21/04/2008

NOVAS GERAÇÕES-UM EXEMPLO

No Correio da Manhã de Domingo, a noticia: Turma angaria dinheiro para ajudar professor.
É uma noticia que nos alerta para os valores que subsistem. E nos evidencia que nem tudo vai mal no reino da educação.
O professor disponibilizou a viatura para uma prova de aferição de conhecimentos no terreno.
Houve um acidente sem feridos, onde a viatura ficou muito danificada. Provavelmente o arranjo ficou de fora das coberturas de seguro contratadas.
Os alunos, jovens, disponibilizaram-se em angariar fundos para ajudar o professor e é emocionante a descrição dos meios, a criatividade, o empenho das famílias, da comunidade.
Um exemplo a ser divulgado por todos os meios. É possível congregar valores em torno da batalha pela educação. Afinal as novas gerações têm valores. Não são só cabeças ocas e insurrectas .

15/04/2008

A ILHA DA MADEIRA, O SR. JARDIM E NÓS

A Ilha da Madeira é linda. E não consigo dizer mais nada. Há semanas que guardo em rascunho as minhas impressões sobre aquela que foi a primeira Ilha que visitei. Que me deslumbrou. Mas as palavras não saem.
Sinto uma pressão intensa que me incita a dizer que não compreendo, como já no meu tempo de menino se dizia, da Madeira, que era a pérola do Atlântico. E não compreendo depois de ter visitado os Açores.
A dizer que tenho um estigma que se chama Alberto João Jardim, cravado na memória e me impede a progressão das palavras.
De um lado os prepotentes, arrogantes, ao estilo dos governantes, empresários (Sá), os taxistas. No hotel, paguei a conta com um cheque, porque não tinham multibanco ou visa, a um Sábado. Tendo o cheque sido descontado momentos depois. Que estranhas intimidades. A maior livraria do mundo, ou quase. Corredores e andares pejados de livros, em prateleiras, em mesas, em estendais de cordas e presos por alfinetes de roupa. É uma Fundação!...O Bispo do Funchal é parte. Um casal é parte. Os funcionários são parte. Mas, estes últimos recebem como mais valia a formação. Não há livraria no Funchal que não se tenha abastecido de mão de obra na Fundação livraria Esperança.
Nem tudo é negativo.
Num todo não existe o "tudo negativo". Nem no regime do Sr. Jardim, como não no Regime do Sr. . Salazar. É preciso ver o saldo. Não em obra, Não em aparato. Mas na substância do Ser.
No outro, a multidão de assalariados, servidores apáticos, submissos, deixa andar, nada de politica, nem de cultura, humildes, assistindo ás tramóias dos amos e senhores, votando intimidados pela dinâmica da vozearia contra os Continentais, Colonialistas e opressores do bom povo da Madeira .
Seria mais fácil, se se tratasse de um outro país. Um povo oprimido pela virulência dum astuto ditador de fachada democrática. Mas a Madeira ainda faz parte do meu país. O povo da Madeira é solidariamente ressarcido pelo povo do Continente, ainda que pareça não o saber, para que tenha um rumo, uma vida sã e não tenha que andar à bolina dum nauta emplumado e sem classificação.
O povo da Madeira, pode contar com a solidariedade do povo do Continente, na hora em que tomar consciência do seu isolamento e quiser pôr fim ás diatribes do senhor Jardim.
Eu, enquanto membro do povo do Continente, tenho vergonha de ouvir sistematicamente as atoardas do Sr Jardim, contra o povo do Continente, contra os membros do povo da Madeira que se permitem discordar da sua faustosa politica de endividamento.
O Sr. Jardim é um funcionário público, como o Sr.Sócrates , O Sr. Cavaco Silva, ou a Dona Rosa e o Sr. Edmundo da repartição de finanças. Porque estará ele sempre acima da lei, da natural e da institucional?
Sinto vergonha do povo da Madeira, porque o "diz-me com quem andas" fica-lhe mal. Tenho até, muita dificuldade em apresenta-lo a quem quer que seja. E há tanta gente boa na Madeira. Tanta que podia ser um orgulho Nacional

13/04/2008

S.MIGUEL,AÇORES,O SONHO DE ESTAR VIVO-Parte II

A garrafa vazia/de Manuel Maria. A voz rouca, dolente, de Zeca Medeiros, no Cantinho dos Anjos, café rente à rua, na esquina de quem sai do Alcides, onde o Sr. José grava com mestria e paciência Franciscana, o nome de clientes afectos em taças de vinho ou licor, balões de Whisky e os oferece agradecendo a visita . A paixão de ser pessoa.
A decoração a lembrar outros povos, vitórias e derrotas, evidências de culturas, mimos de simpatia Açoriana , num ambiente acolhedor onde bonitas raparigas a sós ou em grupo falam de realidades e de sonhos e soltam gargalhadas diáfanas de alegria esfusiante, construindo certezas no perfume dos aromas.
Que povo é este? Que cruzamento, ou raça pura?
A bela Estela, briosa, de aspecto grave, atento, responsável no atendimento de e sobre cultura e que se diverte à noite em paródias inocentes de procura.
A divina Venilde , linda, o nome a sugerir veleidades de Olimpo, mas terrena, sonhadora e as partidas que a vida lhe pregou. Marco! Como te meteste, meteram nisso? Que tragédia ou ambição te levou ao tráfico, a destruir em lágrimas de sofrimento e dor, os sonhos encantados da mulher que te amava? Do povo que te gerou? As noites pela madrugada na explanação de projectos limpos de droga!...
O Gil do Couto, homem grande na sabedoria humilde sobre a superficialidade enfatuada. A paixão na crença dos milagres do Senhor Santo Cristo. A lisura de uma personalidade sã e conjugativa de amores comuns. O filho Francisco e a pesquisa dos fundos Oceânicos em busca, talvez de Atlântida e Znaida , artesã, o sentido prático da vida, taxativa.
A visita à estufa onde crescem, eu diria milagres gustativos, os saborosos ananases . Abastecer a garrafeira com o licor afrodisíaco do seu néctar.
O dia, onde o Sol e a humidade confraternizam, convida à procura de ambientes mais frescos.
O aroma especifico das infusões naturais. A única plantação em toda a vasta Europa. Os processos manuais de escolha, purificação e embalagem.
A Ribeira Grande. A escavação natural das água vindas da serra em direcção ao mar. O aproveitamento magnifico das margens, convertidas em lugares aprazíveis de lazer e convívio entre povos. As pessoas. Clara, a contagiante melodia das palavras.
E Rabo de Peixe. O lugar maldito, onde a vida se faz ao mar. Tido como perigoso, povoado por inadaptados da comum das gentes da ilha. Bêbados , arruaceiros, oportunistas que obrigam os filhos a não faltar à escola para não lhes cortarem os subsídios estatais, pescadores invejosos, ladrões, piratas. Tudo isto me foi dito. Mas, a avaliar pela obrigação de mandar os filhos à escola, tenho esperança na regeneração.


registed by: Samuel Dabó

S.MIGUEL AÇORES-O SONHO DE ESTAR VIVO-Parte I

O pequeno avião inicia a descida e já se vislumbra a escarpa de rocha , magnífica de força, em cujo topo se situa o aeroporto.
Em baixo o mar ataca a estrutura natural com a doçura das ondas espumando de alegria alvoroçada. O meu peito a transbordar de emoções vividas na Terceira.
A espera pela bagagem, adivinhando originalidades nos outros, a ansiedade daquela jovem, o homem de negócios impaciente, rostos abertos, diálogos leves, olhos brilhantes de vida.
O dia quente e húmido, odores marinhos a requerer a minha capacidade de adaptação. Afinal já estive em África e na Guiné o sol era mais intransigente.
A residencial Alcides, o bife especial duma carne macia e sem igual, o delicioso ananás.
O passeio a pé pelas ruas de pedra preta, reluzente. Rostos amigos de gente anónima que se cruza, que pára para comunicar, sem pressas. Caminhar até ao mar. A Avenida marginal com palmeiras e largo passeio. A baía calma e os barcos acostados no cais. A muralha que defende a cidade e esconde o mar
A visão sublime duma espécie nova de mulher: a mulher de cabelos loiros, tez clara e olhos verdes de um verde irisado de outros verdes, como cristal colorido, esmeralda de veios intrusantes , ou outra preciosidade que não acho na memória. A simbiose entre o mar, o verde das árvores e a riqueza dos templos? Onde andam os pintores?
E ali fiquei, abstraído do todo que me envolvia,, seguindo a imagem delicada e segura em passadas confiantes, qual deusa idolatrada. De uma beleza contagiante de mulher, divinizada por mim, naquele instante. Basbaque continental envolto em perfumes sobrenaturais. Como queria registar a tua imagem em papel ou fita de cinema. Que medo eu tenho de me perder na memória. Hoje aqui ficas, para que conste.
As pessoas de Ponta Delgada, já tinha constatado na Terceira, são de uma afabilidade que ultrapassa a mera educação da hospitalidade. Criámos empatias e intimidades conluiadas na disputa de quem me levava ali ou além. Os lugares imprescindíveis Os almoços, os jantares, as noites em diálogos do saber e da solidão permitida.
Ganhou o Neves da papelaria, tipografia. Portugal aqui, liberto de preconceitos. E seguimos viagem por estradas pitorescas de verdes e encantos. Parámos num miradouro para que eu visse em absoluto na sua magnitude exuberante de beleza natural, As Sete Cidades, o contraste entre o azul e o verde das lagoas, a pequena cidade para lá do monte junto ao mar.
Apanhar umas quantas pedra ume que abundam nas margens, como ovos deixados ao abandono. Aspirar os aromas, a sensação de liquidez ambiental e voltar, rumo à cidade.
Passear à noite, na marginal, as luzes lá à frente de outra cidade, Vila Franca e deglutir-me na Sol mar com as queijadas da vila. Junto ao clube naval, num terreiro em frente, jovens estudantes divertem-se nos festejos do inicio do ano académico. Gritos e cantorias, o som das guitarras na noite calma de S.Miguel .
O pequeno almoço, o leite, o queijo, os Açores a entrarem nas minhas entranhas, a adoptarem-me.
Admirar a beleza da igreja matriz. Sentir a religiosidade de um povo aqui cercado e com uma história de abandono por séculos de inércia. Visitar o Santuário do Senhor Santo Cristo. A imagem enclausurada atrás das grades, ao fundo da sala, majestosa , mítica de olhos grandes e comunicantes, com penitentes ajoelhados, gente que se entrega na crença da salvação ou que pede perdão por actos irreflectidos.
Almoçar em Lagoa num restaurante especializado em peixe. Os barcos em terra para arranjos. Pescadores que amanham o peixe junto à muralha. O complexo de piscinas naturais.
A Lagoa do Fogo é um assombro de emoção. A neblina que cobre a paisagem paradisíaca de vegetação luxuriante e que de quando em quando se entreabre movida por aragens frias e nos permite desvendar a cratera coberta de água estanhada, quieta, escondida.
O Zé Carlos da livraria foi o anfitrião deste desvendar de sonhos e, no regresso, mostrou-me outras pequenas delicias, como praias de areia e pedra negra com recantos únicos. Mas é muita emoção acumulada numa só viagem. Ainda não me tinha refeito do deslumbramento causado pela Terceira.


registed by: Samuel Dabó

ÁS MULHERES-AOS HOMENS-SOBRE O CANCRO DA MAMA

Há doenças que nos afectam, que nos deprimem, causam dor e morte de gente que faz falta a quem sente a falta, destaco hoje, agora, o cancro da mama, porque nem sempre mata fisicamente, mas destrói imagens coloridas, arruína projectos, desfaz amores que pareciam consolidados.
Os seios são, do corpo feminino, o órgão mais cobiçado e o mais maltratado, pelo parceiro masculino nos jogos ditos de amor.
Alguns homens gostam de peitos fartos, duros, outros gostam de seios mais equilibrados, mas querem seios pertinentes, para saciarem ditos prazeres ou angústias, a falta ou o exceso , no primeiro contacto com o peito materno Frustrações.
Na relação sexual, servem-se dos seios selvaticamente, apertam, sugam, ferem. E pretendem que estejam sempre duros, proeminentes, à disposição da sua gula libidinosa.
As mulheres fazem o que podem para os manter altivos. Sabem que é um ponto importante de dar e receber prazer. Têm filhos. Têm dores. Mas insistem em tudo fazer para agradar e ser agradadas. Em geral, as mulheres têm um orgulho desmedido nos seus seios. Até usam uma peça especifica para os manter suficientemente elevados, como faróis sedutores que ostentam e prometem os restantes atributos não visíveis .
E de repente, por má formação congénita, por tanto terem sido maltratados nos momentos de paixão, por força dos laços genéticos, de per si ou no todo, eis que o impensável acontece. O bicho temível , corrosivo, que só sabíamos nos outros, que não foi detectado a tempo , ou que foi, mas era do tipo expansivo, intratável, toma conta, sem apelo, do seio da mulher.
A mulher que se vê obrigada a suprimir um dos seios ou os dois, sofre um rude golpe a todos os níveis sensoriais do seu ser e ainda constata , muitas vezes, que não passava de um objecto de prazer para o seu par. Quantas vezes abandonada quando mais precisava.
A perda deste símbolo da sua feminilidade e maternidade, causa distúrbios insanáveis que devem obter de nós o melhor da nossa humanidade. E muitas vezes são abruptamente excluídas e sofrem em silêncio, acarinhadas por uma palavra amiga ou a sós, no silêncio de todos os silêncios sem resposta.
O amor, a amizade, a ternura, devem prevalecer sobre a ablação. Sorrir , confiar na grandeza da sua condição de mulher geradora da vida.
Que sei eu disto? Deste drama?
Quíz apenas interromper silêncios. Dizer que estamos aqui e não te excluímos. E embora talvez tarde, agarra a nossa mão e sorri.

S.MIGUEL,AÇORES - AS FURNAS

"Com um brilhozinho nos olhos" (Sérgio Godinho), a subir a montanha por estradas sinuosas de bom piso e vegetação rica e variada, a ver o mar de um e outro lado da Ilha, a saborear aromas e sabores que nos entram em catadupa a cada inalação.
As furnas, expelindo vapores diáfanos e sugerindo imagens grotescas de vultos que se movem do outro lado de nós, em frente. O cheiro a enxofre . A água azeda que escorre da bica que bebemos para curar enredos e invejas trazidas de longe. O borbulhar da água fervente brotando do chão e elevando-se em espessa névoa de que nos deixamos envolver em brincadeiras gaiatas. A caldeira num ruído cavo de agonia, um estertor de vida a estremecer o chão que pisamos. Água e lama fervem e extravasam do interior da terra e é como um prato de farinha no clímax da cozedura. A sensação estranha de pensar que pisamos uma camada fina de solo, pronta a estalar a todo o momento, por um qualquer fenómeno que não conhecemos nem dominamos.
Com os sentidos em êxtase continuo, desço à lagoa de águas mansas em cujas margens escavaram, aqui e ali, buracos onde a terra treme e expele vapores em surdina, que as pessoas utilizam para a confecção do famoso cosido da furnas.
O cozido das Furnas é um banquete de deuses, confeccionado ao vapor, deixando entranhar um leve odor a enxofre que o torna um manjar a repetir. O sabor único das carnes, o gosto dos legumes e dos enchidos, a envolvência da paisagem.
Um passeio digestivo pelo parque Terra Nostra , era o convite, em jeito desportivo, para obstar a uma qualquer indigestão, não sem antes beber um pouco mais de água azeda que, dizem, ajuda a digerir tão farto repasto.
Pelo caminho, Zé Carlos foi-me dizendo que as Ilhas que compõem o Arquipélago são como bairros de Lisboa, ciosas das suas belezas particulares e exigentes na implementação de estruturas, rivalizando umas com as outras e todas com S.Miguel .
- Nós, em Ponta delgada dizemos que os Terceirenses são como os Alentejanos. São indolentes. Só querem festas e mordomias.
Os Terceirenses dizem que em S.Miguel os homens têm a ponta delgada.
E eu a lamentar não ter visitado o Algar do Carvão, nem ter visto as célebres corridas de touro à corda na Terceira e a não ter oportunidade de sentir o fervor e a religiosidade destas gentes nas festas do Senhor Santo Cristo do Milagres, ou as Festas do Espírito Santo nos Açores: factos que me ajudariam, por certo, a entender este espírito acolhedor e de grande humanidade.
Chegámos à porta do Parque Terra Nostra , cuja visita é paga. Estranhei. Pagar para visitar um parque?


registed by: Samuel Dabó

12/04/2008

AS MULHERES LOIRAS DE OLHOS VERDES DOS AÇORES

Talvez devesse dizer de S. Miguel, porque na Terceira não as vi, e nas restantes não tive a fortuna de conhecer ainda.
De entre as brumas da Lagoa do Fogo, da doce beleza das Sete Cidades, a majestade da ribeira atravessando a cidade do mesmo nome, passando ao lado da ovelha ranhosa, rabo de peixe, a destoar enquanto lugar de fama duvidosa, dum todo quase sem mácula, dos calafrios emotivos ao respirar as entranhas da terra nas caldeiras das furnas, o cozido, o cheiro e sabor a enxofre, até à indescritível sedução do Nordeste, o recorte da costa a pique, as pequenas cascatas nas montanhas verdes de vida, sobressai a mulher loira de olhos verdes e tez clara.
O loiro dos seus cabelos, escorridos sobre os ombros, ondulantes ao vento, não é oxigenado nem platinado, nem louro como eu conhecia, é um loiro diferente e o verde dos olhos não são enganos, como diz o povo, é um verde esmeralda, ou outra preciosidade por mim desconhecida, raiado de outros verdes e denotam esperança.
Observo a silhueta que se aproxima, com uma fixação quase deselegante, desvio-me para ver o perfil da direita, dou uns passos à frente e volto-me, como que alheado, para mirar o perfil da esquerda, e uma vez mais de frente, apanho os olhos nos meus olhos, sorrio e encolho os ombros a disfarçar, e fico ali, a envolver-me, à beira do santuário do Senhor Santo Cristo, a interiorizar uma ideia quase absoluta da beleza feminina.


registed by: Samuel Dabó

S.MIGUEL, AÇORES - TERRA NOSTRA

A entrada no parque Jardim Terra Nostra mergulha-me em silêncios profundos à medida que vou avançando e descobrindo imagens absurdas de tamanha beleza botânica, de recantos criados por artistas de outros mundos mais perfeitos.
O Sol no zénite a refulgir raios cintilantes através das folhas de árvores centenárias, altivas e lindas de grande e pequeno porte. Pássaros que cruzam a densidade do ar em brincadeiras atrevidas, poisando nas ramadas, ou abeirando-se dos lagos e sobre extensas camadas de nenúfares , saltitarem de uma em outra e chapinhando a água morna e quieta.
As flores de cores absolutas, exóticas, múltiplas de género e efeitos sibilinos, transformando os nossos olhos em mirabolantes rodas giratórias.
Subimos carreiros, contornamos lagos e riachos, e voltamos a percorrer, como se de um labirinto que não quiséssemos encontrar o fio.
Os meus olhos emotivos, a voz abafada, tímida , afónica, contrastando com a grandeza que sinto de fazer parte, por um momento, de tão Edílica paisagem.
No cimo de uma elevação, por entre a folhagem de palmeiras e outras maravilhas arborícolas cujos nomes não registei, o edifício adaptado a hotel de grande magnitude arquitectónica a lembrar um conto de fadas, infância, lucidez adormecida. Só pode ser um sonho..
A piscina de águas lamacentas, sulfurosas, onde adultos e crianças se banqueteiam em movimentos ablativos da inércia citadina.
É um ambiente indescritível . Não é possível traduzir em palavras a cor e o enquadramento que os artistas se permitiram para criar uma atmosfera única de emoções sublimes e apaziguadoras.
Venham ver!.
Saímos pela mesma porta e lembrei-me, de repente , que tinha estranhado a entrada paga!... e sorri de felicidade.


registed by: Samuel Dabó

S.MIGUEL, AÇORES - O NORDESTE

Hoje o Sol pregou-me uma partida de menino mimado e irresponsável. Enredou-se em neblinas maviosas e pertinentes, deixando que miríades de lágrimas de outras tantas saudades ululantes, se abatessem nos corpos desafectados de protecção adequada.
As Queijadas da Vila, após o pequeno almoço madrugador. O café, Delta, claro, a despertar renovadas atenções. a Afinar sensibilidades parecendo exaustas, mas que renasciam, qual Fénix, temperadas pela visão dos fieis que se dirigiam à primeira missa da manhã, indiferentes à morrinha, de rostos abertos e confiantes.
Fiz a viagem de Ponta Delgada ao Nordeste na carreira, a primeira da manhã percorrendo a estrada pouco movimentada e readmirando paisagens e recortes, a fixar imagens e momentos, as vacas nos pastos, as carrinhas que transportam o leite, pequenas povoações e gente que entra, gente que sai, as crianças, os jovens a caminho da escola e eu a lembrar-me de mim.
Tinham-me falado do Nordeste como uma miragem num deserto rodeado de oásicos sistemas floridos e verdejantes, numa abordagem surrealista da visão, de quem chega e se depara, com um quadro pintado em fervorosos momentos de arrebatação criadora.
A povoação de casas típicas , arejadas, a casa museu João de Melo, o jardim, o café onde me resguardo e abasteço de iguarias. O miradouro sobre o mar, a rocha a pique, o verde a envolver as casa em cima, num clima de silêncios, voltar ao miradouro, e novamente o mar estanhado, verde chumbo, denso na voragem da maré, a igreja.
Um táxi, carro de aluguer, parado num lugar reservado. Procuro com os olhos o motorista e não vejo ninguém, até que ouço uma voz, vinda de onde?
-Bom dia, precisa que o leve.
Olhei a figura, magro, rosto bonançoso, olhos que reflectem amor, lealdade a procurar saber ao que vinha. Como te chamas, amigo?
Disse-lhe ao que vinha. Desvendar a meus olhos o infinitamente belo. A pretensa miragem. A descoberta de mais uma das maravilhas açorianas, mas que o tempo, chuviscoso , não estava a colaborar.
Os olhos dele iluminaram-se num clarão de empatia a mandar-me entrar.
- A viagem até à cidade de Povoação são vinte euros, o resto é por minha conta.
Homem grande e destemido, homem bom. Como te atreves a acreditar que acertaste em tomar-me como amigo?
Pelo caminho, também eu confiante, sem saber das rotas, adivinhando boas intenções, foi-me falando de si, dos tempos difíceis da emigração na América, o trabalho quase esforçado para amealhar o suficiente e voltar. Na que ele não era dos que se bastavam com dinheiro. Ali é que era a sua paixão e comprara o táxi, algum dinheiro de parte, uma vida sonhada nas refegas erradicas, naquele deserto apaixonante, apaixonado.
-Olhe, ali, aquelas vivendas no alto da montanha, são de pessoas importantes do Continente, casas de férias.
E eu a imaginar, para mim próprio, os senhores importantes do Continente a julgarem-te parolo, imbecil, por teres trocado a vida faustosa das Américas por um lugar pasmado de beleza. E a contextualizar-te comigo.
Parou o táxi junto a um jardim que abarcava uma vasta área em planalto, delineado de formas graciosas, ramadas em túnel, palmeiras anãs , flores, o vermelho, o azul, o rosa, o lilás , o amarelo e os verdes, numa deambulação de cores e odores. Numa simbiose de deuses tocando trombetas melodiosas e eis a placa de homenagem ao homem e à beleza reunida num feixe, com o mar por fundo, escarpa a pique, o poema:
Toda a beleza é beleza
Para quem na beleza crê
A beleza é só certeza
Conforme a vista que a vê

Silêncio de calma
Mudez carinhosa
Afagas muralha
Na noite nervosa

Silêncio que alentas
Meu sonho desfeito
Ai como atormentas
O mal do meu peito

E quando te calas
Calado me dizes
Que as horas sem falas
São horas felizes

De João Teixeira de Medeiros

Embevecido por tanta beleza, recolho-me junto ao murete que limita a queda abrupta e desvenda plena de epopeica visão o mar imenso, ondulante e a esfregar-se, preguiçoso,na base das rochas que já foram suas amantes e agora, só enamoradas.
O homem do táxi e eu, em silêncio, ambos sabendo que amávamos a mesma substância mítica e sem ciúmes nem desavenças fruíamos desse amor, partilhando emoções vindas do sonho de sermos homens.

registed by: Samuel Dabó

09/04/2008

DEIXEM VIVER ESMERALDA

Um homem em uma relação fortuita com uma mulher. Da relação nasce uma menina. A mãe diz-lhe que ele é o pai. Ele duvida e não assume a paternidade. A menina nasce e a mãe, considerando que não tem condições para a criar, entrega-a, à revelia do direito, para adopção.
A menina tem cinco anos hoje. O pai biológico que entretanto fez testes de paternidades viu confirmada a génese e quer a menina de volta, contra a opinião de psicólogos, sociólogos , pedopediatras e os pais adoptivos.
O caso é levado aos tribunais. Os juízes não se entendem. Ora ordenam a entrega, ora favorecem compassos de espera. A última página, à porta do tribunal, com a criança a recusar sair do carro e alguém abalizado a instigar o pai adoptivo para que tomasse uma atitude de força contra a criança.
Juízes, advogados, gente a que nos habituámos o devido respeito.
Não há quem pare esta tragédia que se abateu sobre uma criança que não pediu a ninguém para vir?
A declaração universal dos direitos da criança não é suficiente para acabar com este suplicio?
Não será tempo de fazermos ouvir o nosso : Nãããããããããoooooooooo !!!!!!!!!!!!, em uníssono , de Norte a Sul, para que os hipócritas do direito deixem esta criança em paz?
Não basta perguntar à criança. Onde , com quem queres ficar?
Vamos, nós gente que habitamos este país, que pagamos impostos directos e indirectos, permitir que uma criança de cinco anos seja disputada na praça pública, nas salas frias dos tribunais, despojada da sua personalidade, interditada de amar a quem ama e de querer a quem quer?
Estendo-te a minha mão, Esmeralda, temendo que não vá a tempo de a poderes agarrar. E apelo às pessoas, chamadas povo, do meu país, e aos que têm a responsabilidade pelo nosso bem estar, para que termine esta chacina da tua identidade.

06/04/2008

VIOLENCIA INFANTIL!!!!!

Há dias, num infantário, jardim de infância, na vila onde eu moro, assisti à luta de um menino de 4 anos com a sua educadora.
O menino debatia-se, perante a sua própria impotência, e gritava o mais alto que lho permitiam os seu pulmões ainda viçosos.
-Larga a minha mão! Larga a mão! e chorava.
Indiferente, insensível ao choro, quase o arrastando, a educadora lá ia dizendo.
-Tens que vir! Tens que vir!.
-E o menino, debatendo-se ( não, não vi pontapés), fincando os pés, resistindo.
-Larga a minha mão!
Juro que é verdade. Eu vi!
Não uso telemóvel com câmara. Mas, por um momento pensei chamar a policia e ser testemunha do ataque violenta dum menino à sua educadora. Que pais? Que País. Aonde vamos parar.
Mas não. Pus-me a pensar. É pura coincidência!

04/04/2008

À Dra PAULA TEIXEIRA DA CRUZ

A dra. Paula Teixeira da Cruz, na coluna pessoal do Correio da manhã de ontem, sobre o caso da aluna, a professora e o telemovel, consensual, plena de humanidade e racionalidade.

As minhas felicitações pela coragem de desmistificar e educar consciências.