30/07/2008

A NOVA ERA QUE AI VEM

Hoje venho dizer-vos que a nova era está ai ,ás portas da nossa existência desesperada. Foi instituída no cosmos pelos planetas que regem a vida na Terra. Reuniram-se e decidiram que era tempo de alterar tudo porque estávamos enfim conscientes da nossa evidência. Amadurecidos pelas tragédias e pela glória. Mas desesperados, sem saída plausível para uma vida sem sentido perante tanta abundância.
Decretaram que a vida seria regida do interior de cada um, da essência do ser e não transmitida ao ser como até aqui.
Decretaram o fim de todos os conceitos em que nos enrodilhamos na expectativa de justificarmos os nossos próprios erros. Instituíram a plena consciência.
Decretaram o fim do dinheiro e da propriedade. Instituíram a livre distribuição da riqueza.
Decretaram o fim da tristeza melancólica que conduz ao suicídio. Instituíram a alegria.
Decretaram o fim dos julgamentos públicos e privados. Instituíram o bom senso.
Decretaram o fim do ódio. Instituíram o amor profundo. A paixão.
Decretaram o fim da infidelidade, da traição. Instituíram os actos de amor. múltiplos.
Decretaram o fim de todas as guerras. Instituíram a paz eterna.
Decretaram o fim dos desperdícios da produção. Instituíram a racionalização
Decretaram o fim da mentira e da verdade. Instituíram a realidade.
Decretaram o fim da loucura, da insanidade. Instituíram a cura por absorção de realidade.
Decretaram o fim da razão pura. Instituíram a interioridade.
Decretaram o fim das fontes de energia. Instituíram a fusão a frio.
Decretaram o fim da ignorância. Instituíram o ensino permanente.
Decretaram o fim do tempo. Instituíram o intemporal.
Decretaram o fim de Deus e do Diabo. Instituíram o homem como símbolo de toda a animalidade.
E perguntam que mais nos aflige. Estão reunidos em permanência, e na roda das regências é Plutão quem reina e manda que se afixem, na mente de cada um, na alma, nas vísceras, para que comecem a preparar o advento da nova era, sem dor, sem especulação, antes moderada, docemente.
A nova era quer trazer a paz, o amor a sedução pelo belo e o mais profundo do ser. O amor à natureza e aos animais que nela convivem em equilíbrio de certezas.
Saudemos a nova era que aí vem. O fim de todos os nossos problemas. Os males de amores. As traições. O fim dos despedimentos, das doenças, dos aumentos constantes dos preços. Das invejas. Desrespeitos. Da ladroagem que nos rouba o sustento. Das religiões que nos oprimem a liberdade de pensamento. O fim do pecado, do erro.
Cheire-mo-nos uns aos outros e construamos um novo amor

22/07/2008

CONHITA E A ASTRÓLOGA (Esboço)

A tarde fresca de fim de Verão, o sol no ocaso em tons de amarelo envelhecido, indiciando frescura na aragem que corria de norte, nordeste, amena ,embora por vezes forte, apanhava os homens caminhando na areia molhada da borda de água em passo estugado, porque nisto de apanhar lance de feição, por cinco minutos se perdia, por cinco minutos se ganhava..
O mestre tem crenças. Convicções. É naquele preciso lugar, hoje, esta tarde. Se não for, mais valia ir embora. Se perder a maré, o lance, a vez .Se perder a fixação da sua ideia e o outro apanhar um bom lance de peixe, perder-se-á em tremulações de voz, acusando em abstracto tudo e todos. Mestre. O arrais da companha. Há quanto tempo na safra?
O mar está cavado, um pouco corso na rebentação. A atenção redobrada quando o barco se fizer ao mar.
Conhita, o olhar místico vagueando entre o chão e o mar. Esbracejando. Os olhos como que saindo das órbitas, meão de tamanho, a barba de pirata dos mares, farta em tons de preto com laivos esbranquiçados. Falava com Pedro, o poeta , por dizer poesias e frases idílicas.
Cristina viera com eles desde a vila. Estava de férias e envolvera-se numa espécie de namoro, uma amizade crescente, com beijos e abraços fugidios e porque admirava de Pedro a versatilidade de conhecimentos, o ser da Vila e este ir ao mar, numa pesca ancestral, que ela conhecia vagamente dos dias de infância, breves. Era Astróloga, casada com um Astrólogo e se mi divorciada. Isto é, tinham um acordo tácito de vivência em comum.
-Conhita!, disse Cristina, um sorriso largo entre o curioso e o trocista, mas um trocista ternurento. Os teus pais não gostaram de ti quando nasceste, ou o Conhita quer dizer algo muito à frente, que só um Uraniano compreenderia?
Conhita olhou para Pedro, franzindo a testa até que as gelhas se juntassem como uma só. E com um dedo na testa, apontado à testa.
-Pedro, pá!. Essa gaja é maluca, não? Eu cá sou de Marte. Fui visitado por Marcianos a noite passada, disse, olhando Cristina nos olhos.
Olhos lindos, de Cristina, castanhos, luminosos.
A companha estava pronta. O barco aprumado junto à água, chamavam os retardatários.
Conhita e Pedro aos remos. E Pedro para o arrais:
-A miúda pode vir?
- O mar está um bocado corso. Na sei .
-Ela é responsável, pah!
Olhou para o lado e sorriu, um sorriso malandro de aquiescência. Pedro ajudou Cristina a saltar e disse-lhe.
-Segura-te bem. Uma onda forte pode fazer-te saltar para o mar.
Cristina agarrou-se com força à proa do barco, olhando os homens aprumados aos remos como nas galés. Era uma experiência única.
A Lua em quarto crescente. Noite límpida. De terra os homens empurram o barco. As ondas que vêm vindo ajudam, os dos remos arrastam na areia. Formam uma força absoluta.
- Vai levado! Vai Levado Vai Levado!
Gritam os de terra. Enquanto os dos remos, gritam também, sob o olhar atento do arrais , na popa do barco, virado de frente para o mar, as ondas traiçoeiras na noite.
- Rema! Rema! Rema!, em esforço. Numa simbiose de força conjunta em simultâneo e o barco toma balanço, ganha força e vence a resistência das ondas.
De súbito, o arrais grita:
-Força, remem caralho!.
Os homens obedecem como uma mola, empertigam-se e broom. Violento o embate na frente chata do barco que o empina como um cavalo, uma onda maior, talvez a sétima que é a última de uma série continuada de arremetidas.
Pedro olha Cristina, branca pelo susto. Olhos nos olhos na noite de luar em crescendo. Resvalou um pouco, mas agarrou a corda do ferro, com quanta força tinha, num impulso.
-Tudo bem, amor?
E ela, entre surpresa e assustada. A lua agora no seu rosto bonito, E um sorriso confiante.
-Tudo bem, amor.
...

19/07/2008

PORQUE CHORAS MEU AMOR ?

Porque chora a tua alma
porque gritas no silêncio a tua dor
que fome o teu espírito não acalma
que angústia não te basta o meu amor

Porque procuras no silêncio a resposta
porque não queres ouvir a minha voz
que sou escravo da tua vida exposta
que sou a outra parte de ti em nós

Porque chora a tua alma meu amor
se o mar e o céu te nos amparam
é tempo de soltares os nós das amarras

É tempo de te abrires ao mundo como rara flor
orgulhosa dos seres que te amaram
nos jardins da vida na alma e no canto das cigarras

J.R.G.

17/07/2008

O DELFIM NÃO ERA UM ASSASSINO

O Delfim era um jovem. como todos os que compunham a Companhia, arrancado compulsivamente à terra, à família, aos amores. Um jovem alegre, mas intranquilo, emocionalmente frágil, questionante do porquê ele, ali, algures África.
Cumpria o seu dever ao integrar as tropas regulares de um país, o seu país. Integrava as colunas, sofria emboscadas e estava sujeito ás armadilhas, ás minas traiçoeiras que já vira rebentar, pisadas por jovens como ele e sem que houvesse em quem atirar, fazer a desforra. Nada. minas solitárias, intransigentes com uma pequena distracção, com a insuficiência de material de detecção. A importância da desforra. A vingança...
O delfim bebia para afogar o desespero de estar ali, algures África sem ver a família, sem poder ajudar a família, sem poder estar com a namorada, os amigos.
O ar era quente e húmido. As mulheres andavam de peito descoberto. De resto eram só jovens como ele, sem grandes diálogos, que jogavam as cartas, a lerpa, nos momentos de ócio e bebiam na cantina cerveja que matasse a sede e a saudade, que afugentasse a morte. A morte, morrer dum tiro vindo do silêncio da mata verde e bela.
Manuel António observava aquela personalidade caótica, dia após dia. Delfim viera falar-lhe do efeito das granadas ofensivas, granadas de mão. Cada um tinha umas quantas à sua guarda. Levavam-nas e traziam-nas. Calculavam que rebentariam se as tivessem de usar. Não traziam prazo de garantia. Estavam ali, a um canto dos armários, verdes , elas, as granadas, com uns relevos a toda a volta para evitar que resvalassem das mãos que as atirariam, um dia.
-Sabes, Manuel António, ainda um dia gostava de ver o efeito disto a rebentar.
A granada na mão. A cavilha de segurança, um pedaço de arame revirado na ponta, a argola de onde um dedo a puxaria, com determinação.
Manuel António olhou para delfim. Procurou os olhos e só viu uma espécie de baba que lhe saía dos cantos dos lábios. Lábios finos, cortantes. Abominava granadas, balas, tudo o que cheirasse a pólvora..
- Cuidado com isso, pá. Que fazes com a granada? Vão sair?
-Não, mas que gostava de ver isto rebentar, gostava. Para que temos isto?
Cambaleava de um lado para o outro. Olhou-o, agora sim, nos olhos pequeninos se mi cerrados, um brilho estranho, metálico a sobressair da pele escurecida pelo Sol .
-É melhor nunca saberes o efeito dessa merda. Vai guardar. Não podes andar aí com uma granada ofensiva. Cais e matas-.te e matas alguém.
Delfim recuou uns passos, temendo que o outro lhe tirasse a granada. Fez um esgar, um riso indecifrável se de alegria se de louco ou cobardia. Manuel António insistiu, tentando segurá-lo ali até que viesse alguém. Um outro. E disse.
-És de Vila Verde?. Fala-me da tua vida lá, Família, namorada. Que fazias.
Os olhos de Delfim encheram-se de lágrimas e a voz soou rouca, trémula, desequilibrada.
-Sou. Porra, não me fales da família. Eu era uma parte que fazia falta. A namorada já me pôs os cornos. Que sa foda. Vai cu caralho. Ninguém me escreve. Ás tantas já não tenho ninguém.
Numa das mãos a garrafa de cerveja quase vazia, na outra a granada. E nada. Pessoa alguma aparecia naquele fim de tarde, quase noite. O motor da geradora roncava a sua toada constante e monótona. O grito agonizante dos macacos que se recolhiam.
-Tem calma, disse Manuel António, os olhos húmidos, moreno quase negro, olhos castanhos de um escuro quase negro, vais arranjar outra quando chegares. Aguenta. São mais uns meses, poucos.
Delfim chorava convulsivamente. bebeu o resto da cerveja dum trago, sem uma palavra e desandou para a cantina dos soldados.
Manuel António ficou a vê-lo, cambaleando em vai e vens e troca de passos, viu que entrou primeiro na caserna e voltou a sair. Descansou porque não lhe viu a granada na mão.
Lá ia ele, o Delfim, para mais umas cervejas, até o fim de si. e pensou que era uma geração fodida. O álcool, o calor, a pressão, os tiros e rebentamentos, as armadilhas, as minas.
Uma geração estropiada. Aguentar, prever-se de si, a si, mas como ? Se o quadro estava pintado de uma forma indelével. Sem saída que provesse o futuro que queria.
Como sair ileso? os neurónios desafectados, os genes compactados na revolta contra os elementos. Como sair ileso deste inferno?
Ouviu-se um estrondo medonho, Manuel António encolheu-se. deitou-se no chão. todo ele tremia sem saber que atitude tomar. A espingarda estava longe, mas estranhou não ver a correria do costume . Silêncio. Apenas o motor da geradora, monótono, incessante. Já não era um ruído. É como se fizesse parte do silêncio.
O básico a correr.
-É básico, o que foi?
-Olha, rebentou uma granada na cantina, os dois cantineiros foram cu caralho.
O Delfim, foda-se. O choro de raiva. O choro em raiva e a palavra FODA-SE. Agonizante de si. A justificar o poema:

Esta noite
quando todos dormirem
pego no vento
e fujo...

05/07/2008

MEMÓRIAS DA GUERRA - O CORREIO

Na guerra, quando não estás só e és ainda povoado por mundos e gentes que estando longe, te ocupam uma parte importante do que o teu cérebro te permite pensar, é ainda a solidão de que te sentes, de que te és perante ti e a impotência de decidires no momento imediato, ou no certo.
As patentes sempre podem trocar influências entre si e entre os responsáveis das comunicações. Um telefonema, uma mensagem gravada. Ainda não era o tempo dos telemóveis. Os soldados, nada. Eram meros números mecanográficos, salvo alguns, raros, que tinham direito a alcunha.
O País já era , mas em tempo de guerra acentuava-se o ser, um sistema de ditadura democrática. Os oficiais e sargentos iam de férias uma vez em cada ano. Se bem que os soldados também pudessem, por direito, ir de férias, ficavam limitados à partida pelas condições económicas e pela quantidade. Não se podia fechar a guerra para férias.
Advinha destes condicionalismos a importância orgásmica da chegada da avioneta que supostamente trazia o correio, das famílias, dos amores.
Manuel António, os braços descansados sobre a rede de arame farpado, perscruta o céu amarelado pelo sol a meio tempo entre a manhã e a tarde. É a hora habitual de ver, primeiro ouvir o motor, difuso ainda que se aproxima e aumenta de som chegado aos ouvidos habituados a rumores. Lá vem.
Lentamente refulgindo do sol o pequeno aparelho mono-motor, que traz o correio e as instruções e ainda, por vezes, uma patente mais alta que vem aquilatar do estado das tropas, ou simplesmente passear, ou ouvir delações, repreender ao vivo em confidências
sem outros ouvidos.
Manuel António. Os olhos na pista de terra batida. Não há empecilhos, aves, animais tresmalhados. O aparelho oscila no ar a fazer-se à pista, cabriola, brinca, o piloto, esgrime-se na habilidade se ser poeta dos ares e traz poesia no bojo da máquina que conduz.
Bastava que entregasse o saco do correio e que se fosse, mas não. Havia sempre mais pormenores, conversa, troca de risos, galhofas, e o tempo desesperante na espera. A voz dos silêncios que chegava quente e melodiosa. Estaria melhor da doença? Ainda se
amavam? Teria já nascido o meu filho? Eram tudo perguntas possíveis e a ilusão de obter repostas, quando sabiam que as cartas passavam o crivo da censura, demoravam e o que traziam não eram noticias de ontem. Alguém podia já ter morrido, e na carta que chegava prometia o mundo quando ele chegasse. A traição podia já ter acontecido, entre a data de envio e a efectiva chegada das palavras que prometiam amor eterno.
Manuel António sabia isso, mas confiava nas certezas que da essência de si se avolumavam em realidade constante.
Na parada a roda da maralha embasbacada sobre o sol tórrido do meio dia.
- Quarenta e dois!
-Oi! O braço no ar, uma corrida, o envelope bem seguro e a passada lenta para a sombra da caserna.
Manuel António olhava o molho da cartas na mão do escriba. Conhecia as cartas dela pelo volume. Traziam sempre uma lembrança dela, por entre as muitas folhas de palavras doces e de esperança, pêlos da púbis, para que a cheirasse. Pedaços de cabelo, folhas de árvores ou flores., fotografias. Um êxtase de paixão a encher um espaço aberto dentro de si, ali, absorto do sol. O escriba brincava com ele, por vezes, escondia as cartas e chegado ao fim da chamada olhava o seu ar desolado, um sorriso malicioso nos lábios, Um brilho nos olhos.
- Toma lá. Com este volume não podia tê-las nas mãos. Enquanto as retirava do bolso traseiro do camuflado.
Manuel António, os olhos marejados, uma abraço exaltado.
-Foda-se, escriba. Vai brincar com o caralho!
E foi-se, lesto na procura de uma sombra. Um espaço mais amplo para si e para o seu amor.

03/07/2008

ORGASMOS VIRTUAIS

Olhou demoradamente a sua cara reflectida no espelho e pensou que era um gesto recorrente de todos os que se atribuem importância.
Afastou essa ideia com um gesto, uma palmada na testa e outra, como que a despertar dessa imagem que não se consentia, porque o que ele procurava não era a imagem reflectida no espelho mas uma outra imagem de si, que atravessando os olhos lhe permitia entrar no ser profundo onde tudo se mistura numa azáfama impressionante.
Sorrir-se para si. E gritar, de dentro, como eco dos tempos, que é um homem pleno. Velho mas pleno. Os olhos muito abertos de louco, admirado por se encontrar naquele espaço curto tão profundo. Vou ver o que me quer, ou o que quer de mim.
Sentou-se na velha cadeira rangente do peso súbito que sobre ela se deteve, por momentos absorto, enquanto a máquina se iniciava.
Digitou cautelosamente o email da diva sedutora. Sorrio-se: mariterra@... E escreveu as palavras como se de um poema.
"Não pensei que quisesses que te escrevesse directamente. Apesar do bilhete. Tenho a certeza que és outra pessoa por quem me apaixonei perdidamente, desde o momento em que os nossos olhos se prenderam como amarras. Sou velho, viste-me, e fiquei preso de ti desde o momento em que me apareceste. Fiquei furioso. Não creio que me pudesse apaixonar assim , se eu amo a mulher que viste e que é como se fora eu e eu em ela, apaixonar-me desta maneira por duas pessoas ao mesmo tempo, da mesma forma, com a mesma intensidade!....E à primeira vista.!...Tem sido bonito e muito estimulante, a minha vida . Porque vieste? O que pretendes de mim? Estou confuso e nem sei se fui eu que escrevi o que para trás deixei
Tocou na palavra enviar e encostou-se na cadeira. A velha cadeira. A solidão da cadeira que era ele. A solidão de si, do seu ego em si.
Acendeu um cigarro e aspirou deleitosamente o fumo azulado que se espraiou em nuvem densa e disforme pelo espaço curto do quarto.
A resposta dela não tardou:."Tenho uma carência de amor verdadeiro do tamanho do mundo, tenho falta de estímulos do género que adivinhei no teu olhar, agarro-me a qualquer coisa que mexa, que pulse, é esse o problema, estou a encontrar-me com 35 anos, estou no meio do turbilhão, não tem volta, não sei o que está para vir, mas não vai ser fácil. Também amo o meu marido,."
Foi assim que começaram uma espécie de namoro virtual, na distância das vidas que viviam. Quis acreditar que não estava velho. Mas interrogava-se sobre o porquê de uma mulher ainda jovem se interessar, dizer-se apaixonada pela sua figura de homem. A dúvida se estaria a ser usado em algum artimanha das que ouvia dizer acontecia na Internet.
Que tinha a temer. Não era rico. Não tinha bens. Em frente, até ao limite da razão.
Escreveram email que cresciam em profundidade de paixão. Prometiam-se amor eterno, ainda que virtual. Transcenderam-se de palavras que apelavam à sua interioridade e ao sublime de si enquanto amantes de uma ideia de si. Tiveram arrufos de namorados. Reiniciaram.
Ambos falavam de traição se consumassem ao vivo o fogo que inapelável mente os tomava nas raias da razão. Mas o que diziam, porque na distância, eram apenas flirts de ocasião.
Divertiam-se apenas. Mas era já fogo o que ele sentia com as palavras quentes que lhe iam chegando ânsia que sentia pela chegada dos e-mail. E combinaram amar-se a instantes de email. Ao lado dos corpos dos amores que juraram amar. Separados por uma ínfima parede, do lado de fora dos corpos. Separados do espírito dos corpos. Imersos em absoluta solidão, e tão densos de si.
Não conseguia tirá-la do pensamento, aquela imagem bela, sedutora de mulher jovem que encontrara numa tarde na esplanada onde se espraiava em absurdos de silêncio, e que nos
intervalos dos curtos diálogos com a companheira, mirava ostensivamente, porque se
sentira, também ele, fixado insistentemente por aqueles doces olhos castanhos.
Iniciou o movimento para um novo email, que pretendia libertador da pressão que sentia.
"amo-te tanto querida, queres mesmo que entre em ti pela primeira vez, nós e eu na minha timidez dizendo cona tão boa que me enlevas ao infinito de mim e os meus dedos nas maminhas ferventes os meus lábios nos teus as mãos no teu cuzinho delicioso em afagos excitantes que de ti e de mim nos apagam o ser agora um em um ou um outro. Nós, amor, abraçados e o meu sexo na tua coninha ardente de desejo e eu e tu arfantes possessos, a mente a libertar-se quase, sinto uma força um jacto de esperma e contracções, espasmos que me sugam todo o caralho fremente, o teu útero. é isto o orgasmo, o pleno o absoluto e ficamos exaustos um no outro em êxtase, os meus dedos percorrendo todo o teu corpo. a tua cabeça sobre o meu peito, terna."
E a resposta dela , na volta, no imediato como se houvesse um ponto, uma marcação de tempo a difundir de um e de outro as palavras de excitação, alucinantes de que sensações, que prazeres. Que ampla solidão.
" os olhos brilhantes, sorriso quente, lindo, meu amor agora estou mesmo louca, já não estou em mim, cada vez que leio o que escreveste o meu corpo estremece, é sublime, tu és sublime, meu amante delicioso apetece-me engolir-te, lamber-te, chupar-te o caralho, os tomates, tudo, beber o teu esperma, sentir os espasmos dentro de mim porque enquanto te chupava, roçava a minha cona na tua perna. O Sublime!E beijo-te de seguida, olho para ti meu amor mais sublime e repouso sobre ti até me arreliares outra vez, nem preciso de dizer que te amo tanto , mas digo na mesma...Amo-te muito ". O coração a bater descompassada mente. A mente transbordante da imagem das palavras.Eram as palavras que assumiam o papel onírico da produção de imagens eróticas. Que os alucinava para além da razão, do ser de si, raiando o irracional, o
fantástico absoluto. E os outros de si que dormiam. Alheios a esta euforia megalómana
da existência. Impúdicos. Dolorosamente solitários. Solidão. O que és?
No ecrã, um outro email. Abre o conteúdo, fremente de emoções. Em desvario:
"Estou completamente louca. Diz-me, já te tocaste, tiveste algum orgasmo? Diz-me como estás agora. O que te provoca na prática toda esta nossa troca. Eu estou com a cona a arder, estou completamente encharcada, já me vim tantas vezes. Fala-me de ti. Beijos no meu/teu caralho sublime"
Apenas as breves palavras dos orgasmos. A importância de saber se os tinham tido em simultâneo. Se houvera absoluto, ou se tinham de tentar uma outra vez, ou recorrer à
ajuda de webcams.
Os olhos velhos de ver de tão perto as letras miúdas no ecrã da máquina, esbugalhados de espanto, ou maravilhados com o êxtase possível advindo das palavras. A escrever:
"Imagino que estejas. Foste tão intensa e ardente nos desejos que não podia ser de outro modo meu caralho esteve firme até há bem pouco e estou ensopado em esperma tão docemente por ti provocado. Digo-te que te senti plena em mim, majestosa e criativa nos gestos e nas palavras. Sobretudo quente, eléctrica, a tua cona meu amor, ardente de desejo não só em ela, mas no todo que a satisfaz, como eu queria tê-la. As maminhas, a pele veludo, as tuas nádegas tão formosas, toda tu amor tão belo. Senti intensamente este enlace de cio ardente, as teclas premidas com ansiedade, a mente célere, escrevendo em atropelos. É de loucos, mas denso de sublime amor profundo. Beijo-te a cona ardente para que se acalme e prepare para novo evento e os mamilos que adivinho infinitos de prazer, num absoluto de nós.
Amo-te perdidamente."
Enviou. Estava exausto.