sobre o joelho dorido
*****
tinha escrito em cartão sua mensagem
não peço esmola nem a dócil compaixão
escrevo poemas dentro de uma imagem
para prendas de Natal ou coração
*****
acha a massa humana a crueldade
daquela figura insólita exposta ao dia
frio que cortava a carne pelas ruas da cidade
escrevendo sobre o joelho a poesia
*****
passa alguém que que se detém e encomenda
trocam palavras riem-se batem os pés
o poema vai surgindo no papel a prenda
em versos ornamentados de outras fés
*****
estava sentado no adro da igreja
uma senhora distinta interpela o poeta
casa comigo sou rica para que mais ninguém veja
a figura imponente da tua imagem quieta
*****
o poeta disse que não queria tal riqueza
que se comprazia de ser da palavra um tesouro
que lhe deixasse usufruir do ar e da natureza
que são mais preciosos que todo o ouro
*****
a mulher rica primeiro pensou que era louco
depois nas palavras dele se iluminou
mandou parar o abate da floresta
que se fechassem os poços de petróleo pouco a pouco
que tudo começasse de novo onde acabou
que cessassem das guerras o que resta
*****
autor: JRG

08/12/2009

LÁGRIMAS NO TEU OLHAR...

quando vejo nuns olhos de mulher as lágrimas
e sinto que chora por sofrer
o seu rosto iluminado de belezas intimas
a alma a iludir o corpo cansado de viver
***
solto de mim um grito de alerta
agito do ser a sua essência
vou ao fundo da alma que desperta
enxugo lágrimas e sou da virtude a consciência
***
era vestida de negro agreste a solidão
quem da mulher tentava tomar posse
no vazio em que mergulha o coração
quando a alma se inebria do corpo para que fosse
***
no mundo de emoções um baluarte
contra a dor que fere o pensamento
meu brado que a liberta mulher arte
para que cesse nos olhos o seu tormento
***
e ela sorri de novo na sua beleza infinita
ganhou-se quando achei que a perdi
tão jovem bela e na virtude bonita
mulher do tempo e da memória que vivi
autor: JRG